COVID-19 pode desencadear problemas de tireoide
Os casos se resolvem após várias semanas
O coronavírus mudou a vida de todos. Uso de máscara, maior higienização das mãos, cuidados pessoais redobrados, vacinação em massa em todo planeta e outras mudanças foram necessárias à sobrevivência. Nesse cenário, os profissionais da área da saúde também precisaram se esforçar como nunca, seja no tratamento das pessoas acometidas pelo vírus ou na dedicação aos estudos para entender as peculiaridades desse inimigo global. O fato é que o vírus vem se mostrando um grande desafio para toda humanidade.
Em abril de 2021, um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Milão, na Itália, mostrou que pacientes com COVID-19 podem desenvolver problemas na tireoide.
Eles encontraram evidências de que a infecção por coronavírus pode desencadear a inflamação da glândula em alguns pacientes. Os casos típicos de tireoidite subaguda se resolvem após várias semanas.
Para entender melhor como funciona a glândula tireoide a médica endocrinologista Camila Benício respondeu algumas perguntas sobre o tema.
Pacientes que tiveram COVID-19 podem desenvolver problemas na tireoide?
Podem sim. A isso chamamos de tireoidite granulomatosa por COVID-19, ou simplesmente tireoidite pós-COVID-19. Já é bem estabelecido em literatura que infecções virais do trato respiratório superior podem causar alterações subagudas da função tireoidiana, decorrentes de um processo inflamatório da glândula tireóide, podendo levar à disfunção tireoidiana transitória ou permanente.
A disfunção tireoidiana em pacientes com COVID-19 pode incluir destruição direta da glândula pelo vírus SARS-CoV-2, levando à liberação dos estoques de hormônios nela armazenados; precipitação de mecanismos imunomediados, sendo a tireoidite autoimune ou doença de Graves ocasionalmente desencadeadas pela "tempestade inflamatória" induzida pela infecção, e síndrome do eutireoidiano doente.
Quais os sintomas mais comuns nesses casos?
A tireoidite subaguda relacionada ao COVID-19 geralmente é relatada como indolor e se apresenta com tireotoxicose, que em alguns casos é seguida por hipotireoidismo, podendo este ser transitório ou permanente.
Na fase de tireotoxicose, ou seja, liberação de hormônio tireoidiano ativo na circulação sanguínea, podem ocorrer manifestações clínicas leves, que vão desde alterações de humor e comportamento, com agitação e ansiedade, trânsito intestinal acelerado, tremor de extremidades, calor excessivo, palpitações, ou mais graves, como arritmias cardíacas.
A disfunção tireoidiana também apareceu associada a casos mais graves da COVID-19?
O problema mais frequente relacionado à tireóide no tratamento da COVID-19, especialmente em pacientes hospitalizados e em unidades de terapia intensiva, é o eutireoidismo doente.
O eixo tireoidiano é profundamente afetado durante doenças críticas, sendo a magnitude dessas alterações dependentes do tempo e da gravidade delas. Como mecanismo de defesa do nosso organismo frente a uma situação de estresse aguda e grave. Sendo assim, ocorre diminuição da taxa metabólica, com redução da concentração de hormônios tireoidianos metabolicamente ativos. Após melhora da condição que causou todo esse estresse agudo, há uma resposta fisiológica levando à normalização da função tireoidiana, sem necessidade de reposição hormonal nessa situação.
A vacina tem tido alguma influência na melhora desse quadro?
Ainda não há estudos científicos que comprovem esta relação. Porém, falando de forma observacional, a vacinação tem mostrado uma redução dos números da doença, tanto em relação ao número de pacientes infectados, quanto de casos graves e internamentos, podendo refletir como consequência das complicações advindas da doença.
Homens e mulheres são igualmente afetados?
De um modo geral, as doenças da tireoide, especialmente as relacionadas à autoimunidade, são mais comuns em mulheres.
Os dados atuais em relação às alterações tireoidianas pelo SARS-CoV-2 ainda não permitem concluir de forma fidedigna essa informação.
Essa inflamação pode causar disfunção em longo prazo?
Em estudos observacionais de pacientes com SARS-CoV-2, foram vistas alterações dos níveis hormonais na fase aguda da doença, que persistiram reduzidos no período de convalescença. Na maioria dos casos, essas alterações foram transitórias e resolvidas durante o acompanhamento.
Na situação de precipitação de mecanismos autoimunes, que acontece em geral em indivíduos que já tinham previamente alguma predisposição para tal, as alterações têm maior duração, com necessidade de tratamento específico e seguimento de longo prazo. Possíveis complicações relacionadas a essas doenças autoimunes incluem hipertireoidismo com ou sem tireotoxicose, hipotireoidismo e oftalmopatia de Graves.
Como fica o tratamento do hipotireoidismo ou hipertireoidismo caso a pessoa tenha sido diagnosticada com o coronavírus?
O tratamento não deve sofrer nenhuma alteração no caso de contágio pelo coronavírus. Recomenda-se que os pacientes mantenham o uso de seus medicamentos. Nos casos de maior gravidade, em que for necessária a internação hospitalar, é importante que a equipe médica responsável seja informada. De forma geral, recomenda-se o rastreio da função tireoidiana após os 35 anos e, em casos de COVID-19, é necessário verificar sintomas como queda de cabelo, por exemplo, que possam indicar alguma disfunção.
A tireoide é uma glândula em forma de borboleta localizada na parte frontal da garganta e é muito importante para uma ampla gama de funções fisiológicas, incluindo o metabolismo.
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