Medida restritiva do MEC deve deixar muitos deficientes visuais sem apoio em Feira
Os alunos do CAP DV estiveram na Rádio Geral, onde expuseram a situação preocupante de muitos deficientes visuais
O Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual Jonathas Telles de Carvalho (CAP DV) deve ter uma perda significativa de alunos para o próximo ano. Os alunos do CAP DV foram informados esta semana pelo diretor da unidade, Fabrício Santos, de que em virtude de uma medida do Ministério da Educação (MEC), a partir de 2025 só permanecerão vinculados à instituição, àqueles que estiverem matriculados na rede normal de ensino. Os que não tiverem escolaridade, ou tiverem concluído os estudos terão que deixar a unidade até o final do próximo mês.
Criado pelos Clubes do Rotary de Feira de Santana em 2005, o CAPDV Jonathas Telles de Carvalho, localizado no bairro Santa Mônica, se transformou ao longo dos seus quase 20 anos de existência na "luz do fim do túnel" para diversas pessoas que estavam presas ao mundo da escuridão. A sua finalidade é dar aos cegos ou pessoas com visão subnormal um atendimento especializado, em virtude da carência de serviços e recursos, especialmente na área educacional, que pudessem atender às necessidades mais básicas dessas pessoas.
O Governo do Estado mantém o quadro de professores e funcionários, além de destinar as verbas de alimentação, manutenção e material de expediente. O CAP também mantém um convênio com a Secretaria Municipal de Educação, para a realização dos serviços de Educação Especial. Através dos serviços e atividades oferecidos pela entidade, várias pessoas com deficiência visual total ou parcial tiveram a oportunidade de se reinventar e descobrir novos horizontes para as suas vidas.
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O radialista e músico Adailton Santana perdeu a visão por conta de uma tuberculose ocular e descobriu no CAP, que poderia seguir a sua vida normalmente, mesmo sem enxergar. "Eu tenho 17 anos de casa e não há palavras suficientes para expressar a minha gratidão. Cheguei desorientado, depressivo, sem perspectiva nenhuma e de repente através dos ensinamentos, da troca de experiências com outras pessoas, pude entender que a vida não tinha acabado para mim: continuo ligado à música, tenho minhas atividades religiosas e profissionais como radialista", pontuou.
A entidade acolhe deficientes visuais oriundos de todas as classes sociais, que estudam em escolas públicas, privadas e universidades. Há, também, aqueles que não possuem escolaridade ou que já concluíram os estudos regulares.
Todos contam com programas específicos para os alunos, indicados segundo as necessidades de cada um. É o caso de Margarida Rocha, que possui baixíssima visão devido a uma retnose pigmentar e que viu a sua autoestima se elevar, quando passou a frequentar o CAP DV. "O processo da perda da minha visão vem acontecendo ao longo do tempo, a ponto de hoje ter a necessidade de usar bengala me locomover melhor. Estava depressiva e lá (no CAP) eu me redescobri fazendo dança e outras atividades, fiz novos amigos, ganhei uma família nova e reencontrei a felicidade e a alegria de viver", observa.
Os alunos têm aulas de braile, soroban, mobilidade, música, informática, além de praticarem esportes. Esses "gatilhos", os atiram em novas jornadas, como foi o caso de Saturnino Araújo, que ficou completamente cego aos 49 anos por conta do diabetes. "Mesmo tendo apoio da minha família, me sentia deslocado e no CAP me redescobri de tal maneira que voltei a estudar, prestei vestibular e me formei em Serviço Social porque eu quero contribuir para que a gente viva em uma sociedade melhor, onde todos possam ter as mesmas oportunidades", ressaltou.
PREOCUPAÇÃO
Todos se encontram preocupados por conta da resolução do MEC que deve passar a vigorar em janeiro de 2025. A unidade atualmente atende a 180 pessoas, mas com a medida entrando em vigor, o número cairá para 20 alunos. "Essa é a situação de onde nós estudamos, mas tem outras instituições na cidade neste mesmo impasse e poderemos ter mais de 300 pessoas sem este suporte a partir do próximo ano, o que terrível pois se trava de um grave processo de exclusão", enfatizou Adailton Santana.
Os alunos estão buscando se organizar para tentar reverter o quadro."Temos que lutar para que isso não se concretize porque, a vida já é complicada para a gente tendo o apoio do CAP, imagine sem esse suporte? Estamos falando de vínculos, de amigos, de família e uma medica como esta é cruel porque muitos amigos não vão ter mais o que fazer. Acredito até que pode aumentar ainda mais a carga na rede de saúde porque a deficiência muitas vezes está atrelada a outros problemas e as pessoas, principalmente os governantes precisam saber disso", alertou Saturnino.
As informações obtidas pelos alunos causaram um clima de muita tristeza entre todos que compõem o CAP DV. "Lá tem pessoas com mais de 60 anos, que ficaram desesperadas porque vão ter que sair. Se tem um acolhimento tão grande que em muitos casos supera até o de muitas famílias que não sabem lidar com a situação dos deficientes. Sem um espaço como este, vários vão entrar em depressão, o que nos preocupa demais. Por isso estamos colocando de forma pública esta situação e vamos em busca de soluções para esta problemática", disse Margarida Rocha.
Adailton Santana disse que o principal objetivo agora é mobilizar a sociedade em busca de uma solução. "Vamos nos movimentar porque se isso se concretizar serão mais de 300 pessoas que ficarão desguarnecidas. Precisamos neste momento de que todos, principalmente os políticos, olhem para a gente e evitem um grande mal porque se nada for feito várias pessoas não terão mais perspectiva de vida", alertou.
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