'Não entendo como um governo pode legalizar o contrabando', diz CEO da Marisa
A peculiaridade do encontro, disse ele, aconteceu por conta da mudança de posicionamento da Pasta
"Sui generis". Foi dessa maneira que João Pinheiro Nogueira Batista, presidente da Lojas Marisa, definiu os relatos sobre a reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e representantes de redes varejistas no último sábado (1). No dia anterior, a pasta havia publicado uma portaria que caiu como um banho gelado a céu aberto, num setor que têm vivido com uma forte pneumonia há meses: isentou as compras internacionais de até US$ 50 de impostos de importação. A peculiaridade do encontro, disse ele, aconteceu por conta da mudança de posicionamento da Pasta, em relação a reuniões anteriores com o setor.
"O ministro tinha prometido exatamente o contrário do que foi publicado, mas parece não ter tido força para prosseguir com o combate ao contrabando", disse Nogueira Batista, após participar de uma reunião do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) na manhã de segunda-feira, 3, para discutir o tema. "Nossa demanda é tão natural e óbvia - a igualdade nas condições de concorrência -, que tínhamos a certeza de que a ilegalidade seria combatida."
Em vez disso, diz ele, o governo legalizou práticas de comércio adotadas fora das regras tributárias. "Não consigo entender como um governo, ainda mais do PT, seja capaz do absurdo de legalizar o contrabando contra os interesses da indústria nacional", afirmou. "Estamos entre os maiores geradores de empregos formais do País, prezamos por garantir o respeito à formalização da produção e a todas as regras de combate ao trabalho irregular e à qualidade dos produtos."
Para Nogueira Batista, a portaria do governo não só vai contra essas práticas, como torna oficiais as importações que até então eram consideradas contrabando. Também estimula as vendas em plataformas como a Amazon, que até então recolhiam todos os tributos sobre qualquer compra, ao mesmo tempo em que reduz a arrecadação do próprio governo. Com a grita geral de todo o varejo, Haddad disse que a portaria trazia apenas os primeiros passos para a implementação do plano de conformidade para marketplaces internacionais e que alterações seriam feitos no futuro. Entidades varejistas estudam entrar na Justiça contra a portaria.
Nogueira Batista também disse estranhar que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) não tenha se posicionado em relação à política industrial errática do governo. "Por um lado, são dados subsídios a carros de classe média que parecem não ter efeito na produção, com ameaça de novas paralisações, sem ter a conta do retorno desse gasto", diz ele. "De outro, ao favorecer o contrabando, o governo prejudica a indústria têxtil. É coisa de maluco."
Josué Gomes da Silva, presidente da entidade, fez um acordo com o marketplace Shein no qual sua empresa, a Coteminas, será fornecedora de insumos a confecções locais. Procurada, a Fiesp não respondeu a pedidos de comentários até a publicação desta nota.
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