Arquidiocese repudia assassinatos de moradores de rua em Feira de Santana
Nota foi emitida expressando profunda indignação e luto pelas vítimas.
Após a morte de quatro pessoas em situação de rua nos últimos 10 dias em Feira de Santana, a Arquidiocese e o Centro Social Monsenhor Jessé emitiram uma nota de repúdio, publicadas nas redes sociais e distribuída entre as paróquias do município.
A nota foi assinada pelo Arcebispo Metropolitano de Feira de Santana, Dom Zanone Demettino Castro e a Coordenadora do Centro Monsenhor Jessé, Irmã Mary Sinor, expressando profunda indignação e luto pelas vítimas, entre elas uma mulher conhecida como Morena.
Ao Folha do Estado, o arcebispo metropolitano ressaltou que a morte de Morena, assassinada brutalmente, representa a situação das pessoas que vivem marginalizadas e em situação de vulnerabilidade.
Dom Zanone afirmou que a nota de repúdio é um grito por justiça, por paz, por dignidade e respeito à vida humana, independentemente de sua condição social.
"A recorrência desses crimes, que vitimaram quatro pessoas em situação de rua em uma única semana, é uma ferida aberta no tecido social de Feira de Santana. A aporofobia e a impunidade não podem ter lugar. Essas vidas não devem ser invisíveis ou tratadas com desprezo, mas vistas como parte da mesma humanidade, filhos de Deus que merecem respeito e dignidade", declarou o arcebispo.
Ele fez ainda um apelo urgente para que as autoridades tomem providências. "E que a sociedade se sensibilize, que a justiça prevaleça. Cada vida conta, e onde morre um irmão, todos nós estamos morrendo junto. O clamor é por um fim à violência e por uma cultura de paz e segurança para os mais vulneráveis", pediu Dom Zanone.
Grupo de Extermínio
Também em entrevista ao Folha do Estado, a Irmã Mary Sinor, coordenadora do Centro Social Monsenhor Jessé, confirmou que a entidade e a Arquidiocese também suspeitam da existência de grupos de extermínio em Feira de Santana.
"Em todos esses crimes percebemos requintes de crueldade. Os assassinos surpreenderam as vítimas de forma covarde. Não deram possibilidade delas se defenderem, de correrem. E em todos esses casos, o objetivo final, foi apenas um: exterminar as vidas dessas pessoas. Agora cabe às autoridades competentes buscarem câmeras, fazer a análise das balas e toda a investigação necessária para que tudo venha a se esclarecer e os responsáveis sejam penalizados", apontou.
Segundo a coordenador do Centro Social, a nota de repúdio buscou acima de tudo jogar luz sobre a problemática.
"Cada pessoa em situação de rua representa para nós o próprio Jesus Cristo. Valorizamos, amamos e cuidamos de cada filho que bate à nossa porta em busca de alimento, de atenção e ajuda. E a partir desse posto que ocupamos, de Pastoral do Povo da Rua, da Arquidiocese de Feira de Santana, queremos segurança e justiça para os nossos filhos em situação de rua. Estamos aqui para gritar e lutar junto com eles", destacou.
Obras sociais
O Centro Monsenhor Jessé, também conhecido como a Pastoral do Povo, foi fundada em 2010 para atender e prestar assistência social às pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social.
A coordenadora da entidade Mary Sinor explica que o trabalho social oferece, de forma gratuita, de segunda a quinta-feira, almoço para centenas de pessoas que não têm o que comer.
"Toda essa ação é possível, graças a Divina Providência, que por meio de corações generosos, faz chegar até nós as doações necessárias para execução dessa missão. Além de possibilitar um almoço digno para os nossos filhos, também ofertamos roupas, kits de higiene pessoal, encaminhamos para a retirada de documentos e intermediamos a ida dos que desejarem ir para casas de recuperação. Quando temos recursos, ajudamos na compra passagens para aqueles que desejam retornar às cidades de origem e ajudamos aos que desejam empreender de alguma forma, seja através de um carrinho de mão para fazer carreto ou outros meios de ganhar o pão de forma autônoma. Buscamos contribuir no cuidado com a saúde deles, ofertando consultas médicas e medicamentos. Temos também um Bazar Beneficente, em que colocamos parte das nossas doações à venda com preços acessíveis, facilitando a aquisição desses itens pelas famílias carentes que já conhecem o nosso trabalho", explicou Mary Sinor.
Os desafios da missão, segundo ela, são enormes, e as doações nem sempre chegam no mesmo ritmo das demandas e necessidades.
"As doações por vezes oscilam um pouco. Contudo, ao pedirmos ajuda, elas chegam por meio da Divina Providência. Como o nosso trabalho é um trabalho voluntário, em alguns momentos sofremos um pouco, quando não estamos com a equipe completa para desenvolver as atividades naquele dia. Nosso espaço é bem compacto, não conseguimos comportar muitas pessoas na cozinha. Mas, fora essa parte mais concreta do serviço, considero o maior desafio é lidar com as perdas constantes de pessoas queridas, que amamos e que fazem parte da nossa família do Centro Social Monsenhor Jessé."
De segunda a quinta-feira, o Centro Social Monsenhor Jessé serve em média 250 refeições. O número de pratos servidos varia conforme a movimentação de cada dia.
"O nosso almoço é servido a cada um deles na mesa. Eles entram em nossa casa, sentam-se e comem com dignidade, em um ambiente limpo, seguro e acolhedor. Como o fluxo é muito alto e somos poucos para fazer as coisas acontecerem, não nos preocupamos em contar as doações de alimentos que recebemos, focamos no que precisamos e vamos fazendo. Quando percebemos que pode acabar, pedimos ajuda e ajuda vem."
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