Entenda em cinco pontos rixa entre Arthur Lira e Renan Calheiros que afeta Lula no Congresso

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Entenda em cinco pontos rixa entre Arthur Lira e Renan Calheiros que afeta Lula no Congresso

Entenda em cinco pontos a rixa entre Arthur Lira e Renan Calheiros 

Credito: Reprodução

As dificuldades enfrentadas pelo governo Lula (PT) em torno da medida provisória que reestrutura a Esplanada dos Ministérios passa por uma disputa entre o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Em novo revés do governo Lula, a Câmara decidiu no final da noite desta terça-feira (30) adiar a votação da medida provisória, elevando os riscos de que expire. O texto perde a eficácia no fim da noite de quinta-feira (1) e ainda precisa ser analisado pelo Senado.

Integrantes do Planalto atribuíram ao que chamaram de "questões paroquiais", resultado de uma disputa em Alagoas entre Lira e Renan, o receio de que o presidente da Câmara não atuasse para ajudar o governo nesse tema específico.

O relator do projeto é o deputado federal Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), um dos aliados mais próximos de Renan em Alagoas.

Segundo membros da ala política e parlamentares governistas, Lira fez chegar ainda na noite de segunda-feira (29) a Lula, à Casa Civil e à Secretaria de Relações Institucionais a reclamação de que estava insatisfeito com mensagens publicadas por Renan Calheiros em redes sociais.

Entenda em cinco pontos a rixa entre Arthur Lira e Renan Calheiros:

1) Qual a origem da disputa política entre Renan Calheiros e Arthur Lira?

Os grupos de Renan Calheiros e Arthur Lira estiveram em lados opostos na política de Alagoas em todas as eleições desde 1998. Os dois são políticos de gerações distintas, mas se destacaram pelo protagonismo que conquistaram na esfera nacional, ocupando cargos de relevância no Congresso Nacional.

Com 67 anos, Renan foi deputado federal entre 1983 e 1991. Voltou ao Congresso em 1995 como senador e foi reeleito três vezes, chegando a 29 anos de mandato. Foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e presidente do Senado entre 2005 e 2007 e entre 2013 e 2017.

Arthur Lira tem 53 anos e ingressou na política ainda jovem: foi eleito vereador em Maceió aos 23 anos em 1992. Filho de Benedito de Lira (PP), assumiu uma cadeira na Câmara dos Deputados em 2011. Dez anos depois, em 2021, foi eleito para a presidência da Casa. Foi reeleito para o cargo em 2023.

2) Como se deu a ascensão de Arthur Lira sob Bolsonaro?

A ascensão de Arthur Lira na política nacional aconteceu no mesmo momento em que Renan Calheiros enfrentou o seu momento mais difícil.

Sob a mira de processos no âmbito da operação Lava Jato, Renan submergiu no início do governo Bolsonaro. Em 2018, foi reeleito para o Senado apesar da onda que varreu do Congresso políticos tradicionais do MDB. Quis voltar à presidência da Senado em 2019, mas foi superado pela articulação que levou ao cargo o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

Lira também foi alvo da Lava Jato, mas se tornou um dos deputados federais mais influentes durante o governo Bolsonaro ao liderar o centrão. Com o apoio do então presidente, o bloco parlamentar formado por partidos como PP, PL e Republicanos se viabilizou como alternativa na Câmara ao grupo do então presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

No comando da Câmara, Lira turbinou o uso de emendas parlamentares, recursos do orçamento distribuídos de acordo com indicações de deputados e senadores, sem transparência e sem critérios claros para divisão do dinheiro. A manobra lhe rendeu ainda mais influência na Câmara.

3) Qual o cenário da disputa entre Lira e Renan no governo Lula?

O embate entre Lira e Renan vive um acirramento sob Lula. Aliado do presidente, o senador alagoano tenta retomar o seu protagonismo no Congresso. Ao mesmo tempo, Lira tenta manter sua força política sob Lula.

A eleição de 2022 foi marcada pelo mais duro embate entre os grupos liderados com Renan e Lira em Alagoas. Além de Lula, Renan apoiou a reeleição do governador Paulo Dantas (MDB) e a eleição do seu filho, o ex-governador Renan Filho (MDB) para o Senado. Lira apoiou Bolsonaro, o senador Rodrigo Cunha (União Brasil) para o governo e Davi Davino (PP) para o Senado.

Os aliados de Renan saíram vitoriosos, mas a disputa foi apertada nas três eleições majoritárias. O presidente da Câmara mostrou força no Legislativo: foi o deputado mais votado do estado e ajudou o PP a eleger 4 dos 9 deputados federais de Alagoas. O MDB de Renan elegeu 2.

Com a posse de Lula, Renan Filho se tornou ministro dos Transportes. Lira não emplacou nenhum aliado na Esplanada dos Ministérios, mas foi reeleito para o comando da Câmara com o apoio do PT.

4) O que fez escalar o embate nas últimas semanas?

Em meio a derrotas do governo Lula na Câmara dos Deputados, Renan ampliou a artilharia em cima de Lira e tenta minar as tentativas do adversário de ampliar a sua influência no Congresso e no governo federal.

Na inauguração de uma creche em Rio Largo (AL) no domingo (28), Renan subiu o tom contra o adversário. No mesmo palco em que estava o prefeito Gilberto Gonçalves, o senador acusou o presidente da Câmara de lavar dinheiro de emendas em prefeituras alagoanas. Gonçalves é aliado próximo a Lira e teve sua gestão inundada por verbas de emendas.

Nesta segunda, em uma rede social, o senador chamou Lira de caloteiro, o acusou de desviar dinheiro público e também de ter batido na ex-mulher Julyenne Lins.

De acordo com integrantes do Planalto, Lira enviou mensagens de que mudaria de postura em medidas de interesse de Lula. O recado foi lido no governo como uma pressão para que Lula substitua Renan Filho. Na noite desta terça, Lira negou que tenha pressionado pela substituição do ministro.

5) Há chance de um armistício entre Lira e Renan?

A possibilidade de uma trégua nos embates é vista como remota por aliados de Lira e de Renan. Isso porque a eleição de 2026 deve consolidar o primeiro embate direto entre os dois políticos: ambos devem concorrer ao Senado -haverá duas vagas em disputa.

Cacifado pela boa votação para deputado federal em 2022, Lira terá como trunfo um candidato ao governo forte: o prefeito de Maceió João Henrique Caldas (PL), o JHC. Do outro lado, a tendência é de nova candidatura ao governo de Renan Filho, que comandou o estado entre 2015 e abril de 2022.

A prévia para a disputa de 2026 será nas eleições municipais de 2024, quando aliados de Renan e Lira vão travar disputas pelas prefeituras dos 102 municípios alagoanos. Na capital, JHC é favorito à reeleição com o apoio de Lira. A oposição ainda não tem um nome definido para a disputa. 

 

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