Jair Bolsonaro liga para irmãos de petista assassinado e irrita viúva
Irmãos da vítima não estavam na festa onde aconteceu o crime
A ligação do presidente Jair Bolsonaro (PL) a irmãos do militante petista Marcelo de Arruda irritou a viúva e outros familiares que avaliam que está sendo feito uso político da situação.
A ligação por vídeo foi feita pelo deputado bolsonarista Otoni de Paula (MDB-RJ), que esteve na casa de um dos irmãos de Marcelo, com o aval de Bolsonaro, para intermediar a conversa. Segundo ele, o presidente conversou com dois irmãos do petista assassinado: José e Luiz de Arruda.
A viúva, Pâmela Suellen Silva, disse ter ficado surpresa com o telefonema do presidente aos irmãos de Marcelo, que não estavam na festa. "Absurdo, eu não sabia", afirmou ao UOL.
Ao Globo, ela disse que Bolsonaro está usando a situação politicamente. "Acredito que Bolsonaro está preocupado com a repercussão política, porque, tanto no vídeo que fez no cercadinho como no que conversa com os irmãos do Marcelo, Bolsonaro diz que estão tentando colocar a culpa nele."
O filho de Marcelo, Leonardo de Arruda, 26, disse à reportagem que a família está incomodada com a tentativa de responsabilizar Marcelo pelo caso –embora ele não tenha se referido diretamente a Bolsonaro, o próprio presidente da República chegou a se referir ao crime como "briga de duas pessoas" e a afirmar mais cedo que "o cara que morreu" teria jogado pedra antes no bolsonarista.
"O ódio não está em mim, na nossa família. A gente estava comemorando, não foi a gente que procurou isso. Não foi a gente que matou. A gente não odeia ninguém", afirmou.
A reportagem também apurou que outros familiares estão desconfortáveis com a situação e com o uso da imagem dos irmãos politicamente.
Bolsonaro convidou uma parte da família de Marcelo, alinhada ao bolsonarismo, para visitar o Palácio do Planalto na próxima quinta-feira (14) e participar de uma entrevista coletiva.
A reportagem conversou com um dos irmãos que conversou com Bolsonaro, Luiz de Arruda. Ele disse que a família ainda não deu uma resposta definitiva sobre ir a Brasília.
"Foi feito um contato. A gente não deu um retorno definitivo se a gente vai ou não. A gente está conversando com os filhos do Marcelo, esposas, sobrinhos, a gente vai conversar para ver o que a gente vai decidir."
Segundo ele, a família ainda não avaliou o tom da conversa. "A gente falou algumas coisas, o presidente não se posicionou ainda, então a gente não tem como ter uma avaliação definitiva."
Questionado sobre a frase do Bolsonaro acusando conhecidos de Marcelo de agressividade na festa, ele disse que a família também analisa isso.
Nesta terça-feira (12), o presidente criticou a violência de "petistas" que chutaram a cabeça de Jorge, após a troca de tiros com Marcelo.
Também ferido, no chão, foi alvo de chutes de convidados que estavam na festa do militante do PT.
Bolsonaro disse ainda esperar a conclusão da investigação "para a gente ver que teve problema lá fora, onde o cara que morreu, que estava lá na festa, jogou pedra no vidro daquele cara que estava com o carro do lado de fora". "Depois, ele voltou e começou o tiroteio lá e morreu o aniversariante."
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