Guarda Pelé inspira policial aposentado e vira história em quadrinhos
Guarda Pelé fez história no trânsito de Salvador no final da década de 60
Quem foi traído pelo tempo e não pôde ver Armando Marques da Silva, mais conhecido como o Guarda Pelé, organizando o trânsito no Centro Antigo de Salvador, no final década de 60, com seus movimentos ágeis, bem marcados e pouco comuns para o que é visto sendo feito por outros guardas, pode descobrir mais sobre esse ícone de Salvador nos quadrinhos.
O baiano, hoje com 87 anos, aposentado, virou história no quadrinho batizado de 'Guarda Pelé'. O livro foi produzido pelo tenente da reserva da Polícia Militar (PM-BA), Eliezer da Silva Araújo, 55 anos, como resultado do trabalho de conclusão do curso (TCC) de Artes Plásticas pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Lançada no último dia 28 de novembro, na sede da Escola de Belas Artes da UFBA, a revistinha está exposta na exposição 'Tempo', no mesmo local, e conta um pouco sobre a rotina do guarda Pelé no trânsito do Centro de Salvador, principalmente na Avenida Sete, Rua Chile e Baixa dos Sapateiros, e sobre os efeitos das coreografias dele em quem pôde testemunhar-las.
O Guarda Pelé executava os sinais de trânsito como se fossem coreografias de dança e apitava para capturar a atenção dos motoristas, semelhante ao ritmo de um instrumento musical. Mas se engana quem acha que tudo era apenas uma performance. Pelé realmente transformou o trânsito do centro, desafogando o fluxo.
Ele começou a atuar de maneira icônica quando se mudou de Ilhéus para Salvador para trabalhar como policial, mas como morava perto de uma unidade da PM situada no centro antigo, pediu para ser transferido para ela, sem saber que a decisão mudaria a sua vida.
Pelé se tornou paixão entre as crianças, que ele chamava carinhosamente de Joinha, virou assunto entre a Rainha Elizabeth II e o então governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, em 1968, quando a matriarca passou por Salvador, e chamou atenção de produtores que o levaram para realizar diversas apresentações fora do Brasil e comerciais de televisão internacionais.
Para o Guarda Pelé, ter sido o protagonista de uma história digna de livros é pura satisfação. "Me sinto satisfeito, porque quebrei diversas barreiras. Tudo que era proibido, eu cheguei lá e desbaratinei", declara, se referindo aos movimentos exagerados proibidos pela corporação.
Primeiro encontro
Eliezer levou três meses para produzir a historinha de 22 páginas sobre o Guarda Pelé, um tempo recorde para este tipo de produção. O encontro com a inspiração do trabalho, no entanto, só aconteceu depois que a obra ficou pronta, no último dia 30 de novembro.
Ele se encantou pela história de Pelé em 2021, durante uma matéria do curso Artes Plásticas e a admiração seguiu até firme, até se transformar em produto. Segundo Eliezer, o principal insumo para produzir a história foi o livro 'Guarda Pelé', do também PM, Raimundo Marins, e que o encontro com a inspiração do quadrinho dele não aconteceu antes por falta de agenda.
Com o livro em quadrinhos, ele almeja que mais pessoas conheçam a importância do Guarda Pelé para a história de Salvador. A obra ainda tem apenas o exemplar piloto, mas Eliezer pretende produzir mais, para distribuir gratuitamente entre a corporação e nas escolas públicas de Salvador.
"Uma pessoa com uma experiencia tão forte, soldado da Policia Militar, homem negro, com instrução básica, naquela época, conseguiu quebrar normas de trânsito, disciplinares e conseguiu se tornar uma lenda que fez diferença por onde passou", destaca Eliezer.
Comentários:
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.