Participação de jovens no mundo do trabalho ainda não retornou ao patamar pré-pandemia

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Participação de jovens no mundo do trabalho ainda não retornou ao patamar pré-pandemia

Levantamento aponta que 4,6 milhões de jovens não estudam, nem trabalham.

Foto: Reprodução/ Instituto Aprender
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou dados inéditos onde aponta que os jovens entre 14 e 24 anos, que somam 34 milhões (17% da população brasileira), continuam lutando contra as consequências da pandemia.

Diante de barreiras estruturais profundas, como baixa escolaridade, alta informalidade e preconceitos relacionados a raça e gênero, a participação desses jovens no mercado de trabalho caiu de 52,7%, em 2019, para 50,5% no primeiro trimestre deste ano. Apesar de uma leve recuperação em estados como Goiás, Rio Grande do Sul e Paraná, os índices ainda não retornaram aos níveis pré-pandêmicos, mostrando um cenário de recuo significativo em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro.

Para Rodrigo Dib, superintendente Institucional e de Inovação do CIEE, os dados indicam que ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que os jovens brasileiros tenham oportunidades justas. A adoção de políticas inclusivas e a promoção de educação de qualidade são, segundo ele, algumas dessas medidas. "É essencial que as empresas vejam os estagiários não apenas como uma oportunidade de obter trabalho barato, mas como um investimento no desenvolvimento de futuros profissionais", afirma Dib.

Outro destaque do levantamento é que a maior parte das ocupações disponíveis para esses jovens envolve esforço físico intensivo, baixa remuneração e elevada informalidade. Em 2024, cerca de 45% dos jovens ocupados estão em situações informais, especialmente em setores como a agricultura e a construção civil.

"Os indicadores de informalidade são alarmantes, especialmente entre os mais jovens, que também são os mais vulneráveis no mercado de trabalho. Essa é uma grande preocupação para nós, especialmente quando consideramos os adolescentes, um público que requer proteção adicional no mundo do trabalho", destaca.

João Victor Motta, diretor do Departamento de Políticas de Trabalho para a Juventude do MTE. O cenário educacional é mais um motivo de preocupação. O levantamento do MTE revela que, entre os jovens ocupados, 23% das mulheres e 37% dos homens não concluíram o ensino médio.

Para Paula Montagner, subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, essa falta de qualificação faz com que aprendizes e estagiários - um público com grandes chances de inserção profissional _ acabem ocupando posições de baixa especialização técnica e com perspectivas limitadas de crescimento profissional.

Uma das soluções, diz Paula, seria criar políticas mais eficazes, que não apenas formalizem os vínculos empregatícios, mas que garantam seu desenvolvimento pessoal e profissional. "Precisamos que os jovens tenham acesso a empregos que não apenas sejam formalizados, mas também estejam conectados com a sua área de estudo, e ofereçam desenvolvimento de habilidades compatíveis com uma economia cada vez mais tecnológica", diz Paula.

Dentro deste cenário de evasão escolar, o levantamento aponta que o Brasil contabiliza 4,6 milhões de jovens que não estudam, não trabalham, nem procuram trabalho, sendo 65% mulheres, a maioria com filhos pequenos, e 68% negros. Outro dado alarmante indica que 3,2 milhões estão desocupados, ou seja, nem trabalham, nem estudam. As mulheres são a maioria dentro deste grupo e representam 51% deste contingente; sendo que 65% negros.

Os programas de aprendizagem no Brasil têm experimentado um crescimento expressivo, com o número de participantes de 14 a 24 anos dobrando desde 2011, alcançando 602 mil contratos ativos. No entanto, essa expansão ainda é insuficiente diante do tamanho da juventude brasileira e da necessidade de políticas públicas mais eficazes. Apesar de estarem em expansão e buscando uma melhor integração com o ensino técnico, os programas de aprendizagem e estágio atualmente beneficiam poucos jovens do país, evidenciando a necessidade de ampliação dessas iniciativas.

Além disso, a maioria desses aprendizes não concluiu o ensino médio, o que limita seu acesso a empregos mais qualificados. Em 2024, a maior parte das 17 ocupações principais para aprendizes, que representam 85% desse grupo, são em funções básicas e de baixa remuneração. Os dados, segundo João Victor Motta, reforçam a importância de transformar esses esforços para além dos números, em uma abordagem holística que busca integrar diversas políticas públicas.

"A aprendizagem é hoje a maior política pública de geração de emprego no país, unindo pilares como permanência estudantil, renda para as famílias e assistência social. Ela é essencial para a cidade brasileira, porque amarra várias necessidades públicas em uma única estratégia", afirma o diretor do MTE.

No caso dos estagiários, o número cresceu 37% de 2023 para 2024, chegando a 877 mil. Ainda assim, há uma alta parcela de estagiários que não tem suas informações coletadas, o que dificulta a análise do panorama nacional.

Para Dib, o trabalho conjunto é fundamental para mudar esse cenário. "O levantamento nos mostrou a necessidade urgente de unir setores e organizações. Não estamos avançando o suficiente individualmente. Precisamos de uma estratégia mais coesa e que alcance o país todo ", diz ele. 


Com informações da Revista Exame.

 

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