HDPA aguarda retomada de processo para se habilitar e realizar transplantes de coração
O processo de credenciamento foi iniciado em 2016
O processo de credenciamento do Hospital Dom Pedro de Alcântara para a realização de transplantes de coração foi iniciado em 2016 e trilhou um caminho de avanços. Um dos momentos mais importantes aconteceu em 2019, quando foi firmado um termo de compromisso pela Santa Casa de Misericórdia/HDPA/Incárdio com o Hospital Sírio-Libanês visando transferência de tecnologia para capacitação da equipe de profissionais que vai atuar em todas as etapas do processo cirúrgico. Além disso, a unidade foi também selecionada pelo Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional, PROADI-SUS, para receber a tutoria do Hospital Sírio Libanês, responsável por um programa de treinamento para equipes transplantadoras em todo o Brasil.
A capacitação foi iniciada em 2020, quando uma equipe multiprofissional feirense passou a compartilhar conhecimentos tecnológicos e científicos com profissionais da Escola de Transplantes de Sociedade Beneficente de Senhoras do Hospital Sírio-libanês, entretanto a pandemia do covid-19 atrapalhou o andamento do processo. "A equipe que selecionamos é composta por cirurgiões cardiovasculares, cardiologistas, e intensivistas, que são médicos que atuem em UTI, fisioterapeutas e enfermeiros. Além do pessoal técnico escolhemos pessoas da parte administrativa para participar desta capacitação porque tem a parte burocrática de contratos e outros trâmites relacionados à esta questão especifica que envolve transplante de coração", explicou o cardiologista Edval Gomes, que é diretor técnico da Santa Casa de Misericórdia de Feira de Santana/ Hospital Dom Pedro de Alcântara (HDPA). "Já faziam três meses desta capacitação, quando 'explodiu' a pandemia. Aí tivemos que parar tudo porque todas a atenções passaram a se concentrar justamente em buscar alternativas para 'estancar' a epidemia que trouxe consequências terríveis e só foi controlada dois anos depois", complementou.
Hoje a situação é de espera em relação à retomada desta capacitação. "Com a pandemia houve uma reviravolta em relação a processos que estavam em andamento como o nosso e outros que nem sequer chegaram a iniciar, porque na época houve a suspensão de inúmeros contratos e parcerias por parte do Ministério da Saúde. Depois houve a mudança de governo e estamos no compasso de espera de que os contratos e parcerias firmados lá atrás sejam retomados e Feira de Santana possa ter uma unidade hospitalar em condições de realizar transplantes de coração. Temos interesse, sim, em credenciar o Hospital Dom Pedro de Alcântara nesse âmbito, assim como já ocorre na área renal, onde aos poucos a unidade vem se transformando em uma referência", afirmou o médico.
POLÍTICA
Edval Gomes salienta que o transplante, de uma forma geral, é uma política pública, que depende muito do gestor público, do interesse de se fazer determinados grupos de transplantes e lembra que o transplante cardíaco é um pouco mais complexo. "Nós, por exemplo, fazemos há muitos anos transplante renal. Transplantamos quase trezentos e oitenta pacientes e temos muito mais ainda para transplantar, pois, são mais de quinhentos em fila de espera. A gente integra esse projeto do governo do estado, de estimular a realização dos transplantes renais, com muito sucesso, diga-se de passagem.
São muitos pacientes transplantados na Bahia. O transplante hepático é outro transplante complexo, e que ocorre, e é realizado também na Bahia com sucesso. O transplante cardíaco é um transplante um pouco mais complexo em relação aos outros. Tanto em relação a logística, para poder realizar, na estrutura, quanto os valores, o custeio que também é mais caro do que o transplante normal. Então, precisa haver o interesse do gestor público, do governo do estado para realizar".
O médico garante que a Santa Casa tem interesse em fazer o procedimento, havendo apoio do Estado. "A estrutura precisa ser organizada, capacitar a nossa equipe e mais uma série de outras questões. A gente tem mantido um diálogo muito bom com o estado, e temos interesse sim, em ser a primeira cidade do interior do estado a realizar o transplante, porque em Salvador nós já tivemos experiências com o Hospital Santa Isabel e com alguns transplantes realizados com Ana Nery".
