Rastreamento eficaz da varíola dos macacos pode reduzir necessidade de vacina
O estudo foi elaborado pelas universidades Yale e Brown
Medidas eficazes de testagem e rastreamento de casos da varíola dos macacos podem reduzir a necessidade de doses de vacina para conter o surto da doença, apontam pesquisadores das universidades Yale e Brown, duas das mais prestigiadas dos Estados Unidos.
As conclusões são de um estudo pré-print -isto é, que ainda não contou com a revisão de outros cientistas- que buscou identificar os efeitos das três medidas na comunidade que mais registra casos da doença, os homens que fazem sexo com outros homens (HSH).
Os pesquisadores utilizaram o número efetivo de reprodução da infecção (Rt). Esse valor indica como está a propagação de determinada doença. Caso o Rt seja igual a 1, isso indica que cada infectado transmite a doença para mais uma pessoa. O ideal é que o número esteja abaixo de 1 porque é um indicador de menor disseminação da infecção.
Com base no cenário atual da varíola dos macacos nos Estados Unidos, os autores consideraram que o Rt na comunidade de homens que fazem sexo com outros homens seria entre 1,2 e 2,0. Ou seja, um infectado transmite a doença para pelo menos outra pessoa, podendo chegar até dois novos infectados para cada doente.
Em seguida, observou-se o efeito aproximado que cada uma das medidas teria em reduzir a transmissão da doença nos EUA. Por exemplo, os pesquisadores consideraram que a detecção de um caso pode reduzir em 50% o aparecimento de novos diagnósticos. Se essa detecção for precoce, a redução seria de 90%.
Os pesquisadores estimaram os impactos das ações para barrar a transmissão da doença em diferentes cenários.
Um desses panoramas era com um número de reprodução da infecção de até 1,4. Nesse caso, a detecção de 40% dos casos e o rastreamento da metade dos contatos desses doentes poderiam resultar em uma diminuição do número de reprodução para abaixo de 1. A vacinação, nesse cenário, não seria uma medida adotada.
Outro exemplo considerado no estudo é com um modelo ruim de testagem e rastreamento, em que somente 10% dos casos seriam detectados e não haveria rastreamento dos contatos. Situações como essas exigiriam uma quantidade alta de vacinas para diminuir a transmissão da doença. Em um contexto em que cada infectado transmite para mais duas pessoas, os imunizantes seriam necessários para quase metade de homens que fazem sexo com outros homens a fim de reduzir o Rt para abaixo de 1.
Um terceiro cenário observado era de uma resposta moderada em relação a testes e rastreamento -20% dos casos seriam detectados e 25% dos contatos estariam em observação. A dependência pelos imunizantes seria menor, mas ainda existiria. Em um contexto de alta disseminação -com cada doente transmitindo para duas pessoas-, 45% dos homens que mantêm contato sexual com outros homens precisariam ser imunizados para barrar a disseminação do vírus.
Andrea von Zuben, professora de epidemiologia do programa de pós-graduação em saúde coletiva, políticas e gestão em saúde da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma que o estudo inclui as principais ações envolvidas no controle de uma doença infecciosa. No entanto, uma estimativa matemática não necessariamente será replicada no cotidiano da população.
Segundo ela, a capacidade alta de testes e o rastreamento de contatos são medidas que podem diminuir consideravelmente a transmissão varíola dos macacos. O problema é que muitos casos da doença estão com sintomas sutis, o que dificulta o diagnóstico e o isolamento.
"Quando olhamos o modelo matemático, é perfeito. Agora, como a doença pode passar despercebida, a pessoa pode não saber que está infectada. Este é o desafio neste momento."
Outro problema é a capacidade de testagem do Brasil. Atualmente, o país conta com quatro laboratórios que centralizam os diagnósticos. Com o aumento de casos no país, os centros já indicam sobrecarrega no trabalho.
Para Von Zuben, a realização de testes o mais rápido possível é essencial para o isolamento do paciente. "Se sabemos que o isolamento do doente é muito importante, ele saber se está com a doença faz muita diferença", diz.
Em contextos em que existem dificuldades em detectar os casos e rastrear os seus contatos, a utilização de vacinas em grupos chaves é importante para barrar novos diagnósticos. "A vacina é muito mais efetiva nesse bloqueio [de novas infecções] porque não depende exatamente da autoconsciência de cada um [em optar pelo isolamento]."
Até o momento, o Ministério da Saúde anunciou a encomenda de 50 mil doses do imunizante. Elas devem ser aplicadas em profissionais de saúde e em pessoas que tiveram contato com doentes.
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