Através de reparação, bancário retorna ao trabalho após 59 anos de espera

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Através de reparação, bancário retorna ao trabalho após 59 anos de espera

Aos 80 anos, Osmar Ferreira está sendo readmitido pelo banco de onde fora 

Crédito; Mário Sepúlveda/FE

Depois de uma longa espera, de 59 anos, o bancário Osmar Ferreira vai reassumir as suas atividades, que foram interrompidas com o Golpe Militar de 1964, quando ele foi preso acusado de subversão e demitido sumariamente do banco onde trabalhava. Há 40 anos, ele iniciou uma longa batalha judicial que terminou ontem com o início do processo de readmissão por parte da instituição bancária.

Antes de se tornar bancário, ainda como estudante, Osmar Ferreira participou de movimentos estudantis, em uma época de efervescência política no Brasil. "Estive envolvido na fundação de vários grêmios estudantis pelas escolas da cidade, sempre tendo um papel destacado de liderança, até entrar para o Banco da Bahia para iniciar as minhas atividades. Até que em 1964 aconteceu o famigerado golpe militar que marcou de forma negativa a história de milhares de pessoas espalhadas por este país, inclusive a minha", conta.

A onda de repressão começava, com a prisão de diversas pessoas e Osmar Ferreira acabou sendo preso quando exercia a sua atividade dentro da agência bancária. "Tenho certeza que isso aconteceu por perseguição política, pelo histórico de liderança estudantil e assim fui levado por policiais alagoanos que estavam na cidade reforçando a tropa local. Fui levado para o Batalhão da Policia Militar, onde fui torturado assim como tantos outros conhecidos, porém, as agressões físicas que sofri nem se comparam as que outros sofreram e acabaram mortos", recorda Osmar.

Depois de um tempo preso, Osmar Ferreira conseguiu a liberdade graças às intervenções do advogado Hugo Navarro e do médico Alberto Sampaio de Oliveira. "Eles eram amigos do meu pai e pertenciam a UDN. Intercederam diretamente por mim e assim fui libertado, mas sob a condição de me apresentar constantemente no Batalhão, duas vezes ao dia", observa.

Apesar da liberdade, o que ele não imaginava era de que seria demitido do Banco da Bahia. "Ai foi sofrimento porque demitido do banco, eu não conseguia emprego em lugar nenhum. Para completar, já na década de 70, o Banco da Bahia foi incorporado ao Banco Bradesco. Tive que me virar para sobreviver e trabalhei como caminhoneiro, junto com meu pai para conseguir o sustento", conta.

A SAGA

Com a queda do Regime Militar e o início da redemocratização do Brasil, Osmar Ferreira entrou na Justiça com o pedido de anistia política. "Isso aconteceu em 1983, porém somente em 2011 é que consegui a tão desejada anistia, o que me possibilitou por meio do Sindicato dos Bancários entrar com uma ação trabalhista exigindo uma reparação pela forma como fui demitido e os danos que isso havia me causado. A situação foi rolando até o advogado Bradesco nos apresentou quatro planilhas de cálculos que deveriam ser pagos a mim e disse que o meu caso era de reintegração. Para se ter uma ideia, uma das planilhas constava valores de salários e outros encargos retidos, que a soma total era de R$ 14 milhões", conta Osmar Ferreira.

Ele, através do seu advogado, entrou com uma petição arguindo a confissão da dívida e o caso foi parar na 1ª Vara do Trabalho de Feira de Santana. "A juíza que julgou o caso entendeu que os valores que deveriam ser cobrados seriam referentes aos salários e estes deveriam ser atualizados. Feito isso, se chegou ao valor de R$ 5,4 milhões. A decisão foi homologada e inclusive o Banco Central foi oficiado para que retivesse estes valores", informou

Agora, em 2023, Osmar foi convocado a se apresentar ao banco para iniciar o processo de readmissão, o que aconteceu ontem. "Dei entrada na papelada e agora espero que eles definam aonde vou trabalhar e qual a função que exercerei no banco. Foi uma 'vitória de Pirro', onde não tive uma reparação econômica, mas sim uma reparação moral pelo que fizeram comigo", comentou.

Aos 80 anos, Osmar Ferreira garante estar pronto para voltar ás suas atividade e nem pensa em aposentadoria por agora. "Desde os meus 16 anos eu conheço as desigualdades sociais do Brasil e sinceramente o quero deixar de lição para os trabalhadores é seguinte: lutar, sempre, desistir, jamais", declarou.
 

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Sábado, 23 Novembro 2024

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