Profissionais de nível superior têm 23% mais chance de trabalho remoto
Pesquisadores mapearam teletrabalho no Brasil
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou nesta terça-feira (19/10) um estudo sobre o potencial de ocupações passíveis de serem realizadas de forma remota. O estudo faz um retrato do trabalho remoto no país e nas Unidades Federativas, permitindo um melhor entendimento dessa realidade em cada localidade. O levantamento inclui dados mensais sobre gênero, raça/cor, escolaridade, idade, setor de atividade, além do percentual da massa de rendimentos por atividade econômica para o Brasil e em cada um dos estados brasileiros, no período de maio a novembro de 2020, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Covid-19. De acordo com os pesquisadores, os profissionais com nível superior completo possuem 23% a mais de chance de estarem em trabalho remoto do que as pessoas com escolaridade de nível fundamental incompleto.
A análise mostrou que, de maio a novembro de 2020, 7,3 milhões de pessoas trabalharam de forma remota no Brasil, o que equivale a 9,2% da população ocupada e não afastada, sendo responsável por 17,4% da massa de rendimentos gerada via trabalho. O perfil médio dos trabalhadores em home office na pandemia em novembro de 2020 era o seguinte: 57,8% eram mulheres, 65,3% eram brancos, 76% possuíam escolaridade de nível superior completo, 31,9% estavam na faixa de 30 a 39 anos e 61,1% estavam empregados no setor privado.
No mapeamento, os pesquisadores chegaram à conclusão de que ser mulher aumenta as chances de trabalhar de forma remota em 1,5% em relação aos homens. Na análise por raça/cor, ser branco eleva as chances de home office em 2,3% em relação a negros. Trabalhar no serviço público aumenta as chances de estar em trabalho remoto em 14% na comparação com as pessoas empregadas na atividade agrícola. Os residentes na região Sudeste possuem 5,6% mais de chance de estar em home office do que os moradores do Norte do país. Quem possui vínculo informal tem 0,8% menos chances de trabalhar à distância do que os que exercem o ofício formalmente.
Outra constatação relevante que inclui fatores individuais, laborais e regionais indica que mulheres, brancas, com escolaridade de nível superior completo, trabalhando no setor público, com vínculo formal e na região Sudeste possuem 47,2% a mais de chance de estarem em trabalho remoto do que homens, negros, com escolaridade de nível fundamental incompleto, trabalhando na agricultura, com vínculo informal e residentes no Norte do país.
Dado inédito apresentado no estudo trata ainda da massa de rendimentos por atividade econômica em cada estado brasileiro. O Distrito Federal, por exemplo, apresentou o maior percentual de pessoas ocupadas em home office (20%), que foram responsáveis por 32,7% da massa de rendimentos total efetivamente recebida pelas pessoas ocupadas no DF. Ao passo que no Pará, que tem o menor percentual de população ocupada trabalhando remotamente (3,1%), essas pessoas foram responsáveis por 6,9% da massa de rendimentos total efetivamente recebida pelas pessoas ocupadas no estado. Isso evidencia a disparidade no trabalho remoto entre os estados brasileiros.
Em novembro de 2020, a população ocupada e não afastada era de 80,2 milhões de pessoas no Brasil, sendo que 7,3 milhões, ou seja, 9,2% trabalharam remotamente. "Apesar de cerca de um quinto dos trabalhadores estar em ocupações passíveis de serem realizadas à distância, apenas pouco menos de 10% efetivamente trabalharam de forma remota em novembro de 2020 (último dado disponível pela PNAD Covid-19). De fato, a escolaridade é a variável individual mais correlacionada com a probabilidade de teletrabalho no país", afirmou o pesquisador do Ipea Geraldo Góes, um dos autores do estudo intitulado 'Um panorama do trabalho remoto no Brasil e nos estados brasileiros durante a pandemia da Covid-19', em coautoria com Felipe Martins e José Antônio Nascimento.
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