Sedução perigosa: medicamentos da moda trazem risco à saúde
Promessa é de corpo tranquilo e perda de peso
Em busca da silhueta perfeita e do sono dos justos, muitos brasileiros se renderam à tentação de uma alfinetada ou uma pílula mágica: Ozempic e Zolpidem, medicamentos que vêm se tornando cada vez mais populares e surgem até mesmo em indicações de rodas de conversas e redes sociais. Porém, o que a internet e aqueles que se dizem amigos antenados não revelam são os perigos que se escondem por trás dessa moda farmacêutica. Promessas de noites tranquilas e corpos esculturais atraem milhares de adeptos, que ignoram os efeitos colaterais graves e a ineficácia a longo prazo do uso desses medicamentos.
Originalmente destinado para tratar insônia, o Zolpidem ganhou popularidade por seu efeito na indução do sono. Recentemente Lianara Albergui, uma jovem advogada, estampou a imprensa nacional contanto que passou a ficar ansiosa e agitada quando não usava o medicamento. Ela chegou a tentar cortar o próprio pescoço, mas não lembrava. Liandra tinha crises de amnésia quando usava o Zolpidem durante o dia.
Pneumologista e médico do sono, Francisco Hora explica que o Zolpidem é diferente dos tradicionais remédios tarja preta para insônia, conhecidos como benzodiazepínicos (BZD). Ele pode causar dependência e tolerância, levando os usuários a aumentar a dose para obter o mesmo efeito. Mas, além disso, o medicamento pode trazer efeitos colaterais como sonambulismo e amnésia.
Soluções rápidas
"Vejo esse uso indiscriminado muito na turma mais nova. Essa turma de academia, que não pode dormir, que está com celular durante a noite toda. E tome luz na cara e tome ansiedade, tem que responder. Assim não tem como dormir. Existe algo que a gente chama costumeiramente higiene do sono, hábitos que as pessoas têm que ter para dormir bem. Você não pode dormir bem excitado, ansioso, tenso. Você tem que relaxar, tem todo um ritual para dormir em qualquer idade, do bebê ao idoso", afirma o médico.
Prescrição e acompanhamento médico são as palavras enfatizadas pelo médico quando o assunto é o Zolpidem ou qualquer medicamento do tipo. "Remédio não é a solução única. É remédio para sono, ele tem começo, meio e fim. Existem pessoas que tomam Zolpidem por três anos sem parar. Isso não tem lógica, porque ele tem alguns efeitos colaterais", pontua.
Farmacêutico, Genário Oliveira também destaca o problema da automedicação, mas levanta ainda um outro desafio a ser enfrentado nessa batalha contra medicamentos que se apresentam como soluções mágicas: a venda clandestina. "Há uma fragilidade, inclusive, de uma forma de acesso ilícita para a compra desses remédios", aponta.
Busca pelo corpo perfeito
Outra caixinha que promete solução rápida é o Ozempic. Ele foi inicialmente destinado ao tratamento de pacientes diabéticos. No entanto, como explica o endocrinologista Sérgio Braga, muitos médicos passaram a indicá- -lo para obesidade, porque ele de fato ajuda na perda de peso. "Mas o medicamento não tem indicação em bula para tratar obesidade. E não tem indicação para uso com fins estéticos. Só que infelizmente a população tem feito uso com essa finalidade [...] e aí aparecem as complicações", lamenta o Braga.
Assim como o Zolpidem e outros remédios, o Ozempic também tem contraindicações e pode causar efeitos colaterais, levando inclusive a complicações graves, como pancreatite. Para o endocrinologista, o ideal é que essas medicações tivessem critérios mais adequados e um maior controle do governo e agências reguladoras.
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