"Senti uma tristeza terrível", diz PM que viralizou após acolher mãe aos prantos em cena de assassinato

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"Senti uma tristeza terrível", diz PM que viralizou após acolher mãe aos prantos em cena de assassinato

Imagens da policial militar abraçando a mãe em desespero emocionaram a população feirense

Foto: Gledson Santos/ FE

Na tarde da última terça-feira (29), vídeos de uma policial militar acolhendo uma mãe em desespero, após o assassinato do filho de 21 anos, em Feira de Santana, logo repercutiram nas redes sociais. As imagens, que emocionaram a população feirense, mostram a soldado Lorena Brito de Almeida, lotada na 64ª CIPM, que atua na Base Comunitária da Rua Nova, abraçando com firmeza e consolando com gestos e palavras a mulher aos prantos.

O fato ocorreu por volta das 16h. Uma multidão perplexa assistiu, em plena luz do dia no centro comercial, ao levantamento cadavérico do jovem, que trabalhava como vendedor ambulante. Ezequiel Nascimento Carneiro foi baleado no cruzamento da Rua JJ Seabra com a Avenida Getúlio Vargas. A vítima correu tentando fugir dos atiradores, mas não resistiu aos ferimentos e caiu na calçada em frente ao prédio da Receita Federal. Minutos depois, a mãe dele chegou ao local do crime e se deparou com o corpo do filho coberto por um papelão, cercado por diversos policiais militares e civis, além de peritos do Departamento de Polícia Técnica.

Foto: Reprodução/ Redes Sociais

"Quando a gente chegou na situação, a mãe não estava. O menino estava caído no chão, a gente cobriu com papelão. Quando ela chega, se joga no corpo do filho, e já tinham os peritos lá. Ela se joga no corpo daquele menino, e eu me viro de costas, porque começo a chorar. A dor para mim, o grito da mãe, era dilacerante. Eu choro e depois que paro vou até ela para acolhê-la, porque naquele momento de desespero eu queria que, se fosse eu, alguém pudesse fazer aquilo por mim, ter me acolhido, me abraçado. Eu não queria que ela se sentisse sozinha naquele momento", relatou a PM Lorena Almeida, ao Folha do Estado.

Não são só números

A morte do vendendor ambulante, assim como de tantos outros, chama a atenção da sociedade para a quantidade, cada vez maior, de famílias que perdem diariamente parentes, alguns ainda crianças ou adolescentes, em meio à guerra entre facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas. São mães que choram e lutam pela memória dos seus filhos. 

Para a policial feminina, esses jovens não podem ser vistos apenas como números em uma estatística cruel de assassinatos. Ela contou que, enquanto abraçava a mãe de Ezequiel, lembrava dos seus próprios filhos, um deles já na faculdade. E isso a fez se colocar ainda mais no lugar daquela mulher em sofrimento.

Foto: Mário Sepulveda/ FE

"Na hora que eu a abracei, disse a ela que só durmo depois que meu filho chega em casa. Ele faz faculdade à noite. Não pude sentir a dor daquela mãe, porque acho que ninguém consegue sentir a dor que uma mãe sente, mas eu pude sentir uma tristeza terrível porque era uma mãe que perdia o filho, e poderia ser o meu, o de qualquer pessoa que estava ali. Então é doloroso ver uma situação daquela, e nunca vai ser normal para mim."

Sentir a dor do outro

O gesto de empatia por parte da policial militar causou grande surpresa e comoção na população presente ao local da tragédia, que filmou e compartilhou os vídeos nas redes sociais. No entanto, para Lorena, que trabalha há 9 anos na corporação, a atitude deveria ser considerada algo normal e compartilhada por toda a sociedade.

"Para mim o acolhimento tem que ser de todos. Ali tínhamos milhares de pessoas, por que ninguém abraçou aquela mulher? Por que ninguém se compadeceu e abraçou aquela mãe? Fui eu, mas poderia ser um médico, um pastor, o pessoal que estava trabalhando ali, ninguém fez isso. Hoje sinto que falta empatia no ser humano, independente da profissão. O que tem faltado é a gente olhar um pouco para outro e sentir a dor dele, tentar de certa forma acalentar e acolher a necessidade do outro", refletiu.

Evangélica, formada em Letras pela Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e engajada em causas sociais, Lorena Almeida destaca que o acolhimento às pessoas da comunidade é algo que já faz parte do seu dia a dia.

"Para meus colegas de trabalho não foi surpresa nenhuma. Desde que entrei na Polícia Militar disse a Deus que eu não queria perder a minha humanidade, que se isso acontecesse Ele poderia me tirar a farda. Não adianta vestir uma farda e não ser humano. Ser funcionário público é isso, representar o estado é atender a necessidade do outro naquilo que você puder fazer (…). Ser policial militar é um sacerdócio, e por ser mulher, em qualquer profissão, precisamos provar duas vezes mais nossa capacidade. Eu carrego como missão de vida servir à comunidade na qual estou inserida", reiterou.

Foto: Mário Sepulveda/ FE

Polícia cidadã

A policial militar enfatizou ainda que a Polícia Militar não carrega apenas situações ruins no seu cotidiano, mas também boas ações. Segundo a soldado, é preciso desmistificar o papel da corporação junto à sociedade.

"A maioria das nossas ações no dia a dia são pautadas para o bem estar e o acolhimento da população. Pena que essas imagens nunca viralizam, só viralizou a minha, mas é um trabalho nosso todos os dias. A população muitas vezes olha para a gente como se não fossemos seres humanos, como se fossemos só a farda, e o fato de eu acolher aquela mulher, mostra que por trás dessa farda existem mães, pais, seres humanos que se importam, que sentem, e que precisam também ser acolhidos pela comunidade. Estamos desempenhando naquele momento nosso papel, que é ser policial, mas dentro da nossa farda, existem os seres humanos que têm sentimentos, medos, e coisas boas para distribuir também", abordou. 

 

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