Ana Maura, uma feirense que ressignificou o câncer de mama e luta pela vida
Administradora usa redes sociais para desconstruir preconceitos
Ana Maura Matos, 37 anos, administradora, feirense, foi diagnosticada com câncer de mama, há alguns meses. No perfil das redes sociais da Ana, espaço onde ela utiliza para falar com outras mulheres, seja sobre prevenção, tratamento, positividade, entre outros assuntos, há muitas fotos e vídeos dela com uma retratação de jovialidade, vaidade, beleza, força e esperança. "Uma mulher em construção. C.A Triplo Negativo - Bilateral. Ressignificando o Câncer de Mama", diz a sua Biografia, no Instagram, seguido do link do canal no Youtube, cujo sugestivo nome é "Decida lutar". Através das postagens, Ana faz alertas, relatos, inspirações, mensagens de fé e confiança, além de um conteúdo descontraído, com acolhimento a todas as mulheres.
O diagnóstico
Ana conta que descobriu o primeiro nódulo quando realizava o autoexame, mas que, só análises mais complexas, revelaram a certeza do diagnóstico. "Eu fui diagnosticada com câncer de mama bilateral (nas duas mamas). Eu senti no toque (autoexame), um nódulo e fiz os exames e biópsias. Fui fazer outros exames, até que descobri que tinha também um nódulo na outra mama, mas esse não era palpável. Só foi possível diagnosticá-lo através do exame de imagem", detalha.
Todavia, a batalha de Maura contra o câncer de mama não começou após seu diagnóstico. "Eu não tenho como falar de diagnóstico sem falar sobre minha mãe. No final do ano passado, minha mãe foi diagnosticada com C. A de mama e eu acompanhei todo esse processo. Os exames, as consultas, as cirurgias, quimioterapias. Eu achei que o pior tinha passado, mas em maio desse ano eu coloquei a mão no seio e senti um nódulo. Eu senti meu mundo desabar, porque naquele momento, passou uma retrospectiva na minha mente de tudo que eu vi minha mãe passando", desabafa.
Passado o susto inicial, a administradora foi procurar um hospital para fazer o ultrassom mamário de ter mais clareza sobre o sintoma, entretanto o diagnóstico estava além do seu imaginário. "Durante o exame eu vi as orientações do médico para a assistente escrever no laudo, por eu ter acompanhado a minha mãe, eu já sabia o que significava. Realmente o médico identificou que eu tinha o nódulo e quando fiz a biópsia, de fato, foi constatado câncer de mama. Entretanto, o grande susto para mim, o grande baque, foi quando eu fui fazer a mamografia, onde descobri que eu não tinha o nódulo apenas na mama direita, mas também tinha outro nódulo na esquerda".
Ana Maura usa sua experiência para alertar sobre a importância da consciência social sobre os exames de prevenção. "Tenho usado meu exemplo, de uma mulher que 'apoiava' a campanha Outubro Rosa, usando lacinhos e blusa rosa no período, mas não fazia exames de rotina", alerta.
Vida Social: online e offline
A jovem explica que resolveu usar as redes sociais para compartilhar os desafios que uma pessoa que é diagnosticada com C.A enfrenta e também mostrar como se desafia a continuar "vivendo" apesar dos efeitos colaterais do tratamento e de tudo que envolve os pacientes oncológicos.
"Eu decidi que esse diagnóstico não iria tirar de mim mais que o necessário. Saio, vou a praia, restaurantes, shopping. E nunca encontrava aquelas pessoas que eu via na quimioterapia. Eu percebi que tinha algo errado. Parte disso é muito pelo constrangimento, os olhares, as coisas que eu escutamos. Como por exemplo, o que passei na eleição, onde a pessoa olhou para mim e falou que se eu tinha algum documento para mostrar que tinha câncer. Disse que se eu não tivesse, que voltasse para fila comum. A sociedade não está preparada para lidar com pacientes oncológicos. A gente escuta frases como 'Você está tão bem, não parece que está com câncer'", descreve.
A influenciadora digital acrescenta ainda que após abordar o tema nas redes sociais, muitas mulheres começaram a procurá-la e disseram compartilhar da mesma dor, causada pelo preconceito social. Segundo ela, muitas pacientes se isolam e abdicam totalmente da vida social, não por conta da imunidade e sim pelo que enfrentam quando saem. "Por isso eu comecei a utilizar as redes sociais, para compartilhar e também para fazer o alerta, porque eu era a mulher que abraçava a causa e não fazia exames".
