Ministros da Venezuela e da Guiana falam em paz na região após reunião no Itamaraty
O encontro foi intermediado pelo ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores)
Os chanceleres da Guiana, Hugh Todd, e da Venezuela, Yván Gil Pinto, falaram em paz na região da América do Sul e do Caribe, após uma reunião nesta quinta-feira (25) de cerca de 7 horas no Itamaraty para discutir a disputa territorial sobre a região do Essequibo.
O encontro foi intermediado pelo ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) e ocorre em meio à tensão sobre o Essequibo, área rica em petróleo e outros recursos naturais que faz parte da Guiana, mas é reivindicada pelo regime do ditador Nicolás Maduro.
Ao final da reunião, Vieira, Todd e Gil fizeram pronunciamentos à imprensa. Apesar de ainda não haver um fato mais concreto a ser anunciada, como a data de um novo encontro entre os presidentes, o encontro foi descrito como "bom começo".
A reunião entre as delegações no Itamaraty também discutiu temas de interesses dos dois países, como cooperação ambiental e comercial.
"Reafirmo que nossa região tem a vontade política e todos os instrumentos necessários para avançar no princípio comum de desenvolvimento social justo em ambiente pacífico e solidário. Ao nos depararmos com guerras em diferentes partes do mundo, aprendemos a valorizar ainda mais nossa cultura latino-americana e caribenha de paz", disse Vieira.
O chanceler da Guiana, por sua vez, afirmou esperar ter uma nova reunião num tempo razoável. "É um bom começo aqui, porque pudemos nos encontrar e dialogar, trocar nossos entendimentos e nossa ideias".
Já o representante venezuelano declarou que há compromisso de seu país em "preservar o Caribe como zona de paz". "Maduro está plenamente comprometido em buscar alternativas que permitam chegar a solução mutuamente aceitável em relação à controvérsia", afirmou Gil, sem citar diretamente o Essequibo.
Na véspera, o ministro venezuelano também esteve no Palácio do Planalto para uma conversa com o assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim. Entre outras coisas, segundo relatos, foi dito que as eleições no país devem ocorrer neste ano, no segundo semestre, como acordado.
No final do ano passado, escalou a tensão em torno de Essequibo, porque a Venezuela realizou uma consulta popular para anexar a região rica em petróleo. O plebiscito impulsionado por Maduro teve, como resultado, apoio de 96% dos eleitores à criação de um novo estado e da concessão de nacionalidade venezuelana aos 125 mil habitantes da região.
A participação na consulta, no entanto, foi baixa. Dois dias antes do plebiscito, a Corte Internacional de Justiça exortou a Venezuela a não anexar o território.
O Brasil teve papel importante no processo para reduzir as tensões na região. Em 14 de dezembro, Maduro e o presidente da Guiana, Irfaan Ali, reuniram-se pela primeira vez para tentar estabelecer um diálogo. Um aperto de mãos, seguido de aplausos, fechou o encontro de cerca de duas horas, de acordo com um vídeo enviado do Ministério da Comunicação e Informação da Venezuela. Em comunicado conjunto divulgado após a reunião, os dois líderes se comprometem a manter a região pacífica.
A reunião, realizada em São Vicente e Granadinas, foi acompanhada por Amorim, como enviado de Lula.
Os países concordaram em não ameaçar ou usar a força "um contra o outro em quaisquer circunstâncias, incluindo aquelas decorrentes de controvérsias existentes entre os dois Estados", diz trecho do documento divulgado na ocasião. Também se comprometem a resolver disputas de acordo com o direito internacional.
O encontro entre os líderes estabeleceu as bases para o prosseguimento de reuniões sobre o tema, como a que ocorreu nesta quinta em Brasília.
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