Mulheres protagonizaram luta pela Independência do Brasil na Bahia

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Mulheres protagonizaram luta pela Independência do Brasil na Bahia

Joana Angélica, Maria Quitéria e Maria Felipa são exemplos 

Crédito: Divulgação

As batalhas pela Independência da Bahia duraram um ano e sete dias, e dentre os muitos personagens que protagonizaram esse importante pedaço de nossa história, há um incontável número de mulheres. Entre as muitas heroínas anônimas - costureiras, ganhadeiras, esposas, mães -, há aquelas que conseguiram que seus nomes entrassem para o roteiro dessa conquista, como a protetora Joana Angélica, a guerreira feirense Maria Quitéria e a lendária Maria Felipa.

"A verdade é questão muitas as mulheres e homens, escravos e índios, que não entraram devidamente nos registros históricos da época, que sim, eram muito machistas e patriarcais", explica o pesquisador, jornalista e membro da Comissão de Cultura do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Jorge Ramos.

Das poucas mulheres que não tiveram seus nomes apagados, temos a abadessa Joana Angélica, a primeira heroína da independência. "Ela foi uma mártir, uma protetora e uma vítima também. Joana Angélica se pôs à frente dos portões do Convento da Lapa para impedir que soldados portugueses invadissem aquele local que homens não podiam entrar, pois era de freiras enclausuradas. Ela as protegeu com a própria vida, foi um gesto puramente heroico. Há livros que dizem que alguns desses soldados provavelmente estavam bêbados, que eram selvagens e poderiam, ou até queriam, abusar das noviças", explica Jorge Ramos.

Motivação

Para a professora aposentada Sônia Real, 81 anos, histórias como as de Joana e das tantas outras heroínas da Independência da Bahia, são uma inspiração e mostram como as mulheres são fortes. E combatentes. "Acredito que a maioria das mulheres nasce com a vocação de proteger, é um instinto, quer ele acabe se voltando para a maternidade ou não, por exemplo. As mulheres são combatentes de diversas formas diferentes. Eu sou, assim como minha mãe, Maria Real Pereira, de 100 anos e professora leiga, também é. Nós e tantas outras mulheres por aí são combatentes, nós lutamos por nossos direitos e para termos dignidade.Penso que, acima de tudo, as mulheres procuram ser respeitadas por seja qual for o papel que ela desempenhe dentro da sociedade", afirma a aposentada.

Uma dessas combatentes é a Maria Quitéria que, vestida com roupas masculinas do cunhado, se apresentou como soldado Medeiros ao Batalhão dos Voluntários do Príncipe, lutou ao lado dos outros soldados e por sua bravura em combate, o general Pedro Labatut lhe conferiu as honras de 1º cadete.

Coragem

"No caso da feirense Maria Quitéria, ao contrário de Joana Angélica, foi escolha dela entrar na batalha, ela queria lutar e fazer parte dessa conquista, ser guerreira", explica o pesquisador Jorge Ramos. Já a lendária Maria Felipa, da qual muitos duvidam da existência, existiu sim, afirma o estudioso. "Ela é um bom exemplo do quanto os historiadores da época queriam diminuir e apagar a importância que mulheres, principalmente as negras, tiveram. Maria Felipa foi resgatada da história e teria sim existido, tanto que o historiador Ubaldo Osório, avô do escritor João Ubaldo Ribeiro, foi um dos primeiros a falar sobre ela, a marisqueira de Itaparica que liderou outras mulheres, índios tupinambás e tapuias contra navios portugueses", contou o pesquisador.

De acordo com relatos históricos, o grupo que ela liderava era composto por cerca de 200 pessoas que usavam facas de cortar baleia, peixeiras, pedaços de pau e galhos com espinhos como armas, e queimaram cerca de 40 embarcações portuguesas que estavam próximas à Ilha de Itaparica. As imagens que temos dela hoje foram feitas a partir de pessoas que descreveram sua aparência: uma mulher negra alta, trabalhadora braçal e de grande força física.

Anônimas

Joana e as duas Marias foram protagonistas na conquista pela Independência, mas inúmeras outras tiveram as suas histórias ignoradas ao decorrer do tempo. Mas, a verdade é que, os membros homens das famílias foram para a guerra - adolescentes de 15 anos foram chamados - e mulheres, das mais variadas idades, que ficaram sustentando as casas e as famílias. "Atrás de cada soldado havia uma mãe, uma irmã e uma filha, cuidando das casas, fazendas e engenhos", afirma o pesquisador Jorge Ramos.

Há relatos, afirma o pesquisador, de uma mulher que deu duas vacas para as tropas de Pirajá se alimentarem, e algo parecido também foi relatado em Itaparica. Elas mantinham os engenhos funcionando, produzindo farinha e alimento, costurando e remendando os uniformes, cuidando das crianças e fazendo a economia toda girar. "É preciso ter em mente que essa guerra durou mais de um ano e todos os homens foram convocados. As mulheres ficaram em seus lares, dirigindo e coordenando outras mulheres, cuidando dos negócios e ainda enviando provisões aos soldados".

Um exemplo marcante dessas mulheres anônimas com papéis fundamentais no 2 de Julho são as Caretas do Mingau. Para alimentar os maridos e filhos que precisavam ficar noite e dia de guarda em Saubara (vigiando o mar alertas para qualquer navio português no horizonte), as mulheres saiam a noite cobertas por lençóis brancos e panelas na cabeça com comida e armas. "Elas levavam mingau quente e um pouco de afago para os soldados. O objetivo das vestes era, caso algum soldado inimigo as vissem, se assustariam e fugiriam. Hoje, isso se tornou mais uma parte das festas de 2 de Julho na região, e essas mulheres, ainda que anônimas, continuam sendo lembradas", conta Jorge Ramos. 

 

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