Dia das mães: desafios e responsabilidades além dos muros
O Jornal Folha do Estado ouviu detentas que contam o sentimento de estar longe dos filhos nesta data especial.
No contexto do Dia das Mães e dados sobre uma pesquisa realizada pela Defensoria Pública da Bahia, o Jornal Folha do Estado lança luz sobre as mães encarceradas, revelando uma realidade marcada por desafios e responsabilidades únicas. Os resultados destacam não apenas a maternidade como um aspecto significativo na vida dessas mulheres, mas também as complexidades adicionais que enfrentam atrás das grades.
De acordo com os dados coletados, 44% das mulheres encarceradas na Bahia são mães, sendo que uma parcela considerável possui mais de um filho. Entre elas, 21,1% têm dois filhos, 20,1% têm três e 14,8% são mães de quatro ou mais crianças. Esses números evidenciam não apenas a presença expressiva da maternidade, mas também a multiplicidade de responsabilidades que essas mulheres carregam consigo.
A.C, de 32 anos, foi presa há 5 anos por tráfico de drogas. Mas, ela não carrega só essa marca. Também é mãe de 2 filhos, de 8 e 10 anos, que vivem com a avó. "Ser mãe e estar presa é como ter o coração partido em dois. Sinto falta dos meus filhos todos os dias, e a maior dor é saber que estou perdendo momentos importantes da vida deles. Cada dia que passa é um dia a menos que posso abraçá-los, beijá-los e dizer o quanto os amo", disse.
"A gente se culpa muito por estar aqui, por não poder cuidar dos nossos filhos como deveria. Mas, a verdade é que a vida nos colocou em situações difíceis, e a gente fez o que pôde para sobreviver. Não somos monstros, somos mães que erramos, mas que amam seus filhos incondicionalmente", declara a detenta.
Ao analisar a faixa etária dos filhos das mulheres encarceradas, a pesquisa revela que 37,2% delas têm apenas um filho com até 12 anos de idade. No entanto, um percentual significativo de 24% é responsável por dois a quatro filhos nessa faixa etária. Surpreendentemente, apenas 0,8% das mulheres entrevistadas afirmaram ter mais de quatro filhos menores de 12 anos. Além disso, em 38% dos casos, as mães encarceradas têm filhos com mais de 12 anos, destacando a diversidade de idades e necessidades que encontram-se sob seu cuidado.
M.S, de 45 anos, foi presa há 10 anos por assalto. Mãe de 3 filhos, de 15, 18 e 22 anos, que vivem sozinhos retrata também outra realidade, a dos filhos que sentem saudades de suas mães, que ficaram aqui fora, e acabam recebendo das mães detentas, um alento. "Aqui dentro, a gente se torna mãe de todas as crianças que vieram parar aqui. Cuida, protege, educa... Faz o que pode para dar um pouco de amor e carinho para quem precisa. O Dia das Mães é um dia muito difícil para nós. A gente fica pensando nos nossos filhos, chorando de saudade. É um dia que só aumenta a nossa dor. Só quem viveu sabe o que é ser mãe e estar presa. É uma dor que ninguém imagina, um sofrimento que não tem fim, mas, tem quem também tem saudade da mãe e abraça a gente", contou.
Outro aspecto crucial revelado pela pesquisa é a questão da paternidade. Em uma proporção alarmante de 61,5% dos casos analisados, não há registro de paternidade dos filhos dessas mulheres. Isso ressalta não apenas a vulnerabilidade dessas crianças em relação aos direitos parentais, mas também a sobrecarga que recai sobre as mães encarceradas na ausência de apoio paterno.
Em suma, os dados revelam uma realidade complexa e multifacetada para as mães encarceradas na Bahia, destacando a importância de abordagens sensíveis e inclusivas no sistema de justiça criminal. Enquanto celebramos o Dia das Mães, é crucial reconhecer e enfrentar os desafios únicos enfrentados por essas mulheres e suas famílias, trabalhando para garantir o respeito aos seus direitos e o apoio necessário para um futuro mais justo e inclusivo.
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