Participação popular deve ser ponto alto do 7 de Setembro
Protagonismo do povo e dos movimentos sociais é esperado na festa cívica este ano
Chegar cedo para conseguir o melhor lugar, ver de perto enormes tanques do exército, treinar para se apresentar de forma perfeita ou mesmo elaborar manifestos emocionantes e assertivos. Na próxima quinta-feira, 7 de setembro, é comemorada a Proclamação da Independência do Brasil e os desfiles - que acontecem em todo o país -, são o ponto alto das comemorações. Com a expectativa se a mudança de governo trará ares diferentes para o desfile em 2023, uma certeza existe: as manifestações cívicas, populares e sociais são essenciais em uma sociedade, e todas elas estarão presentes no próximo dia 7.
"Tenho boas lembranças do desfile. Minha mãe chegava bem cedinho para pegarmos sempre o melhor lugar e era uma emoção vê o tanque de guerra do exército, assim como todos os militares. Uma recordação que tenho forte também é das bandeiras que eles davam antigamente. Tenho essa lembrança de todo mundo balançando as bandeirinhas", recorda a advogada Cíntia Bispo Costa, que assiste ao desfile desde os quatro anos.
Cíntia admite que, hoje, a maior expectativa em ver o desfile vem da filha Carol, de 7 anos. "Ela tem total admiração por militares e vai toda uniformizada pro desfile. Inclusive, é um desejo dela para o futuro", conta a advogada, que acredita que o público deste ano pode ser maior que o do desfile de 2022. "Não acredito muito em grandes mudanças no desfile em si, mas talvez conte com um público maior. Achei o ano passado mais vazio, acredito que a associação do ex-presidente com os militares afetou diretamente na falta de público", reflete.
Exército
Organizado pelo Exército Brasileiro, o Desfile de 7 de Setembro de 2023 - que ainda não teve programação divulgada em Salvador -, será o primeiro após o governo de Jair Bolsonaro. Na capital baiana, o desfile tem início na Graça, percorre o Campo Grande, a Avenida Sete de Setembro e dispersa na Praça Castro Alves. O desfile é principalmente uma manifestação do orgulho cívico dos brasileiros que, seja pela entoação do hino ou por ver as cores da bandeira do Brasil pela cidade, costuma ter esse sentimento de amor à pátria aflorado.
"E isso é algo que nos falta muito, né? Ter bons governantes é bom, mas antes de qualquer coisa é preciso nos orgulhar do nosso país. Só assim estaremos dispostos a fazer o melhor por ele, remediando erros e tocando para frente o que deu certo", acredita o administrador Sérgio Carvalho, que assiste ao desfile quase todos os anos com a família. Em algumas dessas ocasiões, ele chegou a acompanhar a outra parte do evento, o Grito dos Excluídos, que se concentra em frente ao Teatro Castro Alves (TCA) e segue o mesmo caminho do desfile oficial quando ele se encerra, por volta das 12h.
"Sairmos depois deles é uma norma que criamos, pois nós respeitamos a manifestação deles, mas também queremos gritar o que quisermos", afirma um dos coordenadores do movimento, o Padre José Carlos Silva, coordenador das Pastorais Sociais da Arquidiocese de Salvador. O Grito dos Excluídos, que está em sua 29ª edição, é organizado pela Ação Social Arquidiocesana (ASA), e reúne inúmeros movimentos sociais e membros da sociedade civil que desejam se manifestar.
"Gritamos sobre a valorização da vida e sobre a esperança de um mundo melhor, enquanto incentivamos ações que mobilizem as pessoas para atuarem nas lutas locais. Acredito que o clima político favorece o Grito este ano, mas o real problema não é a política em geral, e sim a segurança, pois o Grito sempre provoca reações. Então sempre estamos dialogando e tomando muito cuidado para não termos problemas", explica o padre. Sempre se manifestando sob o tema 'Vida em Primeiro lugar!', o subtema do Grito em 2023 é: 'Você tem fome e sede de quê?'.
Coronel de infantaria, José Fernandes Carneiro dos Santos Filho é o comandante do Colégio Militar de Salvador (CMS) e afirma que o desfile é uma oportunidade para despertar ou consolidar importantes valores. "Esse é um atributo essencial para o desenvolvimento do patriotismo, espírito de corpo, companheirismo e espírito de cumprimento de missão. No ano passado ainda tivemos uma transição do período pandêmico, que acarretou restrição de efetivos. Este ano o Colégio Militar de Salvador vai para a avenida com força total", garante.
A participação dos estudantes no desfile é voluntária, mas a adesão beira a totalidade do efetivo, explica o Comandante. E eles pouco precisam de ensaios, pois o projeto pedagógico do CMS já inclui atividade cívico militar, então o aprendizado é contínuo. Entretanto, nenhum ensaio do mundo consegue afastar o nervosismo de desfilar para milhares de pessoas. Ainda mais quando é a primeira vez participando do desfile, como é o caso da Maria Luísa Sousa Coelho Santos de 11 anos, aluna do 6º ano e percussionista da banda do CMS.
"A parte que mais me deixa ansiosa é o Romper da Marcha, mas participar do desfile é a realização de um enorme sonho e espero que este ano muitas pessoas venham assistir. Por minha mãe ser militar, assisti aos desfiles desde pequena e lembro com precisão o de 2017, quando a acompanhei por todo o percurso", recorda Maria Luísa. Sua mãe, a suboficial da Força Aérea Brasileira (FAB) Cátia Cilene Sousa Coelho Santos, conta já ter passado por inúmeros desfiles, mas esse vai ser duplamente especial, pois ela irá desfilar não só com a Maria Luísa, mas também o filho de 16 anos, Adriano.
"Só tenho agradecimentos a Deus por me proporcionar tamanha felicidade de, como mulher negra, poder demonstrar para a Bahia o que aprendi e amo fazer: marchar com alegria e garbo representando a Força Aérea Brasileira", afirma a suboficial. E sua felicidade é mais do que bem compartilhada com o marido e industriário da Braskem, Robson Coelho Santos, que também assiste ao desfile desde criança. "Será o primeiro desfile em que estarão minha esposa, filho e filha juntos, então será realmente especial", afirma.
Independência
"A Independência do Brasil me ensina a importância de me tornar independente em várias coisas a cada ano que passa", afirma o aluno do 7º ano do CMS, Heitor de Magalhães Oliveira Sousa, de 13 anos. Foi em um 7 de setembro que Heitor ficou independente das rodinhas da bicicleta quando tinha cerca de seis anos e a cada treino para alcançar a cadência perfeita nos ensaios da banda do colégio, ele sente que se torna mais independente. "O desfile da Independência nos ensina a sermos independentes mesmo em pequenas coisas. Tudo isso é conquistar uma certa liberdade", afirma.
Este será o segundo ano em que Heitor será um participante do desfile e não um espectador. "Ano passado foi só emoção ao passar pelas ruas e pelo palanque oficial. Para este ano, estou ainda mais animado e preparado", garante. E quem bem entende dessa emoção é o sub-gerente Ítalo Rodrigo Freitas de Lacerda, que de 2001 até 2008 participou do desfile tocando percussão em bandas de fanfarras como a do Colégio Duque de Caxias (Liberdade) e a Integração da Bahia, de Simões Filho.
"Sempre ia ao desfile com meus pais, e eram momentos de alegria e euforia onde eu sequer pensava um dia fazer parte do desfile. A diferença é que de fora você sente seus olhos brilharem vendo cada detalhe da beleza do desfile e de dentro você faz os olhos dos outros brilharem. É um sentimento de dever, de representar nossa classe com arte e música. Hoje, infelizmente, não consigo assistir ao desfile por causa do trabalho, mas quando vejo ônibus com militares e escolas se preparando, sinto o clima. Acho tudo muito bonito", conta.
Celebrações ganharam força após a Primeira Guerra Mundial
Foi às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, no dia 7 de setembro de 1822 que o então príncipe regente do Brasil, Dom Pedro I, bradou por 'Independência ou morte'. Isso o tornou o primeiro imperador do Brasil e deu início a independência do país.
As celebrações em homenagem à data, a princípio, aconteciam de forma espontânea, principalmente a partir da Proclamação da República (15 de novembro de 1889) e ganhou ainda mais força nas décadas de 1920 e 1930, após a Primeira Guerra Mundial.
"Os acontecimentos do 7 de setembro de 1822 foi o pontapé inicial da independência brasileira, pois Portugal não aceitou assim tão fácil. De parte da Bahia até o Pará, houve uma resistência contínua", explica o empresário, jornalista e presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Joaci Góes. "Por isso que as batalhas que resultaram no 2 de julho de 1823 na Bahia, cerca de 10 meses depois do grito no Ipiranga, se tornaram fundamentais para que o território do Brasil não esteja dividido em cinco ou seis nações hoje", afirma o empresário.
Mas isso, de forma alguma, diminui a importância das festividades cívicas que acontecem na data. Joaci, inclusive, acredita que o desfile deva crescer ainda mais, principalmente através da juventude. "Acredito que este ano possa haver uma espécie de retomada do civismo progressista a partir da mudança de governo, mas a verdade é que é muito ruim envolver qualquer data cívica com política. O 7 de setembro é um desfile lindo e que tem tudo para crescer ainda mais, principalmente se levarmos em conta o quão forte o Desfile ao 2 de Julho cresceu também", reflete o presidente do IGHB.
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