Dia Mundial do Combate à AIDS: 8 novidades da ciência
2021 marca os 40 anos da descoberta do primeiro paciente infectado
Nesta quarta-feira (1), é celebrado o Dia Mundial de Combate à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), causada pelo HIV. Em especial, 2021 marca os 40 anos da descoberta do primeiro paciente infectado por este vírus no mundo e, desde então, muitas pesquisas científicas buscaram formas de controlar o agente infeccioso e colocar um fim nesta pandemia — muito mais silenciosa do que a da covid-19.
Segundo levantamento da UNAIDS (programa das Nações Unidas), 37,6 milhões de pessoas vivem com HIV no mundo. Em 2020, 73% desse grupo tinha acesso ao tratamento antiviral, o que representa 27,4 milhões de pessoas. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que aproximadamente 936 mil pessoas vivem com HIV.
Para quem teve acesso ao diagnóstico — sendo a testagem e o acompanhamento médico partes fundamentais na luta contra a doença —, a ciência traz novidades animadoras. Hoje, os tratamentos disponíveis garantem a qualidade de vida, mas ainda precisam ser ampliados para todos.
Confira 8 descobertas, estudos científicos ou iniciativas que podem revolucionar o tratamento contra o HIV para milhões de pessoas que convivem com o vírus em todo o mundo:
1. Vacina em testes no Brasil
Para prevenir novas infecções do HIV, pesquisadores buscam desenvolver, há anos, uma vacina eficaz e segura contra o vírus da Aids. Com participação de cientistas e voluntários brasileiros, o estudo Mosaico procura demonstrar a eficácia de um imunizante contra a doença em testes de Fase 3 — a terceira e última etapa antes da aprovação para o uso em massa.
Para desencadear a proteção, a potencial vacinal usa uma proteína encontrada na membrana do vírus, a GP140. No entanto, o imunizante busca ativar o sistema imunológico contra diferentes tipos desta proteína, o que implica na proteção contra alguns subtipos do vírus — tal como os coronavírus, estes agentes infecciosos também mutam e acumulam variações. A fórmula aproveita um vetor viral para transmitir as informações ao organismo.
No mundo, este estudo da vacina de 6 doses contra o HIV deve englobar cerca de 3,8 mil voluntários com algum grau de vulnerabilidade para o vírus. No caso brasileiro, a Casa da Pesquisa, vinculada ao CRT - Centro de Referência e Treinamento de São Paulo DST/AIDS, é um dos centros incluídos.
2. Outro imunizante, mas com mRNA
Desenvolvedora de uma vacina contra a covid-19, a farmacêutica Moderna realiza testes de Fase 1 com duas fórmulas para a prevenção do HIV, nos EUA. O imunizante foi desenhado com a tecnologia do mRNA (RNA mensageiro). Esta é a mesma tecnologia adotada na fórmula da empresa contra o coronavírus.
Em ambas as vacinas, o imunizante da Moderna carrega fragmentos de mRNA que entram nas células humanas e, dentro delas, fornece uma espécie de receita (código) para serem produzidos pequenos pedaços das mesmas proteínas que ficam no exterior do vírus. No organismo, as proteínas produzidas funcionam como um teste para o sistema imunológico reconhecer o coronavírus SARS-CoV-2 ou o HIV e, assim, desencadeiam uma resposta imunológica contra o agente infeccioso.
3. CRISPR contra o HIV
Nos EUA, a empresa Excision BioTherapeutics testa uma terapia genética, a EBT-101, que pode representar a cura funcional contra o vírus da Aids, ou seja, deve impedir a replicação do HIV no organismo, mas não representa o fim da infecção. Os testes pré-clínicos (em modelos animais) apresentaram bons resultados.
Agora, os pesquisadores testam, em estudos clínicos de Fase 1/2, o tratamento inovador que envolve a edição de genes através da técnica CRISPR. É como se a terapia usasse uma "tesoura molecular" para cortar parte do HIV presente nas células humanas infectadas.
4. Remédio aprovado pela Anvisa, o Dovato
Em um único comprimido, o medicamento Dovato combina duas diferentes substâncias — os antivirais lamivudina e dolutegravir sódico — e teve o seu uso aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em novembro deste ano.
