Lavagem do Bonfim volta reunir milhares de fiéis após dois anos sem cortejo
Retomada foi de muitas demonstrações de fé e adoração
A bissecular Lavagem ao Senhor do Bonfim reuniu fiéis após dois anos sem o tradicional cortejo pela Cidade Baixa, em Salvador, nesta quinta-feira (12). Milhares de pessoas foram às rua para demonstrar fé e adoração.
A caminhada de cerca de 6 quilômetros partiu da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, onde a imagem da imaculada e do Bom Jesus do Bonfim foram veneradas pela população. A alvorada despertou a população no bairro do Comércio às 5h.
A festa é conhecida por reunir não somente os fiéis católicos, mas também religiosos de matrizes africanas, como o babalorixá William de Oxum, de um dos terreiros de candomblé que fica na cidade de Tanquinho, que fica a cerca de 160 km da capital baiana.
William participa da festa há mais de 10 anos e desta vez, trouxe a esposa e o filho para participarem do cortejo.
"Depois da pandemia e de tanta coisa que aconteceu durante os últimos dois anos, é um sentimento de gratidão, de reconhecimento e de fé, que nos reúne aqui, para hoje a gente poder voltar a se encontrar, poder fazer a caminhada da fé, a caminhada do amor, a caminhada do Senhor do Bonfim".
"Acreditamos que 2023 será um ano muito próspero, um ano da fertilidade, do amor e, com certeza, um ano de mais saúde. O início do ano começa na lavagem do Bonfim".
"Depois da pandemia e de tanta coisa que aconteceu durante os últimos dois anos, é um sentimento de gratidão, de reconhecimento e de fé, que nos reúne aqui, para hoje a gente poder voltar a se encontrar, poder fazer a caminhada da fé, a caminhada do amor, a caminhada do Senhor do Bonfim".
"Acreditamos que 2023 será um ano muito próspero, um ano da fertilidade, do amor e, com certeza, um ano de mais saúde. O início do ano começa na lavagem do Bonfim".
Outro babalorixá que é figurinha carimbada na lavagem é o Willian Damasceno. Na década de 1990, ele fraturou gravemente a tíbia em um acidente de carro. Em um momento de fé, o religioso pediu cura a Senhor do Bonfim, que é representação de seu orixá, Oxalá, no sincretismo religioso.
A promessa de Willian foi a seguinte: fazer o percurso do cortejo por 30 anos, a pé e descalço. Mesmo com a pandemia e sem a lavagem, o babalorixá cumpriu seu trajeto. Nesta lavagem, mesmo com a promessa paga, ele segue com a devoção.
"Esse é o ano da promessa já paga. Esse ano faz 31 anos e eu sigo nessa luta, porque eles [Oxalá e Senhor do Bonfim] não mandam, eles pedem. E a gente atende. Mesmo já tendo pago, eu tenho que continuar enquanto há vida" disse emocionado.
O cortejo da lavagem foi precedido por dois pelotões de corredores, que pagam promessas ao Senhor do Bonfim. A primeira saída foi às 6h e a segunda às 7h, minutos antes da partida da imagem do Bom Jesus.
Bençãos pelo fim do genocídio negro
O padre Edson Menezes, reitor da Basílica Nosso Senhor do Bonfim, também fez o cortejo a pé anualmente. Para 2023, o principal pedido — além das bençãos — foi o fim do genocídio negro, dos feminicídios e também dos assassinatos motivados por LGBTfobia.
"É preciso parar de matar negros. Negro não é marginal, é gente e precisa ser valorizada. A dignidade humana do negro precisa ser respeitada. A violência contra as mulheres, contra homossexuais, é preciso acabar com tudo isso e haver respeito e valorização pelas pessoas", pediu.
Neste ano, poucos grupos populares se juntaram à celebração. Um deles foi o bloco baiano Orishalá, presidido por Giba Gonçalves, que saiu de Paris — onde mora — para participar da celebração.
"A gente ficou muito ansioso por estar na rua, mas com muita cautela também, porque precisamos cuidar da saúde das pessoas, do bem estar. É uma doença [Covid] que não foi fácil. Então a gente teve que esperar o momento certo. Agora colocamos o bloco na rua, estamos aqui apresentando a nossa religião, de matriz africana, representando a diversidade".
Fiéis de longa data e novos participantes
O público da Lavagem do Bonfim é sempre diverso, com fiéis de longa data e também novos participantes. Há mais de seis décadas seguindo a tradição, Solange de Brito participa do festejo desde os 8 anos de idade.
"A pandemia impediu a gente por dois anos, mas agora, com muita fé, nós estamos aqui. É muito importante vir a pé, até aqui em cima, para demonstrar nossa fé", disse a idosa de anos.
Junto com quem participa há anos, está quem participa pela primeira vez. A sul-mato-grossense Claudia de Souza veio à Bahia agradecer pelas melhoras de uma cirurgia na coluna.
"Eu fiz uma cirurgia de coluna há quatro meses e vim hoje para conhecer a festa e também agradecer agora que também já já teve a primeira experiência. Pretendo vir de novo ano que vem. Com certeza eu vou estar aqui na lavagem".
Adoração da imagem do Bom Jesus e discurso progressista
A imagem do Senhor Bom Jesus do Bonfim chegou na Colina Sagrada por volta das 11h. Antes, na Avenida Dendezeiros, a imagem do anfitrião da festa se encontrou com a imagem da baiana Santa Dulce dos Pobres.
Na chegada na Basílica, a imagem foi recebida pelos fiéis de forma emocionada com muitas palmas.
Cortejada pelas baianas, que aguardavam para fazer a lavagem das escadarias, a imagem foi colocada no alto da igreja para contemplação. Neste ano, o adro foi fechado apenas para as baianas, a cúpula da basílica, políticos e os profissionais da imprensa.
Diferentemente dos anos anteriores, a frente da igreja foi fechada para controlar a quantidade de fiéis que amarram as fitinhas no gradil. Desta vez, a entrada foi liberada aos poucos, para evitar tumultos e favorecer o ritual das lavagens da escadaria, pelas baianas. A medida não foi contestada pela maioria dos fiéis.
"Tudo com organização fica melhor. É bom pra a gente, que não tem confusão, é bom para as baianas, que não precisam fazer as coisas com pressa", disse Rita de Cássia Monteiro.
A missa campal, presidida por padre Edson foi realizada por volta das 11h30. O reitor da basílica transmitiu mensagens de paz e pediu para que os cidadãos se unam em prol da paz e contra o autoritarismo, e desejou forças para que os brasileiros possam lutar contra as injustiças e pelo desarmamento da população.
"Não posso deixar de repudiar os atos violentos e terroristas ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro, quando foram depredadas as sedes do poder executivo, legislativo e judiciário. Que seus incentivadores, financiadores e mentores sejam julgados e condenados pelos seus crimes. É hora de defender a democracia", clamou.
O pároco também fez um discurso progressista sobre a necessidade da união dos povos de religiões, ideologias, raças e orientações sexuais diferentes, e foi ovacionado pelos fiéis.
"Precisamos defender os Direitos Humanos e condenar comportamentos agressivos, extremistas, violentos, que incentivam a segregação de qualquer gênero e a insistência de condenar ou excluir".
A caminhada de cerca de 6 quilômetros partiu da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, onde a imagem da imaculada e do Bom Jesus do Bonfim foram veneradas pela população. A alvorada despertou a população no bairro do Comércio às 5h.
A festa é conhecida por reunir não somente os fiéis católicos, mas também religiosos de matrizes africanas, como o babalorixá William de Oxum, de um dos terreiros de candomblé que fica na cidade de Tanquinho, que fica a cerca de 160 km da capital baiana.
William participa da festa há mais de 10 anos e desta vez, trouxe a esposa e o filho para participarem do cortejo.
"Depois da pandemia e de tanta coisa que aconteceu durante os últimos dois anos, é um sentimento de gratidão, de reconhecimento e de fé, que nos reúne aqui, para hoje a gente poder voltar a se encontrar, poder fazer a caminhada da fé, a caminhada do amor, a caminhada do Senhor do Bonfim".
"Acreditamos que 2023 será um ano muito próspero, um ano da fertilidade, do amor e, com certeza, um ano de mais saúde. O início do ano começa na lavagem do Bonfim".
"Depois da pandemia e de tanta coisa que aconteceu durante os últimos dois anos, é um sentimento de gratidão, de reconhecimento e de fé, que nos reúne aqui, para hoje a gente poder voltar a se encontrar, poder fazer a caminhada da fé, a caminhada do amor, a caminhada do Senhor do Bonfim".
"Acreditamos que 2023 será um ano muito próspero, um ano da fertilidade, do amor e, com certeza, um ano de mais saúde. O início do ano começa na lavagem do Bonfim".
Outro babalorixá que é figurinha carimbada na lavagem é o Willian Damasceno. Na década de 1990, ele fraturou gravemente a tíbia em um acidente de carro. Em um momento de fé, o religioso pediu cura a Senhor do Bonfim, que é representação de seu orixá, Oxalá, no sincretismo religioso.
A promessa de Willian foi a seguinte: fazer o percurso do cortejo por 30 anos, a pé e descalço. Mesmo com a pandemia e sem a lavagem, o babalorixá cumpriu seu trajeto. Nesta lavagem, mesmo com a promessa paga, ele segue com a devoção.
"Esse é o ano da promessa já paga. Esse ano faz 31 anos e eu sigo nessa luta, porque eles [Oxalá e Senhor do Bonfim] não mandam, eles pedem. E a gente atende. Mesmo já tendo pago, eu tenho que continuar enquanto há vida" disse emocionado.
O cortejo da lavagem foi precedido por dois pelotões de corredores, que pagam promessas ao Senhor do Bonfim. A primeira saída foi às 6h e a segunda às 7h, minutos antes da partida da imagem do Bom Jesus.
Bençãos pelo fim do genocídio negro
O padre Edson Menezes, reitor da Basílica Nosso Senhor do Bonfim, também fez o cortejo a pé anualmente. Para 2023, o principal pedido — além das bençãos — foi o fim do genocídio negro, dos feminicídios e também dos assassinatos motivados por LGBTfobia.
"É preciso parar de matar negros. Negro não é marginal, é gente e precisa ser valorizada. A dignidade humana do negro precisa ser respeitada. A violência contra as mulheres, contra homossexuais, é preciso acabar com tudo isso e haver respeito e valorização pelas pessoas", pediu.
Neste ano, poucos grupos populares se juntaram à celebração. Um deles foi o bloco baiano Orishalá, presidido por Giba Gonçalves, que saiu de Paris — onde mora — para participar da celebração.
"A gente ficou muito ansioso por estar na rua, mas com muita cautela também, porque precisamos cuidar da saúde das pessoas, do bem estar. É uma doença [Covid] que não foi fácil. Então a gente teve que esperar o momento certo. Agora colocamos o bloco na rua, estamos aqui apresentando a nossa religião, de matriz africana, representando a diversidade".
Fiéis de longa data e novos participantes
O público da Lavagem do Bonfim é sempre diverso, com fiéis de longa data e também novos participantes. Há mais de seis décadas seguindo a tradição, Solange de Brito participa do festejo desde os 8 anos de idade.
"A pandemia impediu a gente por dois anos, mas agora, com muita fé, nós estamos aqui. É muito importante vir a pé, até aqui em cima, para demonstrar nossa fé", disse a idosa de anos.
Junto com quem participa há anos, está quem participa pela primeira vez. A sul-mato-grossense Claudia de Souza veio à Bahia agradecer pelas melhoras de uma cirurgia na coluna.
"Eu fiz uma cirurgia de coluna há quatro meses e vim hoje para conhecer a festa e também agradecer agora que também já já teve a primeira experiência. Pretendo vir de novo ano que vem. Com certeza eu vou estar aqui na lavagem".
Adoração da imagem do Bom Jesus e discurso progressista
A imagem do Senhor Bom Jesus do Bonfim chegou na Colina Sagrada por volta das 11h. Antes, na Avenida Dendezeiros, a imagem do anfitrião da festa se encontrou com a imagem da baiana Santa Dulce dos Pobres.
Na chegada na Basílica, a imagem foi recebida pelos fiéis de forma emocionada com muitas palmas.
Cortejada pelas baianas, que aguardavam para fazer a lavagem das escadarias, a imagem foi colocada no alto da igreja para contemplação. Neste ano, o adro foi fechado apenas para as baianas, a cúpula da basílica, políticos e os profissionais da imprensa.
Diferentemente dos anos anteriores, a frente da igreja foi fechada para controlar a quantidade de fiéis que amarram as fitinhas no gradil. Desta vez, a entrada foi liberada aos poucos, para evitar tumultos e favorecer o ritual das lavagens da escadaria, pelas baianas. A medida não foi contestada pela maioria dos fiéis.
"Tudo com organização fica melhor. É bom pra a gente, que não tem confusão, é bom para as baianas, que não precisam fazer as coisas com pressa", disse Rita de Cássia Monteiro.
A missa campal, presidida por padre Edson foi realizada por volta das 11h30. O reitor da basílica transmitiu mensagens de paz e pediu para que os cidadãos se unam em prol da paz e contra o autoritarismo, e desejou forças para que os brasileiros possam lutar contra as injustiças e pelo desarmamento da população.
"Não posso deixar de repudiar os atos violentos e terroristas ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro, quando foram depredadas as sedes do poder executivo, legislativo e judiciário. Que seus incentivadores, financiadores e mentores sejam julgados e condenados pelos seus crimes. É hora de defender a democracia", clamou.
O pároco também fez um discurso progressista sobre a necessidade da união dos povos de religiões, ideologias, raças e orientações sexuais diferentes, e foi ovacionado pelos fiéis.
"Precisamos defender os Direitos Humanos e condenar comportamentos agressivos, extremistas, violentos, que incentivam a segregação de qualquer gênero e a insistência de condenar ou excluir".
A celebração foi encerrada com a tradicional despedida: "até o ano que vem, se Deus quiser".
Com informações do G1 BA.
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