Nos rastros da saudade: um olhar sobre a Exposição de Miguel Teles no Museu Casa do Sertão
A entrada é gratuita e estará aberta à visitação até o fim de junho.
Saudações caatingueiras! Foi assim que começou o bate papo com Miguel Teles, autor da Exposição Tangerinos: rastros de bois, caminhos da saudade. O evento aconteceu no dia 28 de março, no Museu Casa do Sertão, e quem esteve lá ouviu Professor e Vaqueiro falarem no mesmo tom e bateu certo. Muita coisa poderia ser dita sobre a conversa que aconteceu no anexo Lucas da Feira, às margens da Avenida Transnordestina. Mas, quero tentar descrever as sensações e comportamentos das pessoas diante do acervo que reúne além de belas fotografias, uma coleção de chocalhos de bois, candeeiros, sela para cavalos, alpercatas de couro, cabaças e outros elementos que compõem a icônica e inconfundível identidade cultural sertaneja.
A sensação que se tem é que as pessoas estão hipnotizadas diante das instalações, iluminadas por luzes amarelas que insinuam os intensos raios solares tão comuns às regiões de caatinga. Realmente é bonito e impactante defrontar-se com aquelas peças porque elas relembram histórias que quase não se ouve mais contar, já que, atualmente, tanger boi é tarefa que se realiza montado até em motocicletas. Antigas histórias de gente que cruzava grandes distâncias país à dentro conduzindo rebanhos à base de muita coragem e na força do grito aboiador.
O exemplo que melhor caracteriza esse estado de quase hipnose de quem visita a Exposição é o Professor Ms. Valter Soares que, como um menino, encantado, aparece na fotografia concentrado enquanto lê as informações dispersas pela Sala Eurico Alves Boaventura. Além dele, estiveram presentes no evento e compuseram a mesa institucional o vaqueiro Ademário aboiador, o Professor Dr. Clóvis Ramaiana e o diretor da Biblioteca Central do Estado da Bahia, Marcos Viana. A atividade foi realizada pelo Curso de Especialização em História da Bahia da UEFS e, como revela a Professora Ms. e Orientadora do Autor/Expositor - Edicarla Marques - "a presente Exposição não é sobre gado, é sobre aquele sertanejo que é 'antes de tudo um forte' em suas fragilidades, medos, devaneios, enfim, em sua valentia e humanidade".
Embora ainda não seja comum, havendo muita resistência entre pesquisadora(e)s que acreditam e defendem que as pesquisas científicas e acadêmicas devem se distanciar, principalmente, das paixões, a abordagem realizada por Miguel Teles aponta o sentido contrário e não perde o rigor requerido. Isso mesmo: em uma típica tarde de outono, com chuva fina e fria, nos domínios de uma Universidade Pública, quem esteve lá irradiou-se com inúmeros sentimentos, desde a emoção emanada dos olhos de Miguel em contato com visitantes da Exposição, até o próprio subtítulo que nomeia sua obra: "caminhos da saudade".
E, se estamos aqui falando de transformações de perspectivas e de paradigmas conceituais, não poderia deixar de me incluir neste movimento, permitindo-me também ser acariciada por minhas próprias memórias para produzir esse texto; Caminhando pelos rastros de minha saudade é impossível retornar e pisar no campus da Universidade Estadual de Feira de Santana sem recordar que entre os módulos 3 e 4 havia uma casinha colorida, onde a música não parava de tocar... chamada de SENZALA Cultural, foi responsável pela formação de artistas, intelectuais e/ou, simplesmente, pela aglutinação de sujeitos com interesse em diálogos além do óbvio.
Apesar de ter sido fisicamente destruído, este espaço de resistência e partilhas viverá para sempre nos corações e mentes de quem experimentou o inebriante sabor dos encontros que só eram possíveis ali: Eu me incluo nesse bando! Pra você que está lendo esse texto, gostou das fotografias que contém nele e sentiu vontade de visitar a Exposição, saiba que a entrada é gratuita e que estará aberta à visitação até o fim de junho, tá?! É um programa atraente à todas as idades e como afirma Cristiano Cardoso, diretor do Museu Casa do Sertão, existem outras programações para o ano de 2023, a exemplo do Projeto Piano a 4 Artes, em parceria com o Colegiado de Música/UEFS;
Mas, aí já é assunto pra outra conversa…
Texto de Paloma Santana, Historiadora e Produtora Cultural
Comentários: 3
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.
Que texto delicado e lindo. Ao mesmo tempo que convida descreve tantas sensações que reforçam a vontade de conhecer a exposição. Parabéns a escritora pela sensibilidade e talento.
Passeei pela exposição através de suas palavras Paloma. A saudade realmente foi latente pra mim. Enquanto lia esse belo texto, minha memória foi trazendo as fotografias da época em que passava as férias com meu avô João Galo e belamente aboiava. Parabéns pelo texto convidativo a essa bela exposição.
Quanta sensibilidade da autora do texto. Parabéns, Paloma Santana.