Desenvolvido pela companhia ViiV Healthcare — parte da farmacêutica britânica GSK —, o novo remédio reduz a quantidade de antirretrovirais usados pelos pacientes por possuir apenas duas medicações. Mesmo com "menos remédios", a fórmula mantém a eficácia do tratamento igual a dos regimes tradicionais. Em outras palavras, simplifica o combate ao HIV.
5. Medicamento injetável
Até aqui, os remédios demandam o uso contínuo e diário contra o HIV, mas o departamento de saúde da Inglaterra — National Institute for Health and Care Excellence — aprovou um tratamento injetável de longa duração destinado a combater o vírus da Aids. Nesse caso, o paciente pode "esquecer" as pílulas diárias, o que melhora substancialmente a sua qualidade de vida.
O novo tratamento mistura dos remédios: o cabotegravir — fabricado pela ViiV Healthcare — e a rilpivirina — fabricada pela Janssen. A cada dois meses, o paciente deve receber duas injeções para manter a proteção contra o HIV.
Vale destacar que a nova proposta de tratamento só é possível para pacientes que já atingiram níveis indetectáveis de vírus no sangue. No total, serão apenas seis rodadas de medicação por ano.
6. PrEP e PeP
Não são tão novos, mas a existência dos dois tratamentos que podem impedir que a infecção do HIV se instale em um organismo ainda é desconhecida por muitos. Aqui, estamos falando da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e da Profilaxia Pós-Exposição (PEP). Ambas estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
A PEP é um tratamento com antiviral prescrito para quem um possível contato com o HIV, como em casos de violência sexual, relação sexual desprotegida (sem o uso de preservativo ou com rompimento dele) e acidente ocupacional. O uso da medicação precisa começar em até 72h do incidente e deve se prolongar por 28 dias.
Com objetivo divergente, a PrEP é o uso dos medicamentos antirretrovirais antes da exposição ao HIV, buscando reduzir qualquer probabilidade de infecção. O uso é contínuo e é indicado apenas para indivíduos que tenham alto risco de contrair o vírus da Aids, como trabalhadores do sexo.
7. "Curas" do vírus da Aids são relatadas
Contrariando os padrões da infecção pelo HIV no organismo humano, alguns raros indivíduos conseguiram controlar — e, muito possivelmente, curar — a doença de forma espontânea. Em comum, são considerados controladores de elite por causa da eficiência de seus sistemas imunológicos. Atualmente, pesquisadores discutem se estas pessoas podem ter eliminado também o reservatório natural de HIV do corpo, o que os cientistas chamam de cura esterilizante.
Por enquanto, são conhecidas duas pessoas do tipo: a paciente Esperança — o nome é uma homenagem à cidade da Argentina, onde a mulher mora — e a paciente São Francisco — a outra pessoa a se curar espontaneamente do vírus da Aids, conhecida como Loreen Willenberg.
Além das duas pacientes, alguns casos de "cura" aconteceram após um transplante de medula óssea, como os pacientes Berlim e Londres. Estas exceções costumam trazer novos insights para os pesquisadores controlarem melhor a doença.
8. Menos preconceito, mais qualidade de vida
De forma geral, todos os medicamentos — desenvolvidos nos 40 anos de história do vírus — permitiram que as pessoas ganhassem cada vez mais qualidade de vida. Por exemplo, a Aids já foi considerada uma sentença de morte, mas, hoje em dia, nem mesmo o termo "sobrevida" caiu em desuso para se referir a expectativa de vida dessas pessoas.
Afinal, a medicina consegue impedir que a imunodeficiência atinja níveis críticos, que gerem sintomas e impliquem na perda da qualidade de vida. Inclusive, pacientes que seguem à risca as prescrições médicas diminuem sua carga viral. Quando a carga se torna indetectável, o indivíduo perde a capacidade de transmitir o vírus.
Em paralelo, muitos tabus e preconceitos da sociedade com a doença foram quebrados, mesmo que ainda haja muito a ser feito. No combate global à doença, ainda é necessário ampliar o acesso aos tratamentos contra o HIV e é preciso garantir que o maior número de pessoas seja testado, o que pode quebrar a cadeia da infecção em todo o mundo.
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