Crimes sexuais crescem 1.4% na Bahia em 2021, segundo pesquisa
Estado é o 4º no ranking de estados brasileiros
Os recentes casos de violência sexual contra mulheres acendem um alerta para a urgência de mais enfrentamento. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de casos cresceu 4,2% em 2021. A Bahia está em quarto lugar no ranking de estados brasileiros que mais registram violências diversas contra a mulher. Em 2021, o estado registrou 850 casos de estupro e 2.333 de estupro de vulnerável, o que significa um aumento de 1,4% em relação a 2020 (3.126 ocorrências).
Os dados indicam que, em 2021, 66.020 casos de estupro e estupro de vulnerável foram registrados no Brasil e que a maioria aconteceu com mulheres, dentre elas, as mulheres negras, que representam 52,2% dos casos. Com vulneráveis –crianças menores de 14 anos e adultos sem condições de defesa– chegou a 75,5%.
Os dados estão refletidos no recente caso de estupro de uma mulher em um hospital público por um médico anestesista e em muitos outros que foram ou não reportados. "O que podemos perceber é que não importa a idade dessa mulher, seu modo de vida ou onde ela esteja, ela está sujeita a sofrer uma violência sexual. É uma expressão muito nítida do machismo e do patriarcado que quer submeter o corpo das mulheres ao controle do homem", afirma Letícia Ferreira, diretora da Tamo Juntas, organização de acolhimento de vítimas de violência em Salvador.
Histórico
Os números também evidenciam as características coloniais da violência contra a mulher, segundo a antropóloga e pesquisadora da Iniciativa Negra, Belle Damasceno. "O Brasil foi historicamente forjado através de estupros de mulheres africanas e indígenas. Essa cultura é perpetuada através do homem branco que sempre colocou essas mulheres em lugar de descrédito".
A especialista atenta ainda para o número de casos subnotificados. "São mulheres muitas vezes que moram na periferia, que não têm acesso à internet ou aos meios do estado para fazer a denúncia e quando fazem são desacreditadas".
No combate, investir na rede de apoio e em educação de gênero são formas de lidar com os casos e evitar novas vítimas, segundo especialistas. O trabalho realizado na Tamo Juntas é feito inteiramente por mulheres, de maneira voluntária, e conta com profissionais de diferentes áreas. O mesmo é feito através do Centro de Referência de Atenção à Mulher (CRAM), que conta com uma equipe formada por advogados, psicólogos e assistentes sociais. "Essas mulheres chegam ao centro com uma ideação suicida. Então, ela é acompanhada por psicólogas e quando percebemos que ainda está com algum tipo de patologia fazemos o encaminhamento para o atendimento psiquiátrico", explica Fernanda Cerqueira, diretora de Políticas Públicas para Mulheres da Prefeitura Salvador.
O fortalecimento dessa rede de atendimento é um passo importante para que mais mulheres se sintam seguras. "Esse é um fator importante. Elas continuam sendo revitimizadas quando vão aos serviços. São questionadas sobre o seu relato, são desacreditadas ou buscam justificar a violência por algum comportamento que ela possa ter tido", aponta Letícia Ferreira.
Segundo a secretária estadual da Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM-BA), Julieta Palmeira, os serviços para o atendimento foi aprimorado no estado a partir da criação de ações como a 'Ronda Maria da Penha' e do 'Respeita As Mina' (WhatsApp para denúncia). "Nós realizamos ações de sensibilização da população como uma forma de combate à essa cultura misógina que naturaliza a violência contra a mulher. O fortalecimento da rede através de uma cooperação técnica com a Polícia Civil para qualificar todo contingente que atende nas delegacias".
Para conseguir atendimento através da Tamo Juntas, as vítimas podem entrar em contato com a equipe através do email contato@tamojuntas.org.br, do site ou do WhatsApp (71) 99237-0657. A CRAM possui três unidades: Barris,
Ribeira e Cajazeiras. O WhatsApp Respeita As Mina' atende pelo pelo número (71) 931172815 ou pelo 180.
Com informações do A Tarde Online.
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