Empresário que agrediu mulher em academia é suspeito de estuprar e tatuar vítimas

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Empresário que agrediu mulher em academia é suspeito de estuprar e tatuar vítimas

Entre os supostos ataques, estão desde estupros com coito anal e rituais para tatuar as vítimas

O empresário Thiago Brennand Fernandes Vieira, 42, denunciado pelo Ministério Público por ter agredido uma mulher em uma academia de ginástica de São Paulo, é investigado, agora, sob a suspeita de crimes sexuais envolvendo um grupo de ao menos 11 vítimas.

Entre os supostos ataques investigados pela Promotoria estão desde estupros com coito anal e rituais para tatuar as vítimas com as iniciais do próprio nome, o mesmo acrônimo usado pelo empresário para marcar objetos.

Procurado, o escritório Cavalcanti Sion Advogados, que representa Brennand no caso da academia, afirma desconhecer as novas acusações contra o empresário.

Segundo a Promotoria, as possíveis vítimas serão ouvidas a partir de segunda-feira (19). Os detalhes devem ser mantidos inicialmente em sigilo por envolver pessoas que não querem nenhum tipo de exposição.

As investigações serão conduzidas pela promotora Silvia Chakian, coordenadora do NAV (Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência), e pelo promotor Josmar Tassignon Júnior, de Porto Feliz (a 118 km da capital), que acompanha um caso ocorrido em 2021.

A maior parte da lista de vítimas foi encaminha ao Ministério Público pelo escritório de advocacia Janjacomo e por representantes do projeto Justiceiras, que trabalham juntos neste caso.

Segundo as entidades, as supostas vítimas relatam situações parecidas envolvendo o empresário, cárcere privado, sexo sem camisinha, agressões físicas e verbais, "stalking" (perseguição), além da marcação nas vítimas das iniciais TFV, de Thiago Fernandes Vieira.

"Ele marcava as vítimas como uma forma de registrar propriedade", disse o advogado Marcio Cezar Janjacomo, representante da modelo e atriz Alliny Helena Gomes, 37, agredida por Brennand no início do mês passado em uma academia do shopping Iguatemi, zona sul.

Segundo Janjacomo, eles foram procurados pelas mulheres após a veiculação do vídeo da agressão na academia pela TV Globo e pela TV Record. As supostas vítimas, que não se conhecem, tiveram algum tipo de relacionamento amoroso com Brennand e acabaram sendo humilhadas e violentadas, segundo afirmam. Os casos teriam ocorrido entre 2017 e o início deste ano.

A investigação conduzida pela Promotoria de Porto Feliz chegou a ser arquivada em junho deste ano, por falta de provas. Foi reaberta neste mês, porém, após reportagem do Fantástico trazer um áudio do empresário em que ele fazia ameaças a essa vítima.

"Eu estou lhe garantido. Você tenha certeza. Você não sabe onde tá entrando. A minha resposta, ela vem ou em você ou num filho ou num familiar. Você trate de respeitar minha biografia", diz trecho da mensagem, incorporado ao processo que investiga agressões sexuais.

De acordo com documentos aos quais a Folha de S.Paulo teve acesso, o caso de Porto Feliz ocorreu em agosto do ano passado e envolve uma brasileira de 37 anos, residente nos EUA, que afirma ter sido mantida em cárcere privado, estuprada, agredida (física e moralmente) e tido o corpo tatuado.

Além disso, teve vídeos de relações sexuais vazados pelo empresário, que teria mandado até para a filha adolescente dela.

Brennand negou à Polícia Civil as supostas agressões.

A mulher contou à polícia que decidiu visitar Brennand em São Paulo, após troca de mensagens pelas redes sociais. Foi levada para a propriedade do empresário em Porto Feliz, em um condomínio de luxo onde o suspeito tem uma casa e cria cavalos de raça.

No início, segundo ela, Brennand foi romântico e agradável. Depois, porém, mudou subitamente de comportamento e tornou-se extremamente agressivo. A mudança ocorreu quando, segundo ela, o empresário pediu para ver o conteúdo do celular da mulher.

Ele então a teria obrigado a colocar a senha e fez uma checagem de todas as conversas.

Ao ver que ela ainda trocava mensagens com um ex-namorado, ainda segundo versão da possível vítima, o empresário teria passado a ofendê-la, chamando-a de "vagabunda", "puta" e "mentirosa", e também a agredi-la fisicamente com tapas na cabeça e rosto.

A mulher contou ainda aos policiais que decidiu ir embora naquela mesma noite, mas ficou em razão das ameaças.

O empresário teria informado que, no quarto, havia câmeras escondidas e que os vídeos da relação sexual entre os dois seriam enviados para todos os conhecidos da mulher, caso ela fosse embora.

Na sequência, ainda segundo versão, o empresário passou a chamá-la de "puta" e dito que a mulher precisava ser punida.

"Que Thiago passou a agredi-la com tapas no rosto. Que a declarante só chorava e nada falava. Que Thiago virou-a de costas, passou a mão pelo corpo dela e forçou-a a fazer sexo anal", diz trecho do depoimento à polícia.

O empresário, ainda conforme o relato, teria impedido a mulher de se comunicar pelo celular. Só dois dias depois ela teria conseguido pedir ajuda ao irmão, que acionou a polícia de Pernambuco, onde mora.

Além de ter negado à polícia as supostas agressões, Brennand diz que os vídeos foram compartilhados pelo filho dele, menor de idade.

Testemunhas ouvidas pela Polícia Civil de Porto Feliz, entre elas o tatuador e funcionários da casa de Brennand, negaram ter presenciado qualquer tipo de agressão por parte do empresário contra a vítima.

A Justiça local chegou a determinar o envio de cópia do processo para Pernambuco, para eventual abertura de investigação contra a mulher por suposta denunciação caluniosa.

Neste mês, porém, autorizou a reabertura da investigação contra Brennand.

Ele deixou o país no último dia 4. Segundo informações obtidas pela Folha de S.Paulo, pegou um voo para Dubai, na madrugada, horas antes de a Promotoria denunciá-lo pelas agressões à modelo na academia e solicitar a apreensão do passaporte dele.

O escritório Cavalcanti Sion Advogados, que representa Brennand no caso da academia, afirma desconhecer as novas acusações contra o empresário. Em relação à agressão na academia, o escritório afirma que o cliente compareceu espontaneamente para prestar esclarecimentos às autoridades e diz que os vídeos mostram que as agressões verbais foram iniciadas por Alliny Helena.

"Durante o depoimento, Thiago Fernandes Vieira pediu desculpas por qualquer excesso cometido ao reagir às ofensas", conclui a nota.

Dora Cavalcanti, uma das advogadas de Brennand, diz que o escritório de que ela é sócia "está cravado em uma defesa que sustenta a privacidade das pessoas".

Sobre o fato de o empresário ter viajado algumas horas antes do Ministério Público ter decidido pedir a entrega do passaporte à Justiça, a advogada afirma que a "a viagem não representou qualquer desrespeito de ordem judicial e [que] ele tem data de retorno documentada nos autos."

A decisão, segundo ela, é bastante severa. "Nós argumentamos que a natureza da tipificação não é compatível com essa medida extrema."

Além disso, sobre o pedido de desarquivamento do caso em que ele foi acusado de manter uma mulher em cárcere privado em sua casa em Porto Feliz, Cavalcanti afirma que tem pouco conhecimento do caso, que fora conduzido por outro escritório de advocacia. 

 

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Quarta, 27 Novembro 2024

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