Elas vão à luta como motoristas e cumprem duplas jornadas
Somente no transporte público urbano atuam 196 mulheres
Batendo volante 6 horas por dia, como diz no jargão popular, a rotina de trabalho de Ivonice Marques, 39 anos, fora do lar começa no início da tarde e se estende até à noite. Mesmo com pouco tempo na profissão de motorista [são cinco anos nessa atividade] diz que é boa no que faz, atribuindo à habilidade e paciência características do sexo feminino.
Mãe, esposa e dona de casa são funções que Ivonice concilia junto à profissão de motorista no transporte público de Feira de Santana. Também costuma pegar na enxada para cuidar da propriedade onde mora, no distrito de Maria Quitéria (São José), e acorda cedo para ir à academia.
"No início senti um pouco de medo, que é normal pra quem está iniciando em uma nova profissão e que, até então, era dominada pelos homens. Hoje me sinto completamente segura e realizada", afirma Ivonice que já foi cozinheira em restaurante e trabalhou como doméstica.
Ela é uma das 115 colaboradoras da Empresa Rosa e atua como motorista. Entre os demais colegas homens que conduzem o volante, segundo ela, não há distinção na relação, e sempre houve respeito.
Conduzido um veículo tipo convencional com capacidade para 140 passageiros, que atende a linha 71/George Américo, Ivonice destaca a grande responsabilidade que essa atividade requer. "São vidas que nós transportamos. A atenção no trânsito tem que ser redobrada", diz.
A retribuição chega para a motorista de ônibus nas palavras de carinho e na troca de sorrisos entre ela e os passageiros, desde os mais velhos às crianças. É assim todos os dias. "Isso motiva e me mostra que estou na profissão certa", comenta.
Jane Sueli dos Santos, de 46 anos, está mais tempo na profissão. Ela contabiliza 14 anos como motorista de ônibus - atualmente trabalha na Concessionária São João. Diz que nesse período recebeu mais elogios a críticas ou palavras preconceituosas.
"Muitos ficam deslumbrados ao me ver a frente do volante e me parabenizam por ser mulher. São reações que demonstram muito mais aceitação a qualquer crítica negativa", afirma a motorista que atualmente circula na linha do Feira X.
Nas horas que não está dirigindo, cumpre a jornada de dona de casa e esposa. Cozinha, lava e passa. E faz tudo de forma planejada para dar conta de tudo. "Sou uma mulher realizada e feliz".
MOTOGIRL
Andrea Amorim, 46, é mototaxista, a primeira mulher em Feira de Santana a entrar nessa profissão. Já são mais de 25 anos em cima de uma moto trabalhando dia e noite. Mulher decidida e articulada, diz que já enfrentou o preconceito tanto por homens quanto mulheres.
"Venci essa etapa. Afinal, temos clientes que colocam a gente lá em cima. Eles falam que sou guerreira e que não é todo mundo que tem essa coragem. E mesmo sendo uma profissão arriscada e perigosa, eu amo trabalhar como mototaxista. É o que me faz bem", afirma enquanto aguarda o próximo passageiro em frente ao TRE, na avenida José Falcão, Queimadinha.
Assim como Ivonice, Andrea e Jane há tantas outras "Marias" que se desdobram em várias funções com maestria. Não há como esquecer aquelas que também estão no trânsito diariamente como motoristas de veículos por aplicativo ou de táxi e as que pedalam a bicicleta para realizar entregas por delivery.
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