Racismo estrutural segrega negros no mercado de trabalho

GeralNovembro negro

Racismo estrutural segrega negros no mercado de trabalho

Salário médio de trabalhadores negros foi 45% menor do que o dos brancos 

Em 2020, o salário médio de trabalhadores negros foi 45% menor do que o dos brancos, de acordo com a Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A mesma pesquisa mostra que entre as mulheres negras a situação é pior ainda. A média salarial para elas chegou a ser a 70% menor do que das mulheres brancas. Na matéria de hoje da série especial do Jornal Folha do Estado sobre o mês da consciência negra, o tema é o negro no mercado de trabalho.

Não importa o grau de escolaridade, mesmo negros com curso superior ganham menos que os brancos. De acordo com uma pesquisa do Instituto Locomotiva, o salário médio de homens não negros com ensino superior em 2020 ficou em R$ 7.033,00, enquanto o dos negros ficou em R$ 4.834,00, uma diferença de 31% a menos. Já as mulheres negras com formação superior receberam no ano passado salário médio de R$ 3.712,00 contra R$ 4.760,00 das mulheres brancas. Os negros também ocupam menos os cargos de diretoria. De acordo com uma pesquisa do site (Vagas.com), somente 0,7% dos cargos mais altos de empresas são ocupados pelos negros, que ainda de acordo com a pesquisa, ocupam 47,6% dos trabalhos operacionais. Os dados da pesquisa apontam outras desigualdades. O ano de 2020 fechou com índice geral de desemprego em 13,3%. No recorte racial, a taxa chegou a 17,8% entre os pretos e 15,4% entre os pardos. Para os brancos ficou em 10,4%.

E mais: o percentual de pretos ou pardos na informalidade chegou a 47,4% em 2020, enquanto entre os trabalhadores brancos foi de 34,5%. Depois de todos esses números comprovando a enorme desigualdade, muitos devem se perguntar: por que o negro ocupa postos precários e de menor renda no mercado de trabalho? E porque o desemprego atinge mais a população negra do que a não negra? Para ter as respostas, abrimos o livro de história e conversamos com estudiosos sobre o tema.

Ao assinar a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel, teoricamente, colocou fim à escravidão no Brasil. O que não se ensina na maioria das escolas desde então é que não houve a criação de nenhuma medida de proteção social aos escravos, que estariam em liberdade e jogados à própria sorte. Sem trabalho nem renda para sobreviver, as mulheres tiveram de se sujeitar a continuar servindo aos fazendeiros em serviços domésticos, por pequena remuneração, ou em troca de comida e casa para morar.

Os homens foram simplesmente descartados e jogados à margem da sociedade. Vem daí o termo 'marginalidade', já que esses homens praticavam delitos para poder comer e garantir um mínimo de sobrevivência. E com o passar dos tempos, estigmatizados, os negros continuaram submetidos às oportunidades de trabalho mais precárias, na grande maioria, trabalhos braçais. Rosana Fernandes, secretária-adjunta de Combate ao Racismo, explica que a herança da escravidão ficou e hoje a população negra ainda convive com a discriminação, que se reflete diretamente no mercado de trabalho. "Com o fim da escravidão, a população negra foi jogada à sociedade, nas periferias, sem nenhum processo de inserção social e com o passar dos anos, infelizmente, o que vemos é a naturalização dessas situações".

Para comprovar que esta realidade persiste, é possível fazer o 'teste do pescoço', proposto pela ativista Luh de Souza e idealizado pelo professor Francisco Antero. De forma lúdica, o teste propõe que as pessoas "metam o pescoço" em espaços para contar quantos negros ali estão. "Meta o pescoço dentro das joalherias e conte quantos negros e negras são balconistas. Vá a escolas particulares como Objetivo, Dante Alighieri, entre outras, e espiche o pescoço nas salas de aulas para contar quantos negros há. Conte também quantos professores. Vá a hospitais como Sírio Libanês e conte nos quartos quantos pacientes são negros e quantos negros médicos há", diz.

Outras situações ainda são citadas como 'meter o pescoço' nas cadeias, orfanatos, casas de correção para menores e contar quantos são brancos, e "espichar o pescoço numa reunião dos partidos PSDB e DEM, como exemplo, e contar quantos políticos são negros desde a fundação".

"A realidade comprova que os negros ocupam, de fato, postos de trabalho sem proteção social, com menores valores salariais, sem direitos, empregos em que a opressão e assédio moral e sexual estão representes", diz Rosana. Ela afirma também que os negros são os primeiros a perder o emprego em tempos de crise econômica, em especial as mulheres negras. 

 

Comentários:

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Já Registrado? Acesse sua conta
Visitante
Sexta, 20 Setembro 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.jornalfolhadoestado.com/