Maura salienta uma importante questão que mulheres enfrentam o pós-diagnóstico, destaca que, entre tantos desafios e adaptações, não poder gestar uma criança, exige grande superação para aquelas pacientes que ainda planejavam engravidar. "Quando recebemos o diagnóstico de câncer de mama, nossa vida muda radicalmente. Precisamos nos 'despir' e 'despedir' de muitas coisas, planos, sonhos e hábitos. Alguns planos são adiados, outros planos precisam morrer... No meu caso eu não tenho filhos e vou precisar retirar os ovários.
Descobri, através de um teste genético, que tenho uma mutação genética BRCA1. Nesses casos, além da retirada das mamas, é necessário a retirada dos ovários também, mas eu não tive tempo nem condições financeiras de congelar os óvulos", confidencia.
Autoestima e bem-estar
Perder os cabelos no meio do processo do tratamento afeta a autoestima de muitos pacientes, mas para Ana foi um impulso que a levou a investir no autocuidado. "Esse é mais um dos desafios! O processo do tratamento do CA coloca sua autoestima no chão. Eu estava me preparando para o dia que eu cortaria o cabelo, mas ele caiu uma semana antes. Quando eu passava a mão eu via caindo e aquilo me deu um desespero muito grande. Eu fui tomar banho e saía aos montes, naquele mesmo dia eu chamei minhas irmãs e decidi que iria raspar a cabeça. Quando eu fiz isso, tomei a decisão de que eu iria para rua no mesmo dia e assim o fiz. Fui a uma pizzaria, porque eu senti, quando me olhei no espelho, que se eu não saísse naquele dia, eu não sairia mais de casa. Uma das partes do enfrentamento do câncer de mama foi isso do cabelo".
Após raspar os cabelos, a empreendedora se desafiou a sempre cuidar da aparência manter sua vaidade e encara tudo com leveza e bom humor". E agora veio a parte que você perde totalmente os cílios e sobrancelhas. E é incrível como a gente olha pra gente no espelho e é como se fosse tipo um quadro em branco, porque perdemos tudo que faz o nosso rosto ser o que é. Eu tive que me olhar. Não foi fácil se encarar e não se reconhecer, mas eu me desafiei a mesmo dentro de casa, tentar arrumar meu rosto todos os dias".
Apesar das constantes oscilações no estado físico e mental, causadas pelo tratamento agressivo, Ana conta como a atividade física e alimentação balanceada são aliadas nessa batalha contra o câncer de mama. "Eu procuro sempre fazer minhas caminhadas no início da manhã ou no final do dia. Esse é mais um dos desafios, porque sentimos um cansaço extremo, mas a caminhada é o remédio que a gente tem. Eu fiz o compromisso comigo e com meu corpo. Pedi muito que ele fizesse a parte dele, porque eu sei ele está enfrentando uma luta imensa todas as vezes que recebe a quimioterapia. Eu me alimento todos os dias, independente do sintoma que esteja e tomo, no mínimo, dois litros de água. Tento manter esse compromisso de fazer minha parte, para que meu corpo faça a parte dele", recomenda.
Tratamento caro e o tempo como obstáculo
Matos, faz tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), onde passou pelas consultas com oncologista e começou quimioterapia, entretanto não foi totalmente assistida pelo sistema. "Meu protocolo que Quimioterápicos foi: 12 quimioterapias brancas, 4 vermelhas, cirurgia de mamas e ovários, radioterapia e acompanhamento por 10 anos. Um dos desafios nesse processo é porque quando falamos em SUS, tem a ideia que tudo é de graça e não é, principalmente, pela demora em acessar os serviços. Muitos exames de imagens, biópsia, consulta com mastologista, tudo foi pago. Nos primeiros meses eu gastei cerca de 7 mil reais. Meu diagnóstico foi de um tumor agressivo e eu precisava fazer as coisas bem rápidas. Se eu fosse esperar o tempo do SUS, se eu tivesse esperado mais esse tempo, eu não estaria aqui".
De acordo com Maura, existe um índice chamado Ki67, que mostra a velocidade que o tumor se reproduz e, por conta disso, precisou recorrer a rede privada. "No meu caso em uma mama estava 60% e na outra 90%. Então ter feito particular, literalmente, salvou a minha vida. Mesmo se tratando de uma doença tão grave, as políticas públicas e os prazos estabelecidos pelo SUS são totalmente fora da realidade. Graças a Deus eu tenho uma rede de apoio que eu falo que é a melhor do mundo. Eles me apoiam não só na questão emocional, mas financeiramente. Eu fiz o teste genético e meus amigos fizeram uma campanha na internet e, em menos de 24 horas, eu consegui o valor".
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