Mães negras enfrentam desafio diário de criar filhos empoderados

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Mães negras enfrentam desafio diário de criar filhos empoderados

Esse é o tema da terceira matéria especial do novembro negro

Crédito: Felipe Aruata

Para além dos desafios enfrentados pelos pais para criar os filhos, os pais de crianças negras ainda precisam saber lidar com situações impostas pelo racismo estrutural e institucional que, diariamente, atingem essa parcela da população e, consequentemente, refletem no desenvolvimento e na saúde mental dessas crianças. Esse é o tema da terceira matéria especial do novembro negro.

Se para muitos pais não negros a dificuldade está, por exemplo, em explicar por qual motivo não pode comprar determinado brinquedo, para os pais negros a questão, entre outras inerentes às curiosidades próprias da idade, está em fazê-lo entender que, pelo simples fato de ter nascido negro, encontrará diversas barreiras pelo caminho.

E é driblando as adversidades com base no passado, mas com o olhar voltado no futuro que a técnica de enfermagem Elane Nascimento, 39 anos, educa o filho João Victor, de 10 anos. "Realmente não é fácil, porque não basta ensinar a não ser racista, é preciso ensinar a ter atitudes antirracista, é lutar contra o sistema, e dar a ele embasamento sólido para argumentar e reconhecer alguns discursos racistas camuflados e combater. A estratégia aqui em casa é baseada em conhecimento e diálogo. Conhecimento da história de luta do nosso povo negro para que chegássemos até aqui impondo respeito, lutando para ter voz e vez porque a luta é contínua e estamos muito longe de uma sociedade igualitária. Os diálogos são constantes porque ele sempre traz questões onde coloco ele para pensar e chegar às suas próprias conclusões", explica ela.

Elane conta que, embora a teoria seja muito importante para o desenvolvimento e conscientização do filho, ela precisa estar sempre alinhada às práticas, ratificando as vivências de cada membro envolvido neste processo de desconstrução e reconstrução.

"Acredito no exemplo para tudo na vida. Não adianta eu exaltar o cabelo dele enquanto aliso o meu. Nada contra quem alisa, acho que somos livres para sermos o que quisermos ser e como nos sentirmos bem. Ele sempre me viu cuidando do meu crespo com verdadeira paixão, sempre falei o quanto nós, negros, somos lindos, nossos traços são marcantes e isso foi tão natural, tão verdadeiro que nunca existiu nenhum questionamento contrário. Ele sempre se olha no espelho e fala: 'cara, tu é lindo, viu!'' Eu acho tão lindo a forma que ele se vê, acho que estou no caminho certo em relação a educação dele", conclui a mãe, orgulhosa.

Com certeza, Elane pode se orgulhar da forma como vem educando João Victor, pois os reflexos dessa educação já são visíveis no empoderamento e na autoestima do pequeno. "Eu me olho no espelho e me reconheço, sinto orgulho e me acho lindo. Gosto de meu cabelo black, porque é assim que eu sou de verdade", declara João. A autônoma Leila Carvalho, 38, conta que, apesar da filha ter apenas 2 anos e três meses, e ainda não compreender os processos discriminatórios que recaem sobre o povo negro, desde sempre tenta mostrar a ela a importância da auto aceitação e valorização.

"Falo sempre que ela é linda, que ela é uma princesa. Ela é muito linda. Espero para o futuro dela que este mundo seja menos preconceituoso, que ela nunca passe pelas coisas que eu já passei e passo. Um negro entra no mercado, em uma loja, e os seguranças só ficam atrás. Então, não quero que ela passe por isto", desabafou a mãe da pequena Layanne.

"A maior dificuldade é não deixar que ela seja contaminada com todas as informações racistas que são veiculadas diariamente pela mídia convencional. Minha principal estratégia é enfatizar a beleza que é inerente ao povo negro e procuro não depreciar a imagem dos outros", ressalta Daiane afirmando que, apesar da filha já ter sofrido com o racismo na escola, não permitiu que a situação a afetasse emocionalmente. 

 

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Segunda, 23 Dezembro 2024

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