Pacheco diz que tema das urnas não admite mais discussão e Lira silencia
Bolsonaro reuniu dezenas de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada
Repetindo um script tradicional, o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), criticou nesta segunda-feira (18) as declarações do presidente Jair Bolsonaro (PL) que contestam a lisura do processo eleitoral do país, enquanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado do mandatário, silenciou sobre os ataques.
Bolsonaro reuniu nesta segunda dezenas de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada para repetir teorias da conspiração sobre urnas eletrônicas, desacreditar o sistema eleitoral e atacar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Em mais de um momento, Bolsonaro tentou desacreditar os ministros, relacionando especialmente o presidente do TSE, Edson Fachin, e o ex-presidente da corte Luís Roberto Barroso ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em resposta, Pacheco emitiu nota em que defendeu o contraditório e divergências em uma democracia, mas ressaltou haver "obviedades e questões superadas, inclusive já assimiladas pela sociedade brasileira, que não mais admitem discussão."
"A segurança das urnas eletrônicas e a lisura do processo eleitoral não podem mais ser colocadas em dúvida. Não há justa causa e razão para isso. Esses questionamentos são ruins para o Brasil sob todos os aspectos", afirmou.
"O Congresso Nacional, cuja composição foi eleita pelo atual e moderno sistema eleitoral, tem obrigação de afirmar à população que as urnas eletrônicas darão ao país o resultado fiel da vontade do povo, seja qual for", complementou.
Lira, aliado de Bolsonaro, não se manifestou sobre os ataques feitos pelo presidente durante a reunião com os embaixadores.
Presidentes de partidos, por outro lado, reagiram às declarações de Bolsonaro. Para Carlos Lupi, do PDT, "é o Bolsonaro de sempre". "Prevendo a derrota, quer melar a eleição", complementou. Apesar disso, ele não vê risco à disputa de outubro. "Ele [Bolsonaro] não tem legitimidade para isso."
Juliano Medeiros, presidente do PSOL, também rebateu o presidente. "Ao questionar o sistema pelo qual foi eleito, Bolsonaro questiona a democracia brasileira e enfraquece a imagem do país junto aos representantes estrangeiros no país" disse. "É um desserviço, motivado por um cálculo eleitoral estúpido que só amplia o desgaste do Brasil lá fora."
Adversários de Bolsonaro na disputa de outubro repercutiram os ataques do presidente. Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, afirmou que, depois "do horrendo espetáculo promovido, hoje, por Bolsonaro, ele não pode ser mais presidente de uma das maiores democracias do mundo ou o Brasil não pode mais se dizer integrante do grupo de países democráticos."
"Nunca, em toda a história moderna, o presidente de um importante país democrático convocou o corpo diplomático para proferir ameaças contra a democracia e desfilar mentiras tentando atingir o Poder Judiciário e o sistema eleitoral", disse.
Ciro acusou Bolsonaro de cometer crimes de responsabilidade e defendeu o impeachment do presidente, mas admitiu se tratar de uma "tarefa delicada" pelo fato de a Câmara ser presidida por Arthur Lira, aliado do mandatário.
Simone Tebet (MDB), por sua vez, afirmou que "já passou dos limites a coleção de ataques à democracia que o presidente da República acumula."
"Desta vez, usando instrumentos oficiais, dentro do Palácio da Alvorada, faz o Brasil passar vergonha diante de embaixadores dos principais países do mundo, ao tentar desacreditar o sistema eleitoral brasileiro, Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)."
Para o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), Bolsonaro tenta repetir o roteiro de Donald Trump nos Estados Unidos.
"Aconteceu nos EUA com o Trump e está acontecendo aqui. [A estratégia] foi desacreditar o resultado eleitoral para a população para justificar a invasão ao capitólio. E o Bolsonaro está preparando isso [tentativas de anular o resultado das eleições] desde antes", diz Rocha.
Apesar da participação de Ciro Nogueira (Casa Civil) e do general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro que deve ser candidato vice do presidente, integrantes da campanha de Bolsonaro tentaram marcar distância da reunião.
Nos bastidores, auxiliares políticos do presidente disseram que não participaram da ideia nem da organização e também não assistiram ao encontro do mandatário com embaixadores.
Dizem ainda que Bolsonaro já foi alertado por aliados próximos, entre eles estaria seu próprio filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL), de que o discurso crítico às urnas eletrônicas não agrega votos e, pelo contrário, o faz perder apoios.
Membros do núcleo duro da campanha reclamam que o presidente insiste em questionar a lisura das eleições em um momento em que deveria propagar pautas positivas e reforçar feitos do seu governo.
A hora é de trabalhar para conseguir votos, já que o presidente está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o discurso golpista só atrapalha, dizem aliados de Bolsonaro.
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