Ele diz ainda que é importante que seja uma função política de estado e permanente, para que não se faça um ou dois transplantes e depois seja interrompida a atividade. "Que vire um centro de sucesso, como outros centros que temos no Nordeste. A gente tem um grande centro transplantador em Recife, em Fortaleza e pode ter a Bahia, tem espaço para isso. Sem dúvida nenhuma, o estado pujante, um estado que já tem um programa de transplante consolidado, isso daria mais tranquilidade, mais facilidade para que esse transplante também ocorresse", afirmou.
"Caso de Faustão revela particularidades do transplante de coração", diz médico
Um caso de transplante de coração recente, que tem chamado a atenção de todo o país é o do apresentador de TV, Fausto Silva, o Faustão, ocorrido há uma semana em São Paulo. O procedimento aconteceu no último domingo (27/08), no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Fausto passou a integrar a fila do SUS com cerca de 400 integrantes, mas o fato gerou uma série de perguntas e incertezas a respeito do procedimento médico, principalmente, após o comunicador passar para segundo lugar da fila de pacientes e receber o órgão 7 dias após ingressar na lista. O cardiologista Edval Gomes diz que entre os órgãos transplantáveis, o coração tem muitas especificidades. "Cada órgão tem um sistema de isquemia. Isso quer dizer que quando o indivíduo morre o doador, você retira aquele órgão que tem um período máximo que fica fora de um corpo e esse tempo é chamado de tempo de isquemia e é variável de órgão a órgão. Tem órgãos que conseguem ficar um até dia, mas o coração não consegue ficar muito tempo, então a cirurgia precisa ser muito rápida em relação ao momento da retirada e seu implante. Os candidatos a receptores, aquelas pessoas com cardiopatias graves, que estão em fila de transplante, precisam estar dentro de um estado, de uma região que o transplante, pois ele não tem condições de ser transplantado em outro estado pela questão logística, de ida, já que a sua convocação é quase que imediata, o médico diz que quando indivíduo é convocado e imediatamente vai para o hospital, para fazer transplante", detalha.
O médico salienta ainda que, o indivíduo com cardiopatia grave que não esteja hospitalizado hoje, em geral, pode até fazer alguns exames iniciais e fazer um preparo, mas ao ser referenciado para um centro transplantador, precisa ir necessariamente para outra cidade ou outro estado, para poder ser submetido a chance do transplante.
O cirurgião defende o processo do transplante e lembra que o Brasil é referência mundial no serviço. "O que a gente executa em nosso país, é estudado em todos os países, uma coisa sensacional. Se o SUS tem alguma coisa que serve de exemplo é o transplante. Existem outros grandes exemplos também, mas o transplante é um grande referencial pela segurança com que tudo ocorre, pela ética com que é realizado e pela transparência com o processo. O exemplo de Fausto Silva, serve para trazer, por exemplo, algumas reflexões. Primeiro, imaginar que há alguma coisa que gere o privilégio para ele ou para Beyoncé, indica que a gente tem falhado na comunicação. Que não temos passado a população como tudo acontece. O fato da gente comunicar pouco, deixa espaço para que a nossa criatividade atue".
O especialista garante que é impossível que exista qualquer tipo de falha ou equívoco, no processo de transplante. Segundo ele, as prioridades na fila são estabelecidas pelo critério de gravidade do estado. "O risco de ocorrer é zero, não há chance alguma. Na situação específica do coração, nós temos até três tipos de pacientes para transplante: Tem aquele paciente com a cardiopatia grave, que tem tido muita internação, que é um paciente crítico, mas que ele pode ir para casa e internar de vez em quando e é um paciente em fila de transplante específico. Outro paciente em fila é aquele indivíduo que interna, mas ele não consegue sair mais do hospital, permanece internado, precisa de medicações, por exemplo. Mas, ele está numa enfermaria ou no apartamento. O terceiro grupo de pacientes, são aqueles muito mais graves que estão na UTI, fazendo hemodiálise, com uma série de complicações e precisam de um transplante. Esse é o grupo mais grave. A hierarquia da fila de transplante, não é por ordem de chegada, é por ordem de gravidade. Então, você pode ser o décimo da inclusão, mas tem um paciente mais grave, ele é colocado acima", defende.
O clínico ressalta que quando o paciente é colocado acima, não depende do médico assistente, não depende do nosso querer, é uma classificação universal, onde o indivíduo precisa preencher determinados critérios para poder ser elencado como uma prioridade.
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