Depoimentos à Polícia Federal revelam detalhes sobre tentativa de golpe
Altos oficiais militares e políticos discutem suas interações com o ex-presidente Jair Bolsonaro
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes retirou o sigilo dos depoimentos prestados à Polícia Federal sobre a suposta tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro na Presidência. Alguns depoimentos ganharam destaque, como do general Estevam Theophilo, de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, e do ex-comandante do Exército Freire Gomes.
'Formas de continuar no poder'
Valdemar da Costa Neto confirmou aos investigadores que Bolsonaro tinha desejo de permanecer no poder, mas que queria agir "nas quatro linhas da Constituição". Apesar do presidente do PL dizer à Polícia Federal que não concordava com as falas de Bolsonaro contra o sistema eleitoral, ele assumiu, em seu depoimento, que chegou a tratar com o ex-presidente derrotado sobre formas de continuar no poder. Valdemar ainda disse, que Jair Bolsonaro não deu um golpe de Estado porque ele "não viu maneira de fazer".
'A minuta do golpe'
Já ex-comandante do Exército, Freire Gomes, admite que viu duas versões da minuta do golpe. Gomes revelou ainda que participou de uma reunião no dia 7 de dezembro com o então presidente no Palácio da Alvorada. Na ocasião, segundo o depoimento, o assessor de assuntos internacionais Filipe Martins leu a minuta e depois se retirou. Em outro encontro, Bolsonaro teria apresentado um documento com a Decretação do Estado de Defesa e a criação da Comissão de Regularidade Eleitoral. Freire Gomes, junto com o comandante da Aeronáutica, Baptista Junior, teriam sido contundentes ao se colocarem contrários ao documento exposto.
'Voz de prisão'
O depoimento do ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Carlos Baptista Junior, trouxe um episódio que chamou atenção. Segundo ele, o general Freire Gomes teria ameaçado dar voz de prisão em Bolsonaro, após o ex-mandatário falar sobre a possibilidade de um golpe de Estado para continuar no poder. A reunião em questão aconteceu com comandantes das Forças, no Palácio da Alvorada, após o segundo turno das eleições de 2022.
Freire Gomes também contou que o ex-ministro da Saúde e agora deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) chegou a propor usar as Forças Armadas para impedir o presidente Lula de assumir a Presidência após o resultado das eleições de 2022. Pazuello teria sugerido uma "ação militar, visando impedir a posse do governo eleito".
'Reuniões no Palácio da Alvorada'
O general Estevam Theophilo, em depoimento à PF, negou ter envolvimento com a minuta do golpe e afirmou não ter proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele também negou ter conhecimento de quaisquer planos de prisão ou de monitoramento e vigilância ao ministro Alexandre de Moraes. Theophilo também afirmou que não participou da elaboração da nota "às instituições e o Povo Brasileiro", emitida pelos comandantes das Forças.
Theophilo disse que não tinha encontros pessoais com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, e que não concordou com o conteúdo da "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro". Em relação às reuniões no Palácio da Alvorada, afirmou que esteve a pedido do comandante do Exército. Apesar de ter ficado sozinho com Bolsonaro, ele disse que não tratou com com o então presidente de possível minuta de golpe ou utilização de Garantia de Lei e da Ordem (GLO), estado de defesa, estado de sítio ou intervenção federal.
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