Polícia da BA passa do RJ e é a que mais mata em intervenções no Brasil
As Polícias da Bahia mataram 1.464 pessoas em intervenções oficiais em 2022
Pela primeira vez no histórico de dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a polícia da Bahia aparece como a que mais matou pessoas em intervenções, tomando o lugar que nos anos anteriores sempre foi do Rio de Janeiro. Os dados são contabilizados e informados desde 2015.
As Polícias da Bahia mataram 1.464 pessoas em intervenções oficiais em 2022, o que representa 22,7% do total das 6.430 mortes das polícias no ano passado. O estado não informa número de policiais mortos em confronto.
No Rio, o número de mortes por intervenções foi de 1.330 no ano passado.
Em 2015, o número de mortes por intervenções policiais na Bahia foi de 354 - ou seja, em sete anos a alta foi de 313%.
"Essa alta letalidade foi uma novidade para nós. Os números vêm subindo ano a ano e no ano passado 22% das mortes violentas no estado foram de responsabilidade da polícia. A taxa de mortes em intervenções de 2022 bateu 10 por 100 mil, quando a média nacional é de três", diz Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
No caso da Bahia, diferente de outros estados, não há informações separando quantas mortes foram de intervenções da Polícia Civil e quantas da Polícia Militar.
As mortes pelas polícias civil e militar correspondem a 22% de todas as 6.659 mortes violentas do estado em 2022. No caso de intervenções, as mortes tiveram alta de 9,7% em comparação a 2021. Na soma geral de mortes violentas no estado, na contramão, houve queda de 5,9%.
Chacina mata jovens
Silvana dos Santos, 42, teve o filho, Alexandre dos Reis, 20, morto pela PM em um dos episódios mais repercutidos no ano passado, a chacina da Gamboa, em Salvador.
O crime ocorreu em 1º de março de 2022 e ela lembra que o filho dela foi levado para uma casa abandonada antes de ser morto.
"A polícia já tinha matado outros dois, e levou meu filho ainda vivo. Eu fui e cheguei lá e me apresentei como mãe dele; eles me destrataram e apontaram a arma para minha cabeça. Quando virei, eles dispararam três tiros contra meu filho".
Ela e outras mães e moradores da comunidade lutam até hoje por Justiça. O caso está ainda na fase judicial, à espera do julgamento dos PMs envolvidos.
"Eu me sinto até hoje desprotegida. O policial é uma pessoa que deveria me proteger, não me matar. E se a polícia matou meu filho, ela me matou também".
Incentivo estatal. Segundo Dudu Ribeiro, da Iniciativa Negra por um nova Política sobre Drogas, o aumento das mortes por intervenção tem relação direta com a postura adotada pelo governo do estado de apoiar e não reprimir policiais após ações que resultam em mortes.
"Certamente a disposição do governador anterior [Rui Costa-PT] de incentivar essa ótica ostensiva da tropa influencia no comportamento. A gente monitora esses dados, e vemos que de 35% da violência armada em Salvador e região metropolitana é provocada em ações policiais".
Com informações do UOL.
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