Equipe de Lula quer fim pactuado de atos, mas admite retirada à força de manifestantes
A tentativa de atentado com bomba reforçou a preocupação
A equipe do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), espera que o acampamento em frente ao quartel-general do Exército na capital federal tenha um desfecho "pactuado", mas não descarta a retirada compulsória dos manifestantes até o dia 1 de janeiro, quando será realizada a cerimônia de posse do petista.
Segundo o futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB-MA), será feita uma avaliação de segurança na quinta-feira (29) "a partir do cenário que se colocar nos próximos dias" para tomar uma decisão sobre a manutenção do acampamento.
A tentativa de atentado terrorista com bomba no sábado (24) reforçou a preocupação do entorno do futuro mandatário sobre questões de segurança do presidente e do público que participará da cerimônia de posse.
"Quanto mais se der de modo pactuado, mediante conciliação, melhor. Essa é a opção do presidente Lula neste momento. É claro que, se não houver essa providência, outras serão tomadas, mas isso num segundo momento", afirmou Dino.
O futuro ministro falou à imprensa após ter se reunido na manhã desta terça-feira (27) com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), no Palácio do Buriti, para tratar do esquema de segurança da posse do presidente eleito.
Também participaram do encontro José Múcio Monteiro, que comandará a Defesa, e o delegado Andrei Passos Rodrigues, futuro diretor-geral da Polícia Federal.
A equipe de Lula também pediu ao governo federal e ao do Distrito Federal o fechamento de toda a Esplanada dos Ministérios a partir da próxima sexta-feira (30) para realizar rastreamento de explosivos e fazer a preparação do esquema de segurança para a posse.
A ideia da transição era que fosse decretado ponto facultativo na sexta. Porém a tendência é que haja apenas a liberação dos servidores para que eles trabalhem remotamente.
A PM do DF chegou a ser acionada na tarde desta terça para averiguar uma mochila abandonada no Setor Hoteleiro Norte, na zona central. Após a averiguação dos policiais, a presença de explosivos foi descartada, e apenas objetos pessoais foram encontrados.
Também nesta terça, nos preparativos para a posse de Lula, houve um ensaio da cerimônia da posse de Lula. Militares e servidores cumpriram as etapas das cerimônias previstas para o dia 1º no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto. Há previsão de um último ensaio geral na sexta.
Em relação aos manifestantes bolsonaristas, Dino afirmou que a equipe do presidente eleito lida com um cenário de "desocupação voluntária" antes da posse. "Se isso não ocorrer, aí se abrem outras possibilidades de uma retirada compulsória."
O futuro ministro de Lula afirmou que o foco, inicialmente, é a desmobilização do acampamento em Brasília. E que, após o dia 1º de janeiro, Lula, Múcio e os comandantes das Forças Armadas irão tratar do cenário nacional.
À imprensa Múcio divergiu do tom de Dino e afirmou que os atos antidemocráticos em frente aos quartéis têm sido "pacíficos".
"Lá, eu estava conversando com o Ibaneis e os ministros, existem pedintes que vão lá receber comida, pessoas que vivem pela rua dormindo nas praças [do quartel], porque tem um certo abrigo", disse.
Segundo Múcio, os atos terroristas são isolados e não representam os acampamentos nos QGs do Exército.
"Eu torço e peço a Deus que ele [acampamento] vá se esvaindo, porque o protesto político termina perdendo o sentido [com a posse de Lula]. As nossas preocupações são com esse movimento no último sábado. Precisamos estar preparados para que o inesperado resolva fazer uma surpresa", completou.
Segundo o governador Ibaneis Rocha, a Polícia Civil do DF também tem atuado para realizar novas operações contra pessoas que tentem planejar algum ataque à posse de Lula.
Uma das operações esperadas pelo governador é a prisão de Alan Diego dos Santos Rodrigues, o segundo suspeito de participar da tentativa de explosão de um caminhão com gasolina no Aeroporto Internacional de Brasília.
"A polícia já identificou essa pessoa [Alan], está fazendo as buscas. Pelo que tem, que foi alcançado pela polícia, ele já se evadiu do Distrito Federal, mas estão atrás e devemos ter notícias nas próximas horas", completou.
Ibaneis ainda afirmou que George Washington de Oliveira Sousa, preso no sábado, procurou um curso de sniper antes de planejar o atentado terrorista em Brasília.
"Realmente existia uma mentalidade totalmente voltada para o crime. [George Washington] fez atos preparatórios, inclusive buscando cursos como sniper para poder utilizar armamentos de alta potência. Isso está sendo tratado como um ato terrorista e todas as providências já foram adotadas pela polícia e pelo Judiciário no sentido de proteção", afirmou.
Dino reforçou que as solenidades da cerimônia de posse serão seguras e afirmou que o planejamento de segurança do evento, que é revisto diariamente, prevê a tomada de algumas decisões no próprio dia 1, entre elas a escolha sobre o carro que Lula desfilará.
Por motivos de segurança, há dois cenários em estudo: um em que o petista estará no tradicional Rolls Royce conversível; outro em que fará o percurso num carro fechado e blindado. A decisão será avaliada de acordo com a situação de animosidade política e eventuais riscos mapeados no dia.
Durante a reunião desta terça, o principal pedido da equipe de Lula ao Governo do Distrito Federal era a participarão de todo o efetivo das forças policiais da capital durante a posse de Lula.
Ibaneis afirmou que o pedido será atendido. "Todo o efetivo da Polícia Militar [atuará na posse], da Polícia Civil, atuando de apoio e infiltrado durante todo o movimento", disse.
Futuro ministro da Defesa, Múcio ainda afirmou que decidiu pela passagem antecipada dos comandos das Forças Armadas para que se tenha um militar responsável durante o vácuo que haverá após o fim da gestão Bolsonaro, às 23h59 do dia 31 de dezembro, e a posse de Lula, às 15h do dia 1 de janeiro.
"Eu estarei na transição no dia 30, às 10h30, quando o general Freire [Gomes, comandante do Exército] vai sair e entregar interinamente ao novo comandante [general Júlio César de Arruda]. Então é uma coisa absolutamente tranquila, sem o menor problema. Não há viés político", disse.
"Ontem [segunda, 26], eu passei a tarde conversando com os dois [Freire Gomes e Arruda] para tudo ocorrer da forma mais pacífica possível, já que os comandados serão os mesmos", completou.
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