Justiça do DF rejeita sentença que livrou Flávio Bolsonaro em caso de mansão milionária
Os desembargadores determinaram que senador apresente os documentos usados
Desembargadores do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) derrubaram, na última quarta-feira (22), uma decisão da primeira instância que livrou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso da compra da mansão de R$ 6 milhões no Lago Sul, bairro nobre de Brasília.
A compra do imóvel foi possível graças a um empréstimo de R$ 3,1 milhões obtido por Flávio no Banco de Brasília (BRB). Os desembargadores da 4ª Turma Cível do TJDFT determinaram, ainda, que a Justiça peça ao filho 01 do ex-presidente Jair Bolsonaro os documentos usados por ele para comprovar a renda ao obter o empréstimo.
Na prática, a decisão representa a retomada das investigações sobre o caso da mansão. O acórdão dos desembargadores veio após recurso da deputada federal Erika Kokay (PT-DF) contra a decisão da primeira instância do TJ, que arquivou a ação popular movida por ela contra Flávio e o BRB. Na ação, Kokay alega que a renda de Flávio e da esposa, Fernanda, de cerca de R$ 36 mil, não seria suficiente para obter o empréstimo de R$ 3,1 milhões. Segundo simulador do próprio banco, as parcelas mensais numa operação deste tipo ficariam em cerca de R$ 18 mil, cerca de metade da renda do casal.
O simulador do BRB também informava, à época, que a renda mínima para este tipo de operação seria de R$ 46,8 mil - mais do que Flávio poderia comprovar na ocasião. Em resposta, Flávio disse que sua renda não consistia apenas no salário de R$ 24 mil líquidos como congressista, uma vez que atuava também "como advogado, empresário e empreendedor, por muitos anos". A defesa do senador também disse à época que sua esposa se dedicava "ao exercício da odontologia há bastante tempo". Na ação popular, a deputada pedia a anulação do empréstimo feito pelo BRB ao senador. A reportagem procurou Flávio Bolsonaro nesta segunda-feira (27), mas não houve resposta até a publicação deste texto.
"Em se tratando de crédito concedido por instituição financeira custeada, em parte, com recursos públicos, ganha especial relevo o controle da lisura do procedimento de análise de risco, sendo cabível, em tese, a invalidação de negócios jurídicos contrários à moralidade ou à impessoalidade, tais como aqueles eventualmente celebrados sob influência do prestígio político dos envolvidos", diz um trecho do acórdão, relatado pelo desembargador Arnoldo Camanho. Além dele, também assinam a decisão os desembargadores James Eduardo Oliveira e Aiston Henrique de Sousa. "Dou provimento à remessa necessária para cassar a sentença (da 1ª instância) e determinar o retorno do feito à fase de organização e saneamento do processo (...), inclusive requisitando-se os documentos que sejam necessários ao esclarecimento dos fatos, em especial a íntegra do processo interno de análise de risco de crédito", diz o trecho final do voto de Camanho.
A casa de Flávio Bolsonaro fica no Setor de Mansões Dom Bosco, um dos melhores trechos do Lago Sul, um bairro nobre de Brasília às margens do lago Paranoá. A compra foi registrada pelo senador no dia 2 de fevereiro de 2021, pelo preço de R$ 5,97 milhões, em um cartório afastado do centro de Brasília. A casa tem 1,1 mil metros quadrados de área construída. Conta com quatro suítes amplas, academia, piscina e spa com aquecimento solar. Ao contrair o empréstimo, Flávio obteve condições vantajosas. Na época, o Estadão simulou o mesmo empréstimo em outro banco comercial de grande porte: a taxa mínima de juros ficaria em 5,39% ao ano, resultando em parcelas de R$ 23,2 mil, equivalente a quase todo o salário líquido do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.
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