Bahia cobra doses da vacina CoronaVac para público de 3 a 5 anos
Conselho Estadual enviou ofício ao Ministério da Saúde
O Conselho Estadual da Saúde da Bahia (CES) enviou um ofício ao Ministério da Saúde (MS) cobrando vacinas contra a Covid-19 para aplicação em crianças de 3 a 5 anos, além de transparência nas orientações, distribuição e nos dados referentes às doses existentes da vacina.
Apesar da vacinação com a CoronaVac para crianças entre 3 e 5 anos ter sido liberada pelo MS na última sexta-feira –, após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso emergencial do imunizante para essa faixa etária–, foi só na terça-feira que a pasta divulgou uma nota técnica informando as orientações do Programa Nacional de Imunizações para vacinação do público infantil, o que acarretou, segundo o presidente do CES, Marcos Sampaio, em uma reformulação no esquema de vacinação que já havia sido iniciado em alguns municípios baianos, como Salvador e Camaçari.
E isso pode causar atraso na vacinação, diz Sampaio.
"O Ministério da Saúde divulgou tardiamente essa nota técnica. Os municípios precisam de informações claras para que haja uma organização com o esquema de vacinação e precisam da certeza de que haverá vacinas suficientes para atender a demanda", afirma.
Em Salvador, o movimento nos postos em busca da vacinação das crianças de 3 a 5 anos tem sido intenso. Inaugurada segunda-feira (18), a estratégia de imunização alcançou 3.316 crianças da faixa etária com a primeira dose da vacina até a quinta-feira (21).
Durante a manhã e a tarde de quinta-feira (21) a Unidade Básica de Saúde (UBS) Manoel Vitorino, em Brotas, registrou alta procura para a imunização do público-alvo, o que deixou trabalhadores do local com receio de não conseguir vacinar todo mundo até às 16h, horário de encerramento do serviço.
O presidente do CES afirma que a lentidão do ministério é uma "demonstração de ausência de prioridade com a prevenção à saúde das crianças". Além disso, na visão de Sampaio, o Ministério da Saúde apostou na desistência das pessoas que estão sem completar o ciclo vacinal, ao invés de enviar novas remessas da vacina para aplicação em todas as crianças.
"Não existe vacinas sobrando, o que realmente existe são as vacinas que deveriam ser aplicadas nos faltosos", defende ele.
"A última remessa de CoronaVac foi recebida no estado da Bahia em fevereiro, para o público de 6 a 11 anos. Essas vacinas foram enviadas pelo ministério para atender à demanda deste público, alguns desses lotes que foram enviados já tiveram vencimento em junho e julho, e até hoje outros não foram mandados", explica.
"Tenho certeza que o ministério está contando com que a gente utilize essas doses nesse novo público que vai procurar a vacina, o que não pode ser feito, porque elas estão destinadas às crianças mais velhas que ainda não foram tomar o imunizante", fala.
Sampaio estima que Salvador, por exemplo, só tenha, no total, cerca de 4 mil doses de CoronaVac para vacinar para as crianças, sem reservas para garantir a segunda dose.
"Se não foram enviadas novas remessas de vacina, e se também não se tem nenhum tipo de estratégia ou previsão de envio delas, temos que afirmar que o ministério acabou anunciando algo que a gente não tem nem garantia de que vai poder ser cumprido", diz.
Estoque insuficiente
De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), até o dia 21 de julho, 1.108 crianças de três anos foram vacinadas, ao passo que 1.382 de quatro anos receberam o imunizante, e apenas 826 crianças com cinco anos se vacinaram com a primeira dose. Segundo a pasta, 94 mil crianças integram o público dessa faixa etária na capital.
Já a Bahia possui uma estimativa de 410.459 crianças com idade entre 3 a 4 anos que estão elegíveis para a vacinação com a Coronavac. Conforme levantamento realizado pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), a Bahia, incluindo os estoques existentes nos municípios, dispõe de aproximadamente 200 mil doses de vacinas, quantidade classificada como insuficiente para atender integralmente o novo público elegível.
Segundo a pasta, o Ministério da Saúde ainda não informou previsão de nova remessa de doses de Coronavac aos estados e os estoques existentes devem ser utilizados com a reserva para as segundas doses, indicadas para 28 dias após o início do esquema vacinal. "Conforme resolução, os municípios que possuem saldo desse imunizante já podem iniciar a vacinação desse público", informa em nota.
Sem responder diretamente o documento enviado pela instituição, a pasta afirmou que ninguém vai ficar sem vacina e anunciou, no mesmo dia, à noite, que tem disponível 1,2 milhão de doses de CoronaVac para imunização de crianças de 3 e 4 anos, porém sem informar a previsão de quando as doses serão entregues.
"Perversidade"
Na opinião do presidente do conselho, o MS está sem previsão de entrega das vacinas porque sequer tem estoque suficiente da CoronaVac para a distribuição, tendo em vista que a pasta desacreditou da eficiência do imunizante e não estimulou a sua produção, e que por isso não assinou nenhum contrato de fornecimento com o Instituto Butantan, produtor da CoronaVac no Brasil, ou a colocou no Plano Nacional de Vacinação, como vacina prevista.
"Esse formato do Ministério em não dar garantia e nem trazer a transparência dos dados é uma perversidade. Os estados e municípios precisam lidar com a suposta falta da vacina e da garantia de novos imunizantes para essa faixa etária, que está aguardando há 3 anos para se vacinar".
O conselho também solicitou o cronograma de novas remessas, a disponibilização dos contratos assinados que garantam a entrega de novas doses e o prazo para recebimento dessas doses. O Ministério da Saúde recomendou que a vacina CoronaVac seja destinada inicialmente apenas para crianças entre 3 e 4 anos de idade, e que a vacinação ocorra de forma gradual para todas as crianças imunocomprometidas de 3 e 4 anos de idade, seguida pelas faixas etárias de 4 e depois 3 anos de idade.
Já as crianças a partir de 5 anos deverão ser vacinadas com imunizante da Pfizer, nos esquemas já recomendados. Por meio de nota, a pasta esclarece que todas as doses adquiridas da vacina CoronaVac já foram entregues a todos os estados e Distrito Federal. O ministério ainda recomenda no documento que sejam utilizados os estoques existentes nos estados e municípios.
"No entanto, o Ministério da Saúde segue em tratativas para aquisição de novas doses. A decisão será formalizada em nota técnica aos estados, bem como o cronograma de entrega de doses adicionais", diz, sem informar possíveis previsões sobre quantas doses do imunizante serão destinadas para a Bahia ou quando estas chegarão no estado.
Anteriormente, na noite de quarta-feira, o secretário-executivo adjunto do Ministério da Saúde, Marcos Vinicius Dias, informou no programa A Voz do Brasil que a pasta tem disponível 1,2 milhão de doses de CoronaVac para imunização de crianças de 3 e 4 anos.
De acordo com Dias, caso seja necessário, doses podem ser realocadas para suprir as demandas de estados com mais carência e novos lotes poderão ser adquiridos. "Ninguém vai ficar sem vacina", garantiu.
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