‘Tem que quebrar tudo pro Exército entrar’; laudo mostra atuação de extremista em atos de 8 de janeiro
As mensagens foram do entregador paranaense Matheus Lima de Carvalho Lázaro, 23
"Tem que quebrar tudo, pra ter reforma, pra ter guerra amor. Guerra… Pro exército entrar… entendeu?". Essa foi uma das últimas frases que o entregador paranaense Matheus Lima de Carvalho Lázaro, de 23 anos, disse para sua mulher grávida antes de ser preso com um canivete na noite do 8 de janeiro por participar do ataque golpista às sedes dos Três Poderes, em Brasília.
Ele diz a mulher que aquilo não era vandalismo, mas depois admite: "É vândalo, é vândalo mesmo. Acabou pacífico. É melhor… é melhor nós quebrar tudo aqui agora". O golpista reproduz ainda a ameaça que marcou a campanha de 2022 de que o Brasil "viraria uma Venezuela".
É nesse momento, pouco antes das 17h, que ele bate na tecla da intervenção militar. "É por isso que 'nóis tá' aqui. Pra intervenção militar… O exército toma o poder, entendeu?", afirmou.
Depois disso, ele só volta a falar com a mulher às 19h22, depois que o movimento foi dispersado pela polícia. Diz que está retornando para o QG e faz uma ligação por vídeochamada. A prisão ocorre logo depois, perto do Palácio do Buriti, antes de o golpista chegar ao QG.
As mensagens de Matheus para sua mulher, conforme o Estadão, fazem parte de um laudo de perícia criminal da Polícia Civil do Distrito Federal disponibilizado para a CPMI dos 8 de janeiro, que investiga os ataques golpistas que tomaram de assalto a capital federal questionando a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo intervenção militar e em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo as informações da Polícia, o golpista, preso nas proximidades do Palácio do Buriti com uma camisa da seleção brasileira de futebol, uma jaqueta do exército e um canivete de 16 cm, é de Apucarana, no Paraná, e nunca tinha sido preso antes. Informado sobre seu direito de permanecer em silêncio, quis dar sua própria versão dos fatos.
Para a Polícia, Matheus contou que é entregador, ganha um salário mínimo, vai à igreja evangélica e gosta de jogar futebol. Também disse ser "bolsonarista e nacionalista" e ter participado ativamente de "movimentos" de oposição ao presidente eleito, como o acampamento de sessenta dias em frente ao 30º batalhão de infantaria em sua cidade natal. Foi lá que teria recebido o convite para participar da viagem a Brasília.
Junto com outros bolsonaristas da cidade e da região, ele viajou os mais de 1.100km que dividem Apucarana e Brasília e, segundo relatou à polícia, foi levado diretamente ao acampamento em frente ao QG do exército, onde recebeu alimentação e aguardou o momento de marchar para a sede dos Três Poderes.
Matheus, que confessou ter participado dos atos, postado vídeos em suas redes sociais, xingado o presidente eleito e clamado por intervenção militar, continua detido no presídio de Brasília.
Falha da denúncia
Os detalhes do laudo policial e de outros documentos da Polícia Civil enviados à CPMI do 8 de janeiro, analisados pelo Estadão, indicam falha na denúncia do Ministério Público Federal (MPF) que foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Com base na acusação do MPF, o golpista e cerca de 200 outros acusados viraram réus em um dos processos que tem o ministro Alexandre de Moraes como relator.
Na denúncia, o Ministério Público descreve a conduta de Matheus como se ele tivesse sido preso na Praça dos Três Poderes. O texto do MPF aponta ainda que ele "foi preso na posse de apetrechos que demonstraram a adesão, livre e consciente, aos atos violentos e às graves ameaças executados contra a pessoa, além do emprego de substância inflamável".
O laudo, de fato, indica que Matheus tinha um canivete, mas não possuía bombas, líquidos inflamáveis ou outros itens desse tipo. E o auto de prisão em flagrante registra que a prisão de Matheus foi em outro local, já distante dos prédios invadidos.
Procurado, o MPF informou que verificaria o caso e se manifestaria a partir desta segunda-feira (26).
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