Manifestantes queimam bandeiras dos EUA após decisão sobre aborto

Internacional WASHINGTON

Manifestantes queimam bandeiras dos EUA após decisão sobre aborto

Os manifestantes queimaram bandeiras no asfalto ao menos duas vezes

Crédito: Divulgação

Um grupo de cerca de 30 manifestantes vestidos de preto e com os rostos cobertos por máscaras marchou em Washington na noite desta sexta-feira (24), em protesto contra a decisão da Suprema Corte que suspendeu o direito constitucional ao aborto. Eles foram seguidos por cerca de cem pessoas.

Os manifestantes queimaram bandeiras dos EUA no asfalto ao menos duas vezes. O protesto teve início no início da noite e passou em frente ao prédio do tribunal. Depois o grupo deu voltas pelo centro da cidade, que fica a poucas quadras do Congresso. Ao final, voltou para a frente da Suprema Corte.

A multidão repetia gritos como "meu corpo, minha escolha" e "as pessoas devem decidir seus destinos. F* o Estado, f* a igreja", além de xingamentos aos juízes da corte. Também picharam frases no asfalto e lançaram fumaça preta com sinalizadores. "Velhos discursos de m* não resolvem. Revoltas resolvem. Votar resolve", discursou uma das líderes do movimento, enquanto a bandeira queimava.

Policiais de bicicleta e em viaturas seguiram a passeata. A segurança foi bastante reforçada em Washington nesta sexta, e várias ruas ao redor do Congresso e da Suprema Corte foram bloqueadas.

Também na capital, um homem escalou um dos arcos da ponte Frederick Douglass, em protesto pela decisão da Suprema Corte, e se recusou a descer por mais de 12 horas. A ponte foi fechada ao tráfego.

Outras cidades dos EUA tiveram atos na noite desta sexta, como Los Angeles e Austin. Em Nova York, cerca de dez mil pessoas se reuniram em uma praça e depois marcharam pela cidade, segundo a TV ABC.

A nova posição da Suprema Corte sobre o aborto foi anunciada na manhã desta sexta-feira (24). A maioria dos juízes decidiu pela validade de uma lei criada no estado do Mississippi, em 2018, que proíbe a interrupção da gravidez após a 15ª semana de gestação, mesmo em casos de estupro. Assim, os magistrados derrubaram outra sentença do tribunal, de 1973, que considerou o aborto um direito constitucional.

A mudança não proíbe o procedimento, mas abre espaço para que cada um dos 50 estados adote vetos locais -mais de 20 governos locais devem passar a impedir a interrupção da gravidez após a decisão.

Durante o dia, milhares de pessoas se manifestaram na frente da Suprema Corte. No começo da noite, a ampla maioria delas era de ativistas a favor do aborto. Alguns poucos contra a interrupção da gravidez se envolviam em debates com os defensores dos direitos das mulheres, algumas vezes em tom agressivo.

Em dado momento, ativistas jogaram água em dois homens que defendiam o fim do aborto, para tentar expulsá-los. Eles se afastaram, mas continuaram na área, falando sobre o direito dos bebês a nascer.

Também em frente à corte, ativistas fizeram vários discursos em sequência, questionando a decisão e pedindo união para que o direito ao aborto seja recuperado. "Não vamos levar 50 anos para reverter as coisas, porque agora estamos organizadas e sabemos como lutar", disse uma das ativistas ao microfone.

Como saídas, algumas das ideias defendidas eram votar em candidatos a favor do procedimento nas eleições de novembro, quando haverá renovação do Congresso e de governos estaduais, e aumentar o número de juízes da Suprema Corte, de modo a anular a atual maioria conservadora.

Muitos manifestantes levavam cartazes comparando o veto ao aborto com a liberação das armas. Na quinta-feira (23), a Suprema Corte decidiu que os estados não podem vetar o porte de armas em público.

"De que adianta proibir o aborto para as crianças nascerem e serem mortas na escola?", ironizou o ativista Juan, que não deu o sobrenome e levava um dos cartazes pedindo veto às armas.

Em outras falas, ativistas destacaram que as mulheres mais pobres, assim como as negras, latinas e imigrantes, serão as mais afetadas pela mudança desta sexta. "Todos os abortos importam, mas as mulheres negras terão mais dificuldades, e devemos ajudá-las", disse outra manifestante ao discursar.

COMO VOTOU CADA JUIZ DA SUPREMA CORTE DOS EUA 

PELA SUSPENSÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL AO ABORTO
Samuel Alito
Quem o indicou: George W. Bush (Republicano)

Clarence Thomas
Quem o indicou: George H. W. Bush (Republicano)

Neil Gorsuch
Quem o indicou: Donald Trump (Republicano)

Brett Kavanaugh
Quem o indicou: Donald Trump (Republicano)

Amy Coney Barrett
Quem a indicou: Donald Trump (Republicano)

PELA MANUTENÇÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL AO ABORTO
Stephen Breyer
Quem o indicou: Bill Clinton (Democrata)

Sonia Sotomayor
Quem a indicou: Barack Obama (Democrata)

Elena Kagan
Quem a indicou: Barack Obama (Democrata)

John Roberts*

Quem o indicou: George W. Bush (Republicano)*Votou contra a suspensão da Roe vs. Wade, mas a favor da lei em discussão, que proíbe o aborto após 15 semanas de gravidez no Mississippi 

 

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