PF aponta que Abin atrapalhou investigação contra Jair Renan Bolsonaro

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PF aponta que Abin atrapalhou investigação contra Jair Renan Bolsonaro

Inteligência alegou que ação visava evitar 'riscos à imagem'

Por meio de um relatório, a Polícia Federal (PF) apontou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que é comandada pelo general Augusto Heleno, atrapalhou o andamento de uma investigação sobre um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, Jair Renan.

Conforme apuração do jornal O Globo, a interferência foi descoberta após um agente da PF cedido para a Abin ser flagrado em uma operação e admitir, em depoimento, ter recebido a missão de buscar informações a respeito de um caso relacionado a Jair Renan que estava sob apuração em inquérito da PF. Segundo o espião, o objetivo de sua missão era prevenir "riscos à imagem" de Bolsonaro.

De acordo com a publicação, a operação da Abin se deu em 16 de março de 2021, quatro dias após o filho do presidente e seu preparador físico Allan Lucena virarem alvos de investigação da PF, sob suspeita de tráfico de influência.

Na ocasião, Lucena notou que era seguido por um veículo que entrou na garagem de seu prédio e acionou a Polícia Militar. Ao ser abordado, o condutor se identificou como Luiz Felipe Barros Felix, agente da PF cedido para o órgão de inteligência. Segundo o jornal, o episódio de espionagem foi registrado em boletim de ocorrência.

Ainda conforme a publicação, ao ser convocado pela PF para prestar esclarecimentos, o espião relatou que trabalhava na Abin vinculado diretamente a Alexandre Ramagem, que na época estava à frente da agência e era homem de confiança do presidente.

Félix confirmou ter recebido a missão de um auxiliar de Ramagen, com quem trabalhou junto na campanha presidencial de 2018, que elegeu Bolsonaro. Segundo ele, o objetivo era buscar informações sobre o paradeiro de um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil que foi doado a Jair Renan e o personal trainer por um empresário interessado em contratos com o governo federal.

"O objetivo era saber quem estava utilizando o veículo", afirmou Felix, em depoimento. "O objeto de conhecimento era para saber se os informes que pudessem trazer risco à imagem ou à integridade física do presidente eram verdadeiros ou não", acrescentou, sem dar mais detalhes da operação. O espião foi desligado da Abin 13 dias após ter sido descoberto em missão.

Também ouvido pela PF, Allan Lucena disse ter desistido de dar seguimento ao boletim de ocorrência por temer retaliações e afirmou ter se sentido ameaçado. Ele e Renan são investigados por intermediar, com ajuda de um assessor de Bolsonaro, uma reunião entre o empresário com o ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional.

Diante de análise do caso, a Polícia Federal concluiu em relatório que a atuação da Abin se tratou de "interferência nas investigações", destacando que após a operação ser descoberta, o personal trainer decidiu devolver o carro.

"A referida diligência, por lógica, atrapalhou as investigações em andamento posto que mudou o estado de ânimo do investigado, bem como estranhamente, após a ampla divulgação na mídia, foi noticiado, também, que o sr. Allan Lucena teria 'devolvido' veículo supostamente entregue para o sr. Renan Bolsonaro", diz trecho do documento policial enviado à 10ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal no fim do ano passado, no qual a PF solicitou prorrogação do inquérito.

Procurada pelo jornal, a Abin disse não ter documentos oficiais sobre a operação. "Não há registro da referida ação nos sistemas da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). O agente de Polícia Federal Luiz Felipe Barros Felix não faz parte dos quadros da ABIN desde 29 de março de 2021", diz nota.

Luiz Felipe Barros Felix, Alexandre Ramagem e Allan Lucena não quiseram se pronunciar. O advogado de Jair Renan e de Bolsonaro afirmou que a atuação da Abin não teve relação com a Presidência da República nem atrapalhou a investigação Segundo Frederick Wassef, o caso é um "fato isolado" de um "indivíduo que se encontrava ali por conta própria".

"Quando acompanhei meu cliente na Polícia Federal, ficou muito claro que Jair Renan Bolsonaro jamais participou nem praticou qualquer ato direto ou indireto para solicitar qualquer reunião junto ao governo federal. Isso simplesmente não existe", disse o advogado. 

 

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Sábado, 23 Novembro 2024

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