Natural como a braçada para quem nada, foi escrever os primeiros versos. Molhou os pés na poesia e, na universidade, mergulhou mais fundo na prosa. "Na faculdade, comecei a participar de antologias, publicações dos diretórios acadêmicos, publicar meus textos em jornais... A partir daí, tomei gosto e descobri que tinha essa veia literária", conta o médico pediatra que divide o tempo entre cuidados com seus pequenos pacientes e os quase vinte livros que trata como filhos. "Não consigo viver sem escrita, sem literatura. A arte é necessária. Como bem diz Ferreira Gullar, a vida já não basta. É preciso escrever, criar, sonhar, ler...", convida.

De lá para cá, já deu vida a quase vinte obras, entre publicações autorais e participações em coletâneas. "São 8 livros solos, sendo três romances e os demais contos. Já participei de umas 15 antologias, tanto poéticas como de prosa", contabiliza o escritor que ainda encontra tempo para contribuir ativamente com conteúdos para revistas literárias como as da Academia Valenciana de Educação Letras e Artes (AVELA) e a Academia de Letras do Recôncavo (ALER).

Cem Anos de Solidão: maior obra do Realismo Fantástico

Confraria dos Afogados é o mais novo livro de contos do escritor baiano Alfredo Gonçalves, que navega pelo Realismo Fantástico, estilo literário que permite fazer do objeto ou acontecimento mais banal algo mágico, um lugar de transição entre a realidade e a fantasia. O gênero combina uma visão realista do mundo com elementos mágicos que são inseridos em cenários cotidianos. "A minha atração se justifica pela qualidade dos autores que representam o gênero. Gabriel García Marques, Jorge Luís Borges, Julio Cortázar, Alejo Carpentier. Quem sonha e escreve se encanta com esses absurdos, com o fantástico da literatura. Quem se envereda por isso não consegue mais sair", constata o autor.

Publicado em 1967, Cem Anos de Solidão é apontado como um dos maiores livros da literatura hispânica, assim como o expoente máximo do Realismo Mágico, como a escola literária é também batizada. A obra combina momentos históricos da Colômbia, acontecimentos cotidianos da família a eventos sobrenaturais: personagens que morrem e regressam à vida, reencarnação, esquecimento e insônia coletivos.

O escritor e jornalista Murilo Rubião (1916 — 1991) é reconhecido como introdutor do estilo no Brasil, mas o escritor baiano e amante do gênero reconhece vestígios em obras nacionais bem anteriores. "O próprio Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Bras Cubas, com a ideia de um morto narrar em primeira pessoa a história", defende o escritor que aponta O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, e Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, como outras fontes de inspiração. "São livros que marcaram muito minha vida".

Confraria dos Afogados é uma coletânea de contos dividida em duas partes. Na primeira, temas variados do realismo fantástico emergem em tom mais nostálgico. Na segunda parte, Valença e região do Baixo Sul são pano de fundo para inusitadas histórias, algumas mais picantes, outras folclóricas. "São historias que afloram do dia a dia das pessoas, das crendices, do disse me disse. O realismo fantástico permeia quase toda minha obra", conclui o escritor.