O que Jair Bolsonaro disse aos embaixadores e que agora pode torná-lo inelegível
Ex-presidente fez afirmações falsas e distorcidas sobre o processo eleitoral
O conteúdo e as circunstâncias da reunião com embaixadores realizada pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) no ano passado está no centro da ação eleitoral que começará a ser julgada pela Justiça Eleitoral nesta quinta-feira (22) e que pode torná-lo inelegível por oito anos.
Na ocasião, a menos de três meses do primeiro turno, Bolsonaro fez afirmações falsas e distorcidas sobre o processo eleitoral, alegando estar se baseando em dados oficiais, além de buscar desacreditar ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Veja abaixo algumas das falas de Bolsonaro na reunião.
ELEIÇÕES DE 2018
Logo no início, Bolsonaro diz que basearia sua fala em uma investigação da Polícia Federal sobre um ataque hacker ao TSE em 2018. "Tudo que vou falar aqui, está documentado, nada da minha cabeça." Segundo Bolsonaro, o próprio TSE teria dito que os resultados de 2018 podem ter sido alterados.
"Nós não podemos enfrentar umas eleições sob o manto da desconfiança. Nós queremos ter a certeza de que para quem o eleitor votou, o voto vai exatamente para aquela pessoa. O próprio TSE diz que em 2018 números podem ter sido alterados", afirmou.
"Entendo que não poderíamos ter tido eleições em 2020 sem apuração total do que aconteceu lá dentro. Porque o sistema é completamente vulnerável, segundo o próprio TSE, e obviamente a conclusão da Polícia Federal", disse.
O que é o inquérito citado por Bolsonaro na reunião?
A apuração citada por Bolsonaro teve início em novembro de 2018 após o tribunal acionar a PF. Trechos desse mesmo inquérito tinham sido lidos por Bolsonaro quase um ano antes, em agosto de 2021, em entrevista à Rádio Jovem Pan e divulgados em suas redes sociais. Bolsonaro se tornou alvo de inquérito pelo suposto vazamento de apuração sigilosa. O procurador-geral da República, Augusto Aras, não viu crime na conduta.
À época, o tribunal divulgou nota em que afirmava que o ataque investigado "não representou qualquer risco à integridade das eleições de 2018". Além disso, o delegado Victor Campos, até então responsável pela investigação, respondeu em depoimento não ter identificado nos autos qualquer elemento que permitisse afirmar que houve manipulação de votos ou fraude em qualquer eleição.
USO DAS FORÇAS ARMADAS
Em tom alarmista, Bolsonaro criticou o TSE, dizendo que a corte recusou propostas das Forças Armadas para o processo eleitoral. "O que que nós queremos? Paz, tranquilidade. Agora, por que um grupo de três pessoas apenas querem trazer instabilidade para o nosso país? Não aceitam nada", disse.
Segundo Bolsonaro, os militares trabalharam em "sugestões para que o ocorrido nas eleições de 2018 não viesse a ocorrer novamente". Disse ainda que todas elas poderiam ser cumpridas até 2 de outubro.
Algumas das sugestões dos militares tinham sido rejeitadas pelo tribunal, enquanto parte já tinha sido aceita. Além disso, houve propostas que, segundo o TSE, seriam analisadas para as eleições seguintes, assim como ocorreu com outras entidades que participavam da Comissão de Transparência da corte. Os militares chegaram a fazer sugestões ao TSE até mesmo a uma semana do primeiro turno.
CONTAGEM DOS VOTOS
Bolsonaro tira de contexto e distorce a fala de um servidor do TSE sobre as eleições de 2020, para afirmar que não seria a corte quem totaliza os votos.
"Não é o TSE quem conta os votos, é uma empresa terceirizada. Acho que nem precisava continuar essa explanação aqui", disse Bolsonaro. "Estamos lutando para apresentar uma saída para isso tudo. Nós queremos confiança e transparência no sistema eleitoral brasileiro".
Segundo relatório do TSE, a totalização dos resultados é realizada pela corte, assim como o desenvolvimento do sistema de totalização. A empresa Oracle é contratada para fornecer o servidor (supercomputador), que fica fisicamente no TSE, e o sistema de gerenciamento de bancos de dados, que é administrado por equipe do TSE.
DESCREDIBILIZAÇÃO DAS AUDITORIAS
Bolsonaro disse que "é impossível fazer uma auditoria em eleições aqui no Brasil" e também questionou o que os observadores eleitorais de outros países fariam no país, alegando que o sistema não seria auditável. "O que essas pessoas vêm fazer no Brasil? Vêm observar o quê? Que o voto é totalmente informatizado. Vêm dar ares de legalidade? Vêm dizer que tudo ocorreu numa normalidade?", afirmou.
O processo eleitoral tem uma série de etapas de auditoria e fiscalização, abertas a entidades e partidos e com início um ano antes do pleito. Sobre os observadores internacionais, o TSE afirmou à época que os observadores internacionais já teriam iniciado análise técnica sobre o sistema eleitoral, e que peritos teriam acesso "ao código-fonte e todos os elementos necessários para avaliarem a transparência e integridade do sistema".
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