Beneficiários do Bolsa Família 'investem' em jogos online, revela pesquisa Datafolha
Pesquisa Datafolha revela impacto das apostas esportivas na vida dos brasileiros de baixa renda
Uma recente pesquisa Datafolha revela que 17% dos beneficiários do Bolsa Família, o programa de transferência de renda do governo federal para pessoas de baixa renda, estão envolvidos em apostas esportivas online. O estudo, realizado em dezembro de 2023, destaca que quase um terço desse grupo gasta ou já gastou mais de R$ 100 por mês em sites de apostas, um percentual semelhante à população em geral (15%).
Aprofundando nos números, observa-se que seis em cada dez apostadores vinculados ao programa afirmam investir mais de R$ 50 mensais, enquanto entre aqueles que não recebem o Bolsa Família, a proporção é de 4 em cada 10. A disseminação do fenômeno das apostas online é evidente em todo o país, com uma adesão particularmente marcante entre os jovens e homens.
Em dezembro, o Bolsa Família repassou uma média de R$ 680,61 a mais de 21 milhões de famílias, sublinhando a relevância desse montante em contraste com os investimentos em apostas esportivas.
O estudo também destaca a falta de regulamentação clara para o setor de apostas online no Brasil desde 2018, quando uma lei foi aprovada durante o governo Michel Temer (MDB). A ausência de regras claras permitiu que casas de apostas se multiplicassem, sem a devida supervisão e controle por parte do governo.
O governo de Jair Bolsonaro (PL), durante seus quatro anos, não regulamentou efetivamente o mercado de apostas esportivas, deixando-o em expansão desordenada. Somente no último ano do governo Lula (PT), começaram a ser traçadas diretrizes para regulamentar o setor, com uma nova lei aprovada para definir taxação e funcionamento dessas empresas.
Entretanto, a regulamentação completa ainda está em processo e deve ser finalizada no primeiro semestre. A legislação abrange jogos de "quota fixa", envolvendo apostas com resultados conhecidos, como em partidas de futebol. Durante a tramitação do projeto de lei na Câmara, também foram incluídos jogos online, como cassinos e outros jogos de azar em ambiente virtual.
O estudo do Datafolha destaca que o alcance dos sites de apostas é disseminado, independentemente da ocupação dos indivíduos. A prevalência de jogadores entre desempregados e autônomos se assemelha à média geral da população, indicando que o fenômeno não está restrito a grupos específicos.
O pesquisador Daniel Spritzer, do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas, destaca a facilidade de jogar pelo celular, a intensa publicidade e o envolvimento com universos de videogames e esportes como fatores que contribuem para a alta adesão às apostas online.
A regulamentação em curso é vista como uma tentativa de trazer mais responsabilidade ao setor, visando o jogo responsável, a proteção de menores e a destinação de recursos para medidas de prevenção de danos sociais decorrentes da prática de jogos. Críticos alertam para a necessidade de um padrão de conduta na indústria para proteger públicos vulneráveis, enquanto a regulamentação total deve ser concluída nos próximos meses.
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