Documentos vazados mostram que Uber violou leis e enganou autoridades, diz jornal
A plataforma tentou fazer lobby com o presidente norte-americano, Joe Biden
A Uber infringiu leis, explorou a violência contra motoristas, escondeu informações de autoridades em diferentes países e tentou fazer lobby com o presidente norte-americano, Joe Biden, de acordo com reportagem do jornal britânico The Guardian publicada neste domingo (10).
O jornal afirma ter tido acesso a mais de 124 mil documentos vazados que expõem práticas ilegais e eticamente questionáveis da gigante da tecnologia.
Segundo a reportagem, o vazamento abrange um período de cinco anos em que a Uber era administrada por seu co-fundador Travis Kalanick. O executivo teria introduzido os serviços da empresa em cidades ao redor do mundo violando leis e regulamentos locais. Durante a gestão, e empresa teria criado uma técnica para esconder e se livrar de informações caso algum escritório fosse investigado.
Os documentos obtidos pelo Guardian ainda mostrariam como a empresa se aproximou de políticos e grandes empresários da mídia ao redor do mundo em busca de apoio. Entre eles Joe Biden, quando era vice-presidente dos Estados Unidos, e Emmanuel Macron, quando era ministro da Economia da França.
Segundo a reportagem, mensagens vazadas ainda sugerem que os executivos da Uber sabiam das práticas ilegais e debochavam disso, sugerindo que eles haviam se tornado "piratas".
Em um comunicado enviado ao jornal britânico, a Uber admitiu "erros e equívocos", mas disse que foi transformada desde 2017 sob a liderança de seu atual presidente-executivo, Dara Khosrowshahi.
"Não temos e não vamos dar desculpas para comportamentos passados que claramente não estão alinhados com nossos valores atuais", afirmou. "Em vez disso, pedimos ao público que nos julgue pelo que fizemos nos últimos cinco anos e pelo que faremos nos próximos anos."
Os arquivos abrangem o período de 2013 a 2017 e incluem mais de 83 mil emails, mensagens de texto e conversas de WhatsApp entre Kalanick e executivos.
O Guardian disse liderar uma investigação a nível global sobre os arquivos vazados da Uber e que as informações foram compartilhadas com organizações de imprensa de todo o mundo por meio do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), que reúne mais de 180 jornalistas de 40 meios de comunicação, incluindo Le Monde, Washington Post e BBC.
O grupo é o mesmo que, em 2021, revelou o caso Pandora Papers.
De acordo com o jornal britânico, os executivos da empresa enxergavam sem preocupação os episódios de violência sofridos pelos motoristas. Em diversas cidades do mundo, os motoristas foram atacados por pessoas ligadas ao setor de taxistas, resistentes à liberação do serviço de motorista por aplicativo.
Durante um protesto realizado na França, Kalanick teria se mostrado despreocupado com a possibilidade de motoristas da Uber serem agredidos por taxistas. Em uma das conversas, o executivo teria afirmado que valeria a pena e que a violência garantiria o sucesso da empresa.
Procurado pelo Guardian, um porta-voz de Kalanick disse que o executivo nunca sugeriu que a Uber deveria tirar vantagem da violência às custas da segurança dos motoristas e que qualquer sugestão de que ele estivesse envolvido em tal atividade é "completamente falsa".
O presidente francês Emmanuel Macron também é citado na reportagem do Guardian. Segundo o jornal britânico, Macron teria secretamente ajudado a empresa na França na época em que era ministro da Economia, entre 2014 e 2016, e feito um esforço para a ajudar a Uber a entrar no país.
Atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden também é citado nas conversas vazadas dos executivos, que teriam tentado se aproximar do político na época em que ele era vice de Barack Obama.
Segundo o jornal, Biden se encontrou com Kalanick durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Após o encontro, o americano teria mudado o discurso que faria. Na ocasião, Biden chegou a falar de um CEO cuja empresa daria a milhões de trabalhadores liberdade para trabalhar quantas horas quisessem.
As conversas vistas pelo Guardian também mostram, segundo o jornal, como os funcionários enxergavam políticos que eram contra o modelo de negócios da empresa.
Olaf Scholz, que era prefeito de Hamburgo na época em que a empresa chegou na cidade, teria feito oposição aos lobistas da Uber e insistido em pagar um salário mínimo aos motoristas. Por isso, foi chamado de "comediante".
De acordo com a reportagem, a empresa teria um esquema para esconder informações. A técnica, chamada de Kill Switch (botão de desligar, em inglês), seria um protocolo para que funcionários de TI cortassem acesso aos principais dados da empresa. Ela teria sido executada 12 vezes.
Para o jornal, o porta-voz de Kalanick disse que esses protocolos são uma prática comercial comum e não foram projetados para obstruir a Justiça. Ele diz ainda que a empresa nunca foi acusada de obstrução da justiça ou delito relacionado.
Ao jornal, a Uber informou que parou de usar o sistema em 2017 e que o método nunca deveria ter sido usado para impedir uma ação regulatória legítima.
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