Estudante da UEFS é assassinada a tiro em Feira de Santana

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Estudante da UEFS é assassinada a tiro em Feira de Santana

Esta é a terceira mulher assassinada em menos 24 horas no município 

Crédito: Enviado por leitor

Priscila de Jesus Ramos, 21, foi assassinada a tiros, na noite deste sábado (18), em Feira de Santana. Ela residia no bairro Parque Ipê e foi assassinada com cerca de 9 tiros de pistola.

O crime ocorreu no bairro Sobradinho. A vítima era estudante do curso de História da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

De acordo com informações de populares, dois homens em uma motocicleta efetuaram os disparos. 

No local do homicídio foi encontrado um par de sandálias, uma máscara e documentos pessoais de um homem, cuja identidade não foi revelada. O homem que estava com ela saiu correndo.

O corpo foi encaminhado para o Departamento de Polícia Técnica (DPT). A Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e o Colegiado do Curso de História emitiram notas de pesar após o crime cometido contra a estudante.

NOTA DE PESAR

Esta não é apenas uma nota de pesar e solidariedade de uma Universidade que lamenta a morte de uma de suas alunas. Não há aqui apenas uma redação institucional de praxe e nem mesmo podemos utilizar tempos verbais e construções gramaticais que nos remetam à impessoalidade principiológica das instituições públicas. Nas tintas deste texto há indignação, medo e sim, dor daqueles - e principalmente daquelas - que compõe a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs).

Reconhecemos ser impossível ofertar qualquer consolo à família, amigos, docentes e colegas da estudante Priscila de Jesus Ramos. Por mais profundas e verdadeiras que sejam as nossas condolências precisamos, neste momento, protagonizar enquanto instituição pública e, portanto, parte do Estado, cobranças em diversos âmbitos: seja na criação e efetivação de políticas públicas que atuem na redução das inaceitáveis estatísticas no que tange as violências contra as mulheres, bem como na apuração e elucidação do crime que vitimou a nossa discente Priscila.

Subscrevemos esta manifestação de pêsames mas também de cobrança de providências efetivas para a devida elucidação do caso pelas autoridades competentes.

Evandro do Nascimento Silva

Reitor

Amali de Angelis Mussi

Vice-Reitora

NOTA DO COLEGIADO DE HISTÓRIA

Sonhos salvam vidas, balas tiram-nas

''A arte salva minha vida todos os dias'', estas palavras estão em uma publicação de Priscila de Jesus Ramos, de 21 anos, no Instagram. Mulher jovem; a moça, moradora do Parque Ipê, sabia que a sombra da indesejada ronda corpos femininos todos os dias, paira, ameaçadora, sobre passos dados por mulheres. Do aprendizado duro da travessia, descobriu que é preciso tecer o tempo com as mãos, produzir o próprio salvamento enquanto cria calos/marcos do caminhar. Certamente foi a convicção que artes refazem tempos que a levou ao curso de história da Universidade Estadual de Feira, queria saber mais das temporalidades, ansiava descortinar caminhaduras distintas para o devir feminino: sonhava.

Ontem, um sábado, o pequeno corpo de mulher periférica esbarrou a caminhada. Nove balas de pistola roubaram os sonhos de menina, a impediram de continuar salvando a própria vida pelas artes. O criminoso disse, nove vezes, ''aqui não é lugar para mulheres que sonham''. Aquele atirador sabatino faz parte de uma engrenagem perversa, é apertador de gatilho de uma máquina cruel que considera corpos femininos, negros, periféricos como coisa descartável, matável. É possível até que tenha orgulho, que não se sinta malvado, afinal cumpriu uma tarefa socialmente autorizada: matou uma mulher que labutava para fazer o próprio tempo. Não fez nada de inédito.

O não ineditismo não nos rouba a indignação. Continuaremos perguntando até quando corpos jovens, Priscilas, Marias, Larissas serão moídos pela máquina de matar sonhos enquanto uma maioria descansa na paz de noites de sábados, até quando? Haverá um tempo que a polícia considerará prioridade parar os matadores de motos? Amanhã os inquéritos, com nomeação dos autores crime, seguirão para a justiça? Ou os policiadores seguirão na senha de culpar as próprias vítimas?

O colegiado de História lamenta profundamente a partida da estudante Priscila, de mais uma mulher amputada da possibilidade de sonhar a travessia; presta solidariedade irrestrita aos familiares e amigos por esta irreparável perda e clama pela atenção das autoridades de segurança para que haja a devida investigação e punição dos responsáveis pela morte da jovem estudante.

Feira de Santana, 19 de março de 2023

Colegiado do Curso de História

 

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