‘Moro é a maior decepção que já tive na Justiça e na política brasileira’, diz Padilha

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‘Moro é a maior decepção que já tive na Justiça e na política brasileira’, diz Padilha

Diretor de 'O Mecanismo' reconheceu parcialidade da Lava Jato

Crédito: Divulgação

Diretor da série 'O mecanismo' (2018), que retratou o Sergio Moro como herói contra a corrupção, por sua atuação na operação Lava Jato, o cineasta José Padilha se diz arrependido e decepcionado com o ex-juiz.

"O Moro é a maior decepção que já tive na Justiça e na política brasileira. Ele virou ministro do Bolsonaro após uma eleição na qual ajudou a eliminar o Lula. E no minuto em que você faz isso e vira ministro do cara que foi eleito, demonstra claramente qual o seu caráter", declarou o cineasta em entrevista à revista Veja.

Padilha defendeu ainda que o discurso anticorrupção de Moro destoa totalmente das práticas do presidente Jair Bolsonaro, que em sua opinião, foi beneficiado após o ex-juiz condenar Lula. "Quando ele virou ministro, escrevi que ele era o oposto dos juízes italianos que lutaram contra a máfia, porque o Bolsonaro é ligado à milícia. A milícia é máfia, então como pode o cara que se diz um juiz corajoso, que quer aplicar a lei como os juízes italianos se juntar ao candidato das milícias? Moro sabia que Bolsonaro representava isso. Ele não iria trabalhar para um presidente sem pesquisar um pouco sobre a vida dele. Em suma, eu fui  ingênuo. Mas não só eu, um monte de gente caiu na mesma ilusão", disse o diretor.

Questionado sobre as mudanças que faria, caso fosse refazer a série, ele afirmou que excluiria os heróis. "Não restam dúvidas de que o mecanismo existiu, e ainda existe. O que mudou, na minha opinião: quando vazaram as mensagens trocadas entre o Ministério Público e o Moro, ficou óbvio que a condução da Lava-Jato não foi republicana", defendeu. "Ia ter só bandido dos dois lados. Um lado roubando os cofres públicos, o outro deturpando as leis processuais para atingir objetivos — que depois viraram objetivos políticos, sim. Ficou bem claro que teve uma perseguição. Não estou dizendo que o Lula não sabia da corrupção. Evidente que sabia. Mas ficou óbvio que houve uma exacerbação dos casos contra o Lula para tirá-lo da eleição. Se refizesse O Mecanismo, não é que o PT seria melhor, é que seria tudo ruim. O PT, o Ministério Público, o Sergio Moro. Estava tudo errado ali", acrescentou.

O cineasta reconheceu ainda ter demorado para perceber a parcialidade da Lava Jato e de Moro, mas afirmou que ao notar, não pestanejou em assumir o erro, que inclusive lhe custou a amizade com o baiano Wagner Moura. "Eu diria que o Wagner teve muito mais clareza que eu com relação à natureza da Lava-Jato. E eu tive mais clareza que ele com relação ao Partido dos Trabalhadores. Os dois estavam errados, na minha opinião. Mas é uma burrice você criar picuinha e estresse com um amigo por divergências em torno de política. Eu dou meu braço a torcer, e digo aqui: Wagner, você tinha toda a razão sobre a Lava-Jato. Sem problema nenhum", disse José Padilha.

Diante do cenário atual do país, apesar de suas críticas ao PT, para o diretor "o imperativo do Brasil é tirar o Bolsonaro do governo". "Com Bolsonaro e Lula no segundo turno, eu voto no Lula", declarou o cineasta. "Voto nele sem pestanejar. Pois não adianta viver no mundo ideal, abstrato, descolado do que ocorre. A escolha está dada para o brasileiro", reiterou o artista, segundo o qual, o atual presidente é "um mentecapto". "O Bolsonaro é um sujeito que traz em si todas as características do miliciano do Tropa de Elite 2. O final do Tropa 2, que mostra os milicianos chegando à política, foi profético de uma maneira que eu gostaria que não tivesse sido", afirmou. 

 

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Sexta, 18 Outubro 2024

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