Paternidade ativa e a ressignificação do "ser pai" na atualidade
Nos últimos anos, o papel dos pais na dinâmica familiar tem passado por uma espécie de ressignificação.
Tradicionalmente, a figura paterna era vista, principalmente, como o provedor financeiro da família. No entanto, o debate contemporâneo tem enfatizado a importância da presença paterna ativa e equitativa na vida dos filhos, equiparando-a à da mãe.
De acordo com estudo do IBGE, as mulheres passam, em média, 20 horas por semana uidando de casa e dos filhos. Os homens têm uma média quase 50% menor: 11 horas. Especialistas e observadores sociais reconhecem que, embora o conceito de paternidade ativa esteja ganhando força, a mudança ainda é lenta e enfrenta barreiras estruturais. Dados recentes revelam uma persistente desigualdade na divisão do trabalho doméstico e remunerado, com as mulheres dedicando até 6 horas a mais por semana em tarefas não remuneradas comparado aos homens.📱 FEIRA DE SANTANA NOTÍCIAS 24H: faça parte do canal do Folha do Estado no WhatsApp
Para muitos pais, a transição para um papel mais ativo na criação dos filhos é inspirada por reflexões pessoais e influências externas. Um exemplo é a experiência do professor Wallace Santos, pai de Hipátia, de 10 anos, que encorajou e apoiou sua companheira a cursar um mestrado fora da cidade, ficando responsável pelos cuidados diários da casa e da filha. "O desafio de equilibrar as responsabilidades parentais com a carreira acadêmica da parceira também foi um aspecto crucial. Embora não tenha assumido integralmente os cuidados, o apoio da minha companheira sempre foi constante, mesmo à distância. No entanto, enfrentamos a surpresa e o estranhamento social ao ver minha dedicação ao cuidado diário", relata.
O biólogo conta que cresceu em um ambiente familiar onde a paternidade ativa não era a norma, entretanto, buscou outras referências para moldar seu próprio estilo parental. "Embora eu tenha tido boas referências em outros aspectos, a paternidade ativa foi uma área onde precisei buscar novos modelos e refletir criticamente. As condições materiais e as exigências do trabalho na roça limitavam a presença de meu pai em casa. Esse cenário me levou a procurar outras referências e questionar o tipo de pai que queria ser", explica.
"O que de fato me levou a procurar outras referências e a refletir sobre o tipo de pai que eu queria ser foi a convivência com mulheres críticas à estrutura machista da sociedade brasileira e da subjetividade masculina, ainda hoje muito ancorada nos privilégios de gênero que tal estrutura confere, em maior ou menor medida, a todos os homens. E embora tenha também conhecido outros pais engajados numa paternidade mais presente e ativa, em grande medida eles também devem isso às suas companheiras e amigas que participaram de maneira decisiva da nossa transformação", acrescenta o genitor.
Ainda assim, Wallace encontrou maneiras de superar a resistência social e o preconceito. "Mesmo enfrentando atitudes críticas, sempre procurei afirmar o valor das minhas ações e subverter posturas conservadoras". Ele destaca a satisfação pessoal ao ver os impactos positivos de sua paternidade ativa no desenvolvimento da filha e a valorização de qualidades como justiça e honestidade, que aprendeu com seu próprio pai.
"A partir do momento em que estava dada a missão de ser pai, decidi que faria o possível para aprender sobre e exercer a paternidade da maneira mais crítica possível, pois sempre acreditei que precisamos evitar aceitar e repetir cegamente comportamentos e atitudes tidos como naturais e inquestionáveis. Quando engravidamos, minha companheira e eu estávamos desempregados e vivendo de bolsas estudantis. Então, de partida, a preocupação com garantir as condições materiais para receber e criar nossa filha foi a que mais nos afligiu. Além disso, a insegurança provocada pela inexperiência e pela vulnerabilidade inerente ao desenvolvimento de toda criança sempre nos afetou bastante. Some-se a isso os desafios ligados à adaptação às mudanças geracionais, cada vez mais difíceis de acompanhar, e não faltarão motivos para qualquer pai ou mãe sofrer de insegurança".
A experiência de Wallace ilustra as complexidades e recompensas de um papel paterno mais envolvido, revelando tanto os desafios quanto as realizações associadas a uma paternidade que busca romper com normas tradicionais e estabelecer novos padrões de cuidado e presença. "Sempre me senti muito realizado ao conseguir concretizar o exercício das minhas ideias sobre paternidade, tanto pela percepção dos efeitos positivos no desenvolvimento da minha filha quanto no meu próprio desenvolvimento em aspectos da personalidade que aprendi a valorizar muito com meu pai: ser justo e honesto. Algo que pode ser encarado como trivial, mas que se torna realmente relevante ao passar por uma autoavaliação sincera sobre aquilo que se acredita ser o jeito certo de fazer as coisas. Tanto que me senti muito impactado e, em certa medida, feliz ao ver meu pai declarar para mim que gostaria de ter sido um pai parecido comigo, e que se arrependia de muitas atitudes que ele teve na minha criação e na dos meus irmãos. Assim como me sinto muito feliz quando posso servir de suporte e referência para outros homens que também desejam enfrentar os desafios do exercício de uma paternidade contra-hegemônica", diz.
O biólogo conta que cresceu em um ambiente familiar onde a paternidade ativa não era a norma, entretanto, buscou outras referências para moldar seu próprio estilo parental. "Embora eu tenha tido boas referências em outros aspectos, a paternidade ativa foi uma área onde precisei buscar novos modelos e refletir criticamente. As condições materiais e as exigências do trabalho na roça limitavam a presença de meu pai em casa. Esse cenário me levou a procurar outras referências e questionar o tipo de pai que queria ser", explica.
"O que de fato me levou a procurar outras referências e a refletir sobre o tipo de pai que eu queria ser foi a convivência com mulheres críticas à estrutura machista da sociedade brasileira e da subjetividade masculina, ainda hoje muito ancorada nos privilégios de gênero que tal estrutura confere, em maior ou menor medida, a todos os homens. E embora tenha também conhecido outros pais engajados numa paternidade mais presente e ativa, em grande medida eles também devem isso às suas companheiras e amigas que participaram de maneira decisiva da nossa transformação", acrescenta o genitor.
Ainda assim, Wallace encontrou maneiras de superar a resistência social e o preconceito. "Mesmo enfrentando atitudes críticas, sempre procurei afirmar o valor das minhas ações e subverter posturas conservadoras". Ele destaca a satisfação pessoal ao ver os impactos positivos de sua paternidade ativa no desenvolvimento da filha e a valorização de qualidades como justiça e honestidade, que aprendeu com seu próprio pai.
"A partir do momento em que estava dada a missão de ser pai, decidi que faria o possível para aprender sobre e exercer a paternidade da maneira mais crítica possível, pois sempre acreditei que precisamos evitar aceitar e repetir cegamente comportamentos e atitudes tidos como naturais e inquestionáveis. Quando engravidamos, minha companheira e eu estávamos desempregados e vivendo de bolsas estudantis. Então, de partida, a preocupação com garantir as condições materiais para receber e criar nossa filha foi a que mais nos afligiu. Além disso, a insegurança provocada pela inexperiência e pela vulnerabilidade inerente ao desenvolvimento de toda criança sempre nos afetou bastante. Some-se a isso os desafios ligados à adaptação às mudanças geracionais, cada vez mais difíceis de acompanhar, e não faltarão motivos para qualquer pai ou mãe sofrer de insegurança".
A experiência de Wallace ilustra as complexidades e recompensas de um papel paterno mais envolvido, revelando tanto os desafios quanto as realizações associadas a uma paternidade que busca romper com normas tradicionais e estabelecer novos padrões de cuidado e presença. "Sempre me senti muito realizado ao conseguir concretizar o exercício das minhas ideias sobre paternidade, tanto pela percepção dos efeitos positivos no desenvolvimento da minha filha quanto no meu próprio desenvolvimento em aspectos da personalidade que aprendi a valorizar muito com meu pai: ser justo e honesto. Algo que pode ser encarado como trivial, mas que se torna realmente relevante ao passar por uma autoavaliação sincera sobre aquilo que se acredita ser o jeito certo de fazer as coisas. Tanto que me senti muito impactado e, em certa medida, feliz ao ver meu pai declarar para mim que gostaria de ter sido um pai parecido comigo, e que se arrependia de muitas atitudes que ele teve na minha criação e na dos meus irmãos. Assim como me sinto muito feliz quando posso servir de suporte e referência para outros homens que também desejam enfrentar os desafios do exercício de uma paternidade contra-hegemônica", diz.
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