OnlyFans se tornou renda de criadores de conteúdo
Mais de 180 milhões de pessoas se cadastraram na plataforma
Desde o final de 2020, quando passou a investir com força em fotos e vídeos para os assinantes de seu perfil, Thamires - que, por lá, é conhecida como Folgosa - se divide entre o trabalho e a rotina em casa com o marido e a filha de 5 anos. Hoje, ela consegue faturar entre dois e três mil dólares por mês com o OnlyFans. Em dezembro, chegou a US$ 5 mil.
"Quando você começa uma coisa nova, você tem que se informar sobre quais são os riscos e os bônus. O risco maior é ter seu conteúdo vazado e pessoas que você não quer que vejam aquilo verem. Foram coisas que eu tive que pensar: estou preparada para isso? Será que a grana vai valer toda essa exposição", lembra ela, que já tinha tido uma experiência como camgirl.
Em todo o mundo, são mais de dois milhões de pessoas como Thamires - criadoras de conteúdo no OnlyFans, de acordo com a plataforma. Mas não são só "anônimos" - ou seja, gente comum, que você pode encontrar na padaria. A lista de quem oferece o serviço inclui nomes como a atriz e ex-bbb Maria Andrade (desclassificada do programa esta semana); ex-Disney Channel Bella Thorne (a mesma que fazia dupla com Zendaya, na série No Ritmo) e Anitta. Foi em seu perfil no OnlyFans, inclusive, que Anitta publicou o famigerado vídeo em que estava sendo tatuada na região anal.
De 2016, quando foi fundado no Reino Unido, para cá, mais de 180 milhões de pessoas se cadastraram no OnlyFans, no mundo - quase a população do Brasil. O fenômeno só cresce: diariamente, segundo a assessoria do site, são 500 mil novos usuários se registrando e pagando diretamente aos criadores de conteúdo que consomem.
Financeiro
A divisão dos lucros é bem parecida com a de outras plataformas de serviço online, como os aplicativos de motoristas e de entregadores por delivery: os criadores recebem 80% do valor da assinatura, enquanto a plataforma fica com o restante. Através da assessoria, o OnlyFans informou que já pagou mais de US$ 6 bilhões aos criadores, no período de atividade.
É por isso que, para alguns, o OnlyFans se encaixa justamente em fenômenos recentes do mercado de trabalho, como a chamada 'gig economy' (economia do bico) ou a própria 'uberização'. Ainda que estudos sobre a rede social sejam recentes - no Brasil, quase não há publicações científicas sobre a plataforma - pesquisadores estrangeiros decretaram a relação com os conceitos.
"Criadores assumem os riscos financeiros e sociais de ingressar no mercado sexual, enquanto OnlyFans se torna uma empresa bilionária com seus esforços", conclui a pesquisadora Ariana Safaee, em sua dissertação de mestrado na San Diego State University, nos Estados Unidos, defendida no ano passado.
Esse contexto fica ainda mais notório quando o cenário local é observado - só no Brasil, são mais de 12 milhões de pessoas sem ocupação, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Essa questão financeira hoje, ao menos no Brasil, vem ser cada vez mais preponderante para esses criadores de conteúdo, por conta da nossa economia fragilizada e da necessidade de renda", diz o pesquisador César Belém, mestrando em Gênero e Feminismo na Universidade Federal da Bahia (Ufba). "O que temos que pensar é que quem produz conteúdo hoje no Onlyfans está produzindo e vendendo um produto muito mais voltado ao lucro e à subsistência do que numa exploração da própria sexualidade", opina.
O grande diferencial do OnlyFans, em comparação a outras plataformas que permitem conteúdos sensuais ou pornográficos, para o professor Antônio de Freitas Netto, dos cursos de Comunicação e Marketing da Unifacs, é justamente a possibilidade de qualquer pessoa monetizar o conteúdo. Ou seja: não precisa ser Anitta. "Alguns conteúdos sequer precisam ter a pornografia explícita.
Um dos exemplos é o famoso pack do pezinho, em que as pessoas têm fetiche em pés e pagam para receber fotos dos seus pés", explica. É diferente da época em que as capas de revista com ensaios nu ou sensuais tinham apenas famosos ou pessoas com destaque midiático. "Em termos de conteúdo, você também tem uma diferença muito grande, porque antigamente as revistas pornô tinham uma superprodução. Filmes tinham produtoras específicas para isso. Agora, é uma lógica diferente, de conteúdo feito com celulares ou gravações amadoras. É o conceito da descentralização de uma produtora ou de personalidades para a coisa comum, de pessoas comuns", analisa